As vinhas que apertam meu coração

Capítulo Único

O altruísmo é uma condenação para aqueles que o possuem.

Izuku Midoriya sempre esteve com Katsuki Bakugou. Por toda a sua vida muitas vezes ele se perguntou em que momento a admiração se transformou em paixão, que por sua vez se tornou um amor incondicional que o consumiu no final.

Ele pensou que o sentimento desapareceria quando eles foram para o ensino médio, mas a convivência os tornaram amigos novamente enquanto evoluíam em busca dos sonhos que os conduziam, e no final do terceiro ano Izuku se confessou.

Esse foi seu primeiro erro.

Por se deixar cegar pela felicidade dolorosa que coloriu teu mundo, que o alimentou com mentiras doces e viciantes. A mesma felicidade que o impediu de ver todos os erros que se seguiram. Foi assim que a sua tragédia começou, acreditar que seria o suficiente para Katsuki. Se iludir pensando que seria a sua mão que ele queria segurar, que era a sua risada que ele desejava. Por anos se convencendo que sua história juntos seria o bastante para fazê-lo ficar.

Ele devia saber que ele não era a primeira opção.

Izuku nunca foi bom o suficiente, porque isso mudaria agora?

Sua ingenuidade inocente não lhe permitiu ver as coisas como elas eram. Ele era apenas o substituto de outra pessoa. Alguém que tinha cabelos ruivos espetados e um sorriso fácil e contagiante e não os cachos verdes com sorriso tímido e uma constelação de sardas pintando o corpo.

Alguém que em tudo supera Izuku.

Embora, ele também não fosse um idiota. Quando Kaminari terminou com Kirishima, Katsuki foi o primeiro a aparecer ao seu lado, o consolando por horas e depois disso tudo começou. Ele adiou encontros para preparar o jantar para ele, cancelou o treinamento para poder passear com Kirishima, ignorou as mensagens de Izuku para passarem mais tempos juntos.

E Izuku entendeu.

No início ele teve raiva, queria gritar com Bakugou e soca-lo. Mas ele sabia que não poderia, Katsuki tinha sido um namorado maravilhoso, ele se importou mesmo que não o tivesse amado de verdade. Ele foi mais do que Izuku teria imaginado que merecia, ele o deixava deitar em seu ombro e o ouviu divagar sobre heróis por horas, segurou sua mão e acariciou seu cabelo enquanto beijava seu rosto sardento. Ele tinha sido perfeito.

Tão perfeito que Izuku se sentia inadequado e não merecedor.

Katsuki é o sol, alto e brilhante, enquanto Izuku é só uma das várias estrelas na galáxia.

Izuku o teve por dois anos. E agora ele estava sentado na cama olhando a foto dos dois exibida em seu papel de parede, e então ele chorou. Chorou por tudo o que ele alcançou nestes últimos dois anos e que estava vendo quebrar sem poder fazer nada. Chorou por ser covarde demais para pedir que Katsuki fique.

Ele continuou chorando por horas antes de finalmente perceber que ele se atrasaria pro trabalho, então ele parou.

Ele se arrumou, saiu e sorriu. Sorriu para seus colegas e namorado e continuou como se não tivesse nenhum problema. Como se ele não tivesse engasgado e perdido o fôlego dezenas de vezes com a sensação de vinhas pegajosas se enrolando em torno dos seus órgãos e apertando seu peito dolorosamente. Como se mais tarde naquele dia quando ele estivesse mais uma vez sozinho em casa ele não tossisse várias pétalas de Áster antes de jogá-las fora se certificando que não estaria a vista quando Katsuki voltasse.

Se ele voltasse.

Glossário:

Flores de Áster na mitologia grega, eram colocadas nos altares dos deuses. Por isso, indica sabedoria, valor, fé e devoção. Sua mensagem implícita é "cuide de você mesmo, por mim".