Feito Cães & Gatos

Atrás de problemas?

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                        "Suportá-lo na luz era uma quimera crescente de anseio pelo desejo avassalador de abraçar sua escuridão"

─ Não precisava ter feito isso. Eu poderia trocar os sapatos.

Jason me colocou no chão com cuidado assim que nos encontrávamos no hall da pousada. Retirou a neve dos ombros, e lançou aquele sorrisinho presunçoso com suas covinhas joviais.

─ E estragar todo esse conto de fadas encantado? Hoje sou seu príncipe por um dia, é só pedir, e eu providencio.

Ele ainda continuava tentando. E eu gostava, me lembrava de uma versão minha mais jovem cheia de “testosterona” feminina.

─ Que tal sais de banho a luz de velas e um merlot Casa Blanca?

─ Não acho que temos algo assim aqui. Mas eu não subestimaria o chocolate quente de Clarisse. Ela tem um ingrediente especial pra coisa.

Jason ergueu a mão e passou pelo pescoço, como se cortasse uma linha dramática sobre ele enquanto lançava uma piscadela.

Dei risada.

─ Não sei o que é, mas com certeza já quero.

─ Ótimo! Vou trazer suas malas e vejo se encontro Clarisse. Fique à vontade para explorar.

Jason saiu marchando para fora. Me concentrei nos detalhes a minha volta. A pousada não estava nenhum pouco do mesmo jeito que eu lembrava. A última vez que pisei meus pés aqui, eu deveria ter pelo menos uns 7 anos. Embora a decoração rústica ainda estivesse presente, algo acolhedor e moderno havia crescido nesses anos.

─ Olá querida, perdoe-me por deixá-la esperando. Estamos com poucos funcionários. A neve este ano não facilitou muito.

Giro o rosto para a voz, encontrando um par de olhos acinzentados que combinavam perfeitamente com o cabelo do mesmo tom. O rosto com suas linhas finas carregando traços de uma vida de muitos sorrisos.

─ Não se desculpe. Entendo perfeitamente, por pouco eu nem teria chego à este lugar se não fosse pelo reboque.

A senhora doce abriu um sorriso cheio de vida.

─ Os homens Harrison são como o milagre de Natal. Aparecem quando mais precisamos.

Ela riu, e não pude deixar de acompanhar. Estranhamente, aquilo fazia sentido. Mesmo que eu não acreditasse nesse conto infantil.

─ Ainda bem que não estou na lista negra este ano.

─ E certamente ele guardou um presente ótimo também. Mas venha, venha se aquecer, sou Clarisse, a propósito.

Bingo!

─ Oh, então acho que acabo de receber o meu presente de Natal. Ouvi dizer que seu chocolate quente é muito famoso.

A risada calorosa que enchia a sala a qual estávamos, preenchia cada canto que estivesse vazio dentro de mim. E então, aquele sentimento de lar voltava.

─ Vou preparar um desses para você. E já trago a chave do seu quarto, apenas se acomode, está bem?

Assenti, me aconchegando no sofá vinho de veludo, coberto por uma manta de girassóis. A lareira em frente ao sofá renovava minhas forças, me trazendo coragem para enfrentar tudo o que estava esperando por mim lá fora ainda.

Fiquei tempo o bastante para descobrir que a pousada tão familiar estava sendo administrada por Clarisse e sua neta, Maude. Uma jovem adulta com gosto peculiar para uma coleção de borboletas. Mesmo que tivesse poucas segundo ela. Nada havia mudado de maneira drástica em JacksonVille, exceto que haviam novos abrigos para pessoas necessitadas durante a época glacial que fazia durante quase todo o ano.