4

498 44 21
                                    

O dia seguinte, no final do dia, seria o dia da apresentação. Todos os 19 prisioneiros seriam apresentados ao Governador e seus diretores, em um agradável jantar.

Revirei os olhos. Seria tudo menos agradável.

Me mantive sentada na cadeira, enquanto Matt mexia no meu cabelo e Adele colocava várias coisas no meu rosto.

- Vamos fazer o que pediu. - Começou Matt. - Mas lembre-se que é um jantar, uma cerimónia, então tem de ser mais do que meramente ameaçadora.

Revirei os olhos, ganhando um som frustrado de Adele.

- Tanto faz. - Respondi.

Adele me olhou algumas vezes, parecendo nervosa, e eu suspirei.

- Fala. - Peguei ela de surpresa. - Sei que tem algo aí.

Adele mudou de cor, mas assentiu.

- É... Você matou mesmo aquele homem?

Mordi o interior da bochecha e depois apenas assenti.

Escutei Matt e Adele prenderem a respiração e depois, como se fosse perfeitamente normal, regressarem ao trabalho.

- Você e o Link, são os que o Governador quer ver mortos. - Disse Matt em um tom de voz baixo.

Franzi o cenho e girei, ignorando os protestos de Adele e encarando o rapaz.

- Link? - Perguntei.

Matt assentiu. - Mas não comenta nada sobre eu ter falado isso. - Ele continou mexendo no meu cabelo, como se estivessemos tendo uma conversa normal. - Me enviariam junto com você para essa ilha, se descobrissem.

Adele riu. - E você não duraria um dia.

Ergui as mãos. - Espera! Como você sabe disso? Duvido vocês terem acesso a essa informação.

Matt suspirou. - A gente escuta coisas. Além disso, com um crime como o dele, seria de esperar que esse fosse o desfecho. Só não sei como demorou tanto. - Matt deu de ombros. - E a gente viu ele quando chegámos.

Suspirei e sentei novamente na posição correta. Estavam se aproximando dias complicados. Mas pelo menos, eu não era o único alvo do Governador. Incrivelmente, isso não me fez sentir melhor.

Aquela informação ficou na minha mente durante todo o tempo que estive nas mãos daqueles dois, até que ambos saíram e me deixaram sozinha. Quando a porta abriu, para que eles saíssem, percebi a postura reta de Pierce do lado de fora. Ele sempre estava me vigiando.

Levantei e segui na direção da janela. Não conseguia ver toda a cidade, mas dava para ver uma parte. Era uma visão diferente daquela que eu tinha da minha cela, sem dúvida.

Escutei a porta abrindo e, algo mais, e girei, vendo o tal do Axel entrando, segurando dois sacos enormes, negros, de plástico, perfeitamente fechados e com o meu número na frente.

Ele ergueu o olhar e sorriu.

- Sou o Axel, seu estilista. Prazer em conhecer você, 307.

Franzi o cenho. - Vocês tratam sempre os prisioneiros de forma tão delicada?

Axel riu. - Não. Na verdade, queremos distância, mas somos pagos para esse serviço. - Colocou os sacos sobre o sofá e depois sorriu. - Além disso, eu soube que você nasceu no sul da cidade? - Colocou a mão no peito. - Eu também.

Ele era como um tiro de energia incrível. Parecia que nada seria capaz de pará-lo. Se mexia rápido, mas eficazmente, falava ainda mais rápido...

De repente, ele abriu um dos sacos, revelando algo que brilhava levemente, negro e de aspeto leve. Franzi o cenho. Que merda era aquela? Depois Axel tirou todo o plástico e revelou um vestido comprido, que parecia banhado com mil pequenas estrelas, com uma abertura lateral, sobre a perna direita, com um pequeno decote e alças grossas, que ficavam sobre os braços, ligeiramente abaixo dos ombros.

Me aproximei e toquei com as pontas dos dedos, sentindo que o tecido era incrivelmente macio.

- Eu pedi para ser ameaçadora.

Axel sorriu. - Querida, já olhou para você? Você é ameaçadora, com qualquer roupa que use. E acredite em mim, sua postura, sua expressão facial e a própria força que emana de você, fazem da sua pessoa, a mais ameaçadora de todo o grupo. - Ergueu um dedo de cada mão. - Mas! - Abriu o segundo saco. - Essa será a roupa que irá levar para a ilha.

Olhei aquele conjunto, que era bem mais o meu estilo. Jeans pretos, regata simples e igualmente negra, botas de aspeto confortável mas que pareciam durar uma vida e uma jaqueta de couro, negra. E, me surpreendendo, tinha dois coldres junto com a roupa.

Axel percebeu minha surpresa e deu de ombros. - Eles sempre deixam armas pela ilha.

Peguei um deles e fiquei olhando, a verdade cruel se abatendo sobre mim. Eu iria para aquela maldita ilha, e não havia nada que pudesse ser feito. Minhas esperanças em um milagre estavam, oficialmente, desfeitas. Eu iria morrer.

Aceitando esse facto, coloquei o coldre no lugar, respirei fundo, e olhei Axel, aceitando o facto de que, já que eram meus últimos três dias antes de morrer, seria melhor aproveitar cada momento. E se isso significasse irritar o Governador, melhor ainda. Ergui o queixo.

- É você quem vai me ajudar a colocar o vestido?

Axel sorriu e se aproximou. - Se tiver problemas com isso, posso sempre chamar a Adele. - Indicou o vestido. - Sabe que, com aquele corte, ele tem de ser usado sem sutiã.

Sorri e neguei. - Tudo bem. - Comecei a tirar a blusa, ficando em roupa íntima. - Serei um cadáver daqui a três dias.

Axel suspirou e depois se aproximou de mim, me segurando pelos ombros.

- Eu tenho medo de você. - Riu de nervoso. - Mas eu espero realmente, que você ganhe.

Sorri. - Vamos lá colocar esse vestido infernal.

Minutos depois, eu estava na frente de um espelho enorme, olhando a pessoa que me observava do outro lado. Era a mais elegante mulher que eu alguma vez vira, mas também a mais feroz. Seus olhos tinham uma maquiagem negra, esfumada, perfeitamente aplicada. Os lábios eram mais simples  apenas um pequeno brilho. O cabelo tinha ondas largas, e Matt colocara ele como se tivesse sido jogado para um lado só, e incrivelmente, ele se mantinha no lugar.

Mas o que chamava a atenção era o vestido. Ele se adaptava perfeitamente ao meu corpo, colado desde o peito até ás ancas, abrindo um pouco até o chão. A abertura sobre a perna era, na minha opinião, exagerada, mas tudo bem. Poderia aceitar. Axel me dera sapatos de salto, que complemetavam todo o conjunto, e três pulseiras, que usava no braço direito.

- Se não se sentir confortável com o salto, podemos...

Ergui a mão, silenciando ele. - Eu sei andar de salto. - Girei e olhei ele. - Obrigada pelo vestido.

Axel sorriu. - Eu sabia que você iria gostar. - Indicou a porta. - Posso chamar o soldado? Temos de ir.

Assenti ele abriu a porta, fazendo sinal para Pierce. Depois se despediu e saiu na direção do seu quarto.

Respirei fundo e percebi que o soldado se mantinha ali, de pé, me olhando. Seus olhos percorrendo cada centimetro de mim.

Sorri de lado. - Vai ficar me olhando?

Ele me olhou nos olhos. - Não. Mas você está diferente, 307.

Me aproximei. - Continuo a mesma. - Suspirei. - Irei algemada?

Ele negou. - Não, desde que não saia do meu lado.

Eu ri e saímos do quarto. - Isso é um convite, soldado Pierce?

Ele soltou um riso abafado pela máscara. - É claro que não.

Assenti. - Já percebeu que meu vestido combina com a sua armadura?

Pierce riu, sempre olhando em frente.

- Misericórdia.

Dead End: Sem Saída Onde histórias criam vida. Descubra agora