CAPÍTULO TRÊS

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Isso sempre acontece. Sempre eu tenho alucinações com ele. Isso começou quando eu tinha quinze anos. Começou a vir como um turbilhão de coisas em minha mente. E essa merda não é fácil de sair de mim. Já tentei me acalmar ou parar de pensar, mesmo assim eu penso.

Ou eu sempre lembro daquele dia.

Para mim foi um dia de êxtase, senti algo com dez anos que eu nunca mais pensei em fazer. Estava confuso naquele dia, mas mesmo assim gostei, fiquei com um tipo de prazer, alegria talvez.

Não sei, mas senti algo.

Mas sempre que esses pensamentos vêm em minha cabeça, parece que vou morrer, comigo mesmo. Do nada ele aparece ou eu começo a pensar, e isso me mata de raiva.

Agora eu fico sempre atento pois sei que ele vai aparecer uma hora ou outra, ele sempre aparece. E sempre me lembra e me faz lembrar de tudo. Parece que ele estava lá quando coloquei a porra do veneno na cerveja dele, parece que ele me viu colocar e vigiava passo meu.

E isso me irrita.

Todos os momentos ele me acusa. Odeio meu pai desde aquele dia, e me sinto honrado em ter o matado.

Talvez seja estranho isso, mas eu anotei oque eu fiz. Como um diário, eu só tinha dez anos na época então acho que, era o provável a qualquer criança ter isso. Ter um diário para reclamar intensamente da vida ou dos pais. E eu tinha um. Mas o mais interessante era que eu não reclamava e nem anotava nada, eu o deixava parado e tomando poeira em cima da mesa do meu quarto.

Mas naquele dia, eu fiz questão de anotar aquilo.

Abro a porta do carro e me esqueço que tenho, que colocar o carro na garagem. Merda. Abro a porta de novo e entro no carro, aperto o botão para abrir. O portão se abre devagar e eu já estava mais calmo do que ele. Mas com raiva dele ser tão lento.

Entro com o carro e fecho o portão. Pego minhas coisas e fecho a porta do carro. Pego a chave do bolso, e abro a porta. O silêncio da minha casa me traz normalmente uma paz. Nunca trouxe alguém para cá. Fiquei o tempo inteiro sozinho, sem ninguém aqui. As vezes eu saia, mas passava dez segundos eu voltava, e as vezes eu marcava de ficar com alguma pessoa, mas eu nunca fazia sexo aqui. Preferia fazer em um hotel.

É engraçado o jeito

Que gosto de ficar sozinho.

Deixo a porta aberta e abro a janela. Coloco as coisas no sofá e vou direto para a geladeira. Pego uma lata de cerveja e vou até meu quarto. Coloco a cerveja na cabeceira da cama e abro o guarda-roupa e pego o meu diário. Está velho e sujo de poeira. A poeira não sai dele já fez parte da capa. Olho e jogo em cima da cama.

Me olho no espelho e tiro minha calça e minha blusa. Fecho a porta do quarto e ligo o ar-condicionado. Fico de cueca e me jogo na cama. Me estico para pegar a latinha de cerveja ao meu lado. Pego e seguro o diário, coloco ele em meu colo e abro a cerveja.

Bebo um pouco e abro o diário. Já na primeira página está a parte do dia “terrível”. Dou mais um gole e começo a ler.

QUERIDO DIÁRIO.

PAPAI SEMPRE DIZIA QUE ME AMAVA, E NUNCA PARAVA DE DIZER. EU TAMBÉM O AMAVA, E NUNCA PARAVA DE DIZER ISSO A ELE. MAS ALGUMA COISA FICAVA EM MINHA MENTE COMO...

ESQUECI A PALAVRA CERTA, ESTÁ NA PONTA DA LÍNGUA. A PROFESSORA ME DISSE ISSO HOJE.

AH SIM, É FIXADA. SIM. ALGUMA COISA FICA FIXADA EM MINHA MENTE. É RAIVA SINTO RAIVA DELE. E NÃO GOSTO DE TER RAIVA DELE, MAS EU TENHO. EU ODEIO QUANDO ELE BATE NA MINHA MAMÃE, SEMPRE ELE BATE NELA.

OBSESSÃO [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora