OLHARES

Capítulo 1

Era uma tarde um tanto fria de Outono. As folhas secas e laranjadas faziam parte da decoração externa do castelo. Era possível observar boa parte do terreno através das grandes vidraças milenares, traçadas por detalhes em ferro pintado de cor preta. Rústico.

Um rústico bom.

Não era novidade que Hermione amava Hogwarts em todos os seus detalhes. Porém, em meio à uma aula de Aritmância, em um momento em que a professora estava ausente, a bruxa tinha o olhar fixo para a paisagem. Ela notou que o inconfundível âmbar de seus olhos combinava perfeitamente com a paleta de cores da estação.

Sentada em uma das clássicas mesas acopladas de madeira fosca e escura, lá estava usando as cores da Grifinória. Sapatos lustrados, meias brancas até os joelhos, saia lápis, gravata dourada e vermelha perfeitamente alinhada e o suéter recatado. Pernas cruzadas e mãos descansando no colo.

Nada fora do habitual.

Sua pena repousava no tinteiro, sua folha de pergaminho já continha anotações organizadas em tópicos. 

— Ei, depois você pode me explicar? — a ruiva ao seu lado falou — Essa matéria queima meus miolos, você sabe. Não consegui nem fazer os exercícios da última semana.

Era Gina. Ela estava sendo a dupla de Hermione para a atual aula. Seus olhos azuis brilhantes a encararam de modo caloroso, como sempre foi.

— Com certeza, Ginny. — respondeu Hermione, com um sorriso singelo. — Que tal mais tarde quando estivermos no dormitório?

O brilho no sorriso da ruiva foi notável.   Seu rosto repleto de sardas e os característicos cabelos ardentes cor de fogo eram como um refúgio para Hermione. Sempre havia sido uma sensação de conforto estar ao lado da Weasley mais nova.

— Sim, sim! — Gina respondeu quase de imediato. — Você é um morango, Herms. — disse empolgada, balançando os ombros e, assim, retornou a conversar com as irmãs Patil que estavam sentadas mais a trás.

Hermione voltou a se concentrar no que havia em seu campo de visão. Dessa vez, não fixou seus olhos nos movimentos do Salgueido Lutador, mas sim no outro lado do classe. Alguém em específico.

Ela tossiu quando percebeu que também estava sendo encarada.

Olhos cinzentos e frios. Cabelos lisos e extremenante loiros ao ponto de se assemelharem a neve. Pele alva e sem um único arranhão, tendo contraste com as olheiras abaixo de seus olhos. Gelado. Verde e prata.

Era Malfoy.

Malfoy estava, surpreendentemente, interessado em observar a grifinória. Ele possuía uma mão apoiada no queixo, um anel prateado com o brasão dos Malfoy talhado ganhando ênfase em seus longos e finos dedos. Seu tronco estava incrivelmente ereto na cadeira. Uma postura perceptível. Completamente absorto ao ambiente ao seu redor.

Pansy Parkinsson estava o acompanhando. A morena tagalerava algo sobre esmeraldas e festas no salão comunal da Sonserina, seu cabelo curto e negro balançando ao vento. Malfoy a ignorava.

Suas cores pareciam se fundir. Âmbar no cinza, vermelho no verde.

Sua expressão não era de indiferença ou repulsa. Ele a fitava como se fosse um quebra cabeça. Um mistério que deveria ser desvendado. Nessa perspectiva, o loiro pegou uma de suas penas negras e caras, pingou-a no tinteiro e passou a escrever, cuidadosamente, em um pedaço de pergaminho. Seus dedos eram firmes e ágeis.

Não havia passado menos de um minuto até que o papel teletransportou-se na mesa de Hermione, em virtude de um feitiço não verbal do Sonserino.

Seus trêmulos dedos o pegaram, discretamente.

Sala precisa, às 23:30.

Compareça.

D.M

Objetivo e direto. Caligrafia perfeita. Um homem de poucas palavras.

Ela apenas conseguiu retornar o olhar para ele. Entretanto, ele já se concentrava em sua mesa, parecendo pensar sobre inúmeros aspectos.

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Obrigada por ler.

azy-cattleya, 2023.