- VOCÊ ATIROU COMIGO NA FRENTE.
Ele berrava pro shopping inteiro ouvir, já não bastava a comoção dos tiros e do vidro da vitrine completamente esmerilhado, espalhado pelo corredor.
- Calma! - Ela gesticulava, tentando acalmar ele. - Calma! Respira!
Ela esticou os braços na direção dele, apoiando um de cada lado de seus ombros. Mantinha contato visual. Sabia como o ex era apavorado em qualquer situação de alarde, e nem imaginava como ele estava se sentindo depois de um tiro tão próximo.
- EU ESTAVA NA FRENTE DE-ELE.
Stenio rastejou até ajoelhar no chão. Tinha uma mão fechada com força, e a outra na cabeça, impactado. Heloísa foi descendo até a altura dele, tentando acalmar.
- Stenio, para! Respira! Respira! Você tá bem? Você machucou a mão? - Ela fez carinho de leve em cima do punho fechado com força. - Fala comigo! - Ela implorou.
- NÃO! - Ele relutou.
- Fala comigo! - A delegada insistiu.
- Não. - Ele se negou mais uma vez, fazendo um gesto com a mão esquerda, que estava livre, querendo que ela parasse de insistir.
Em sua cabeça, não conseguia acreditar que aquilo tudo estava acontecendo. Não naquele dia. Não quando estava tudo finalmente bem, depois de se livrar da máfia, do Moretti, de qualquer outra coisa que pudesse ficar no meio deles. Sempre tinha alguma coisa no meio dos planos que ele fazia, e isso o irritava profundamente. Stenio passava realmente muito tempo planejando tudo nos mínimos detalhes. Era extremamente romântico e sentia um prazer profundo em cuidar de tudo nos mínimos detalhes, em proporcionar as melhores experiências para ela. Depois de tanto tempo, idas e vindas, caos e calmaria, ele queria que tudo fosse perfeito. Tinha que ser perfeito dessa vez, nada podia dar errado. Não dessa vez.
Ele finalmente conseguiu encarar a mão do anel. Sabia que ele não tinha caído durante a confusão, porque tinha se apegado nele com toda sua força. Balançou a cabeça negativamente, extremamente chateado por ter sido pego. Ela já tinha perguntado na confusão o que ele estava fazendo ali, mas de tanta afobação ele preferiu gritar sobre como ela tinha atirado com ele tão próximo do alvo.
- Não era pra ser assim.. - A voz dele falhou, e ele notou que estava a ponto de chorar de tanta frustração. Ficou quieto, ainda balançando a cabeça negativamente.
- "Assim" o que? - Ela se preocupou, tentando entender, querendo ajudar. Seu coração se partia toda vez que ela notava o quanto ele ficava assustado nessas situações adversas, e o coitado estava sempre no lugar errado na hora errada, então isso acontecia com frequência. - Assim o que? - Repetiu, confusa.
Ele encarava o punho cerrado. Desviou o olhar para ela, franzindo o cenho, quase que como um pedido de desculpas por ter que contar pra ela daquele jeito. Stenio já tinha pensado em tudo, a levaria para um jantar romântico no restaurante em que haviam ido no primeiro encontro deles, há muitíssimo tempo. Ele tiraria o anel do paletó depois de dançarem lento alguma das canções que ele dedicava para ela depois de muito pensar na melodia e na letra, por fazerem com que ele se lembrasse dela. Iria fazer alguma piada sobre embarcar nessa uma terceira vez, e depois de rir ela iria perceber que ele estava falando sério. Stenio já tinha dado indícios de que queria voltar, de que não aguentava mais ficar solteiro. Cada dia mais ele se enfiava no antigo apartamento deles, atual apartamento dela. E Heloísa cada vez mais aceitava sua permanência, e passavam cada vez mais tempo juntos. Seria perfeito.
Ele relaxou o punho e foi abrindo os dedos lentamente. Os olhos de Helô estavam fixos nele, mas ao perceber um movimento adverso ao seu lado esquerdo, encarou a mão dele.
Encontrou um anel de ouro amarelo lindo, todo cravejado em diamantes. Era um anel de noivado.
Ele olhava para o anel, olhava ao redor.. Os pedaços vidro estilhaçados no chão, a polícia ao redor, pessoas assustadas. Ele iria chorar a qualquer momento, o pedido de casamento estava arruinado. Ok, aquele já era o terceiro pedido.. Mas ele contava com o fato de que o terceiro seria o último, então tudo tinha que ser impecável. Não conseguia parar de se apunhalar mentalmente, apesar de não ter tido culpa.