uma cor triste e solitária

nuvem branca

se eu tivesse que escrever outro poema sobre você, o chamaria de "nuvem branca", porque hoje eu estive sentada na porta de casa observando o céu na esperança de que essa nuvem aparecesse,

mas o dia continuava cinza.

lembrei então de quando a chuva era só um acontecimento lá fora, e a vida surgia entre as paredes do nosso quarto pintado de rosa enquanto dançavamos ao som da sua banda favorita.

Penso nos dias de inverno, nas chuvas fortes e nos dias em que dormimos debaixo das cobertas por conta do frio.

Penso nas noites quentes de verão, de quando eu e sua irmã conversávamos na sala. Eu tinha dezessete anos e nunca tinha sido tão feliz.

Amor é uma coisa que fica, não some assim do nada. Então como você fez querido, para me esquecer assim tão rápido?

Como você tirou as partes nossas que estavam no seu quarto, das paredes rosas, daquela rua na vila plácido e da linha do ônibus no terminal 14?

De que forma você clamuflou minha ausência? 

O que você disse pra sua irmã depois que eu fui embora, quando minha falta se tornou cômoda no seu peito e a luz que entrava pela janela parecia diferente.

Como você lidou com a gente e depois com a ausência de nós?

Porque eu sei que seu nome esteve queimando na minha pele por dias além daquelas noites frias na qual você me deixou.

E se você me deixasse permanecer um pouco mais do lado esquerdo da sua cama, aquele que fica ao lado da janela porque você não gostava de ser acordado pelo sol quando ele aparecia de manhã.

Se você me deixasse ficar com a parte bonita de nós, talvez eu pudesse ver com maturidade e entender que não é pela sua partida que as coisas ficam menos bonitas.

Porque eu ainda penso em nós  quando o céu está cinza demais. Se você tivesse me olhado, será que eu teria sentido o calor do sol?

Mas você é agora a memória do garoto de quem um dia me despedi.

E até que eu te esqueça, vou escrever todos os poemas do mundo para você.