3. Rebanho

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OS MAROTOS: O LIVRO DAS SOMBRAS

CAPÍTULO 3

REBANHO

(...) Will you take the pain
I will give to you?
Again and again
And will you return it?

(Strangelove - Friendly Fires and Bat for Lashes)

1975

No quarto ano, Remus amava Sirius e James como se ama quando muito jovem.

Amava-os como se ama o céu azul e claro, após dias infinitos de nuvens cinzentas passivo-agressivas. Como se ama a gordura vegetal do chocolate derretendo na boca. O próprio quarto. Os pensamentos. Os cheiros. Amava-os como amigos se amam, sem a obrigação de fazê-lo e por isso mesmo, fazendo-o perdidamente.

Mas, acima de tudo, Remus amava Black e Potter tais quais meninas ou meninos apaixonados amam e era aí que as coisas se complicavam.

Remus não estava sozinho em sua complicação juvenil e contraditória. Afinal, era comum em Hogwarts, os colegas olharem Black e Potter disfarçadamente por detrás de seus livros na Sala Comunal e permanecerem apaixonados por estações inteiras.

Sirius possuía aquela ferocidade em cada traço de seu rosto e uma elegância que o acompanhava tal qual a sua sombra aonde quer que fosse, alternando esse estado com a aristocracia comedida assimilada e a rebeldia aprendida.

E quanto a James... Bem, James exibia uma beleza mais enigmática. Esta não se apresentava arrebatadora, tal qual a de Sirius, mas sim, exibia-se contida, encantando a todos com uma serenidade adorável ou apenas fingindo ser passiva para no fim de tudo, conquistar também aqueles que cedessem aos seus sigilosos apelos, engolindo-os.

Pensando bem, James possuía um jeito de olhar que parecia sempre ter um passo adiante e, estando à frente, ele tinha a todos na palma de sua mão.

Potter e Black eram os espíritos de Hogwarts no início de 1975 e por vários alunos eram bajulados. Os dois eram os garotos populares que as fantasias juvenis criam dentro de internatos de leitos frios.

Remus, como amigo, estava muito próximo das duas forças da natureza Black e Potter. O fato de Sirius e de James se desenvolverem naquele ecossistema escolar como ídolos enquanto ele e Pettigrew se mantinham sendo extremamente comuns e invisíveis para muitos, era só um detalhe.

No final do dia, como bons companheiros, eles tomavam uma cerveja amanteigada juntos na Sala Comunal da Grifinória, balanceando rótulos que, na verdade, eram detalhes. Meros detalhes!

Então, por que da metade do quarto ano para cá Remus vinha se sentindo deixado um pouco de lado, como se sentira na vez em que achara que os amigos haviam partido do Expresso para o Castelo sem ele?

Não que Remus achasse que tinha o direito de interferir naquela popularidade ao redor de Sirius e de James e, tampouco, alimentava esperanças de que Black sentisse correspondência por seu amor secreto e, muito menos, que Potter exprimisse também uma atração camuflada por ele. Nada disso.

Mas já fazia um tempo que Lupin vinha perdendo os seus amigos. E como sempre, de tempos em tempos, quando essa sensação o assolava, ele se esforçava um pouco mais nos estudos, mergulhando em seu mundo intelectual de fórmulas e lógica para não pensar tanto no universo de popularidade e valores.

Os Marotos: O Livro das Sombras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora