High infidelity

Parte 1

Soraya Thronicke andava radiante pelos corredores do senado federal, após dez longos dias deitada em uma cama de hospital e dois  em seu próprio apartamento, finalmente havia recebido a tão sonhada liberação médica para fazer o que ela mais amava: Trabalhar pelo seu país. 

Chegou por volta das nove horas da manhã, usando o elevador de uso exclusivo dos senadores, gravou um curto vídeo para informar seus seguidores nas redes sociais de que tinha voltado as suas atividades, e, principalmente, agradecer pelo carinho que vinha recebendo desde a sua internação, por mais que tenha sido difícil tudo o que havia passado, saber que existiam pessoas que torciam pela sua melhora, enchia o seu coraçãozinho de amor. 

Vídeo postado, ela não tardou em ir para a sala onde eram realizadas as sessões da Comissão de Assuntos Sociais. Seu primeiro compromisso dos muitos que ainda teria naquele dia. Dez minutos de atraso, o primeiro item da pauta estava sendo apreciado, um PL sobre tornar o mês de abril como o da conscientização da doença de Parkinson. O presidente da CAS, Humberto Costa a saudou em sua fala, em nome de todos os membros ali presentes, ressaltando o quanto ele havia ficado feliz com a sua melhora. Os demais senadores também a cumprimentaram, foi agraciada com muitos apertos de mão, abraços e beijos.

 O próximo item seria a respeito da fixação de painéis antidrogas nas escolas, da relatoria da senadora Damares, que graças a Deus não estava presente, então foi lido pela Zenaide, colega da bancada feminina. O assunto trouxe à tona uma discussão acalorada, por ser um tema bastante polêmico, os parlamentares estavam tendo dificuldade em assimilar o que seria englobado como "drogas" dentro do PL. Soraya percebeu o burburinho, mas estava concentrada em seus próprios papéis para expor sua opinião naquela situação, se limitou a concordar com a Zenaide, que é formada em medicina, e tinha mais propriedade para falar do assunto. 

Quase meia hora depois, finalmente havia chegado a sua vez. O último item da comissão, um projeto de lei terminativo sobre a licença maternidade para atletas profissionais, de autoria do senador Romário, no qual Soraya era a relatora. 

— Concedo a palavra à senadora Soraya Thronicke, para a leitura do relatório. — A voz do presidente soou no ambiente dando a ela a oportunidade para que desse início a sua fala.

— Bom dia senhor presidente, caros colegas, servidores, bom dia a todos que nos acompanham aqui.  — A loira cumprimentou, começou agradecendo as palavras de apoio que recebeu e contando como foram seus últimos dias, fez um agradecimento especial a médica chefe da UTI e a imunologista que cuidaram do seu caso durante o tempo que havia passado hospitalizada no DF Star. Depois, leu as páginas que tinha em mãos. — Imagina o que essas atletas não passaram em suas gravidezes, enfim, então é pela aprovação, obrigada. — Ela terminou, dando seu parecer favorável ao projeto. 

A PL 229/2022 nada mais era do que uma ressalva para que o direito das atletas em relação a licença maternidade, fossem respeitados. Embora estivesse claro na lei que todas as mulheres tenham esse direito assegurado, as atletas ainda encontravam dificuldades em o terem cumprido por questões contratuais que por muitas das vezes se aproveitavam das lacunas e a ambiguidade da lei para burlá-la. Para Soraya, uma pessoa formada em direito, que conhecia a constituição com a palma da mão, aquilo era inadmissível, como pode terem que elaborar uma PL com foco nas atletas, sendo que já existia uma lei anterior dando esse direito a todas as mulheres? Uma grande palhaçada. Não que seja uma novidade no país em que vivemos. 

A votação foi nominal e ocorreu sem manifestações contrárias ao projeto, uma dor de cabeça a menos. Ela saiu da comissão com um sorriso de satisfação, por ter a sensação de dever cumprido. 

Eram onze horas da manhã quando a senadora foi para o prédio da Esplanada dos Ministérios, onde teria uma reunião da bancada federal do Mato Grosso do Sul junto com o Ministro das Cidades. Ela entrou no local na mesma hora que o Governador do estado, Eduardo Riedel, que vinha acompanhando de sua comitiva, entre eles o também Eduardo, só que Rocha, secretário da Casa Civil, também conhecido por ser marido de Simone Tebet.