Saí por'ai p'ra encontrar um amigo
Alguém que pudesse prestar a atenção
No que eu digo e repito falando com o umbigo
N'as ruas que ando olhando p'ro chão
Mas não encontrai ninguém que eu pudesse falar
Assim de repente comecei a pensar
Sou uma guinada errada no rumo de um barco
Sou uma guinada contra o vento a soprar
Sou esse barco com um buraco no casco
Sou esse barco e pendo à naufragar
Saí por'ai, mas não encontrei o caminho
Nem mesmo as curvas que me fizessem voltar
Se eu estava descalço não senti o espinhos
Só parei quando meu pés começaram a sangrar
Mas não encontrei ninguém que pudesse ajudar
Assim de repente comesse a chorar
Sou uma nave em pane perdido no espaço
Sou uma nave em um vazio sideral
Sou esse espaço e me falta um pedaço
Sou esse espaço tão pequeno e banal
Saí por'ai tão calado e sozinho
Sem ter um cãozinho que viesse atrás
Se eu uso minha vida como pás de moinho
Talvez porque assim eu me sinto em paz
Mas não encontrei ninguém que pudesse entender
Assim de repente comecei a morrer
Como morre uma flor
N'uma tarde de outono
Secando em seu canteiro
Entregue ao abandono
Como morre um beija-flor
Sem flor para beijar
E que me mata de saudades
Até a primavera voltar