1. Arthur

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Enquanto seus dedos pressionavam o volante e ele encarava a estrada a sua frente, Arthur observa a tempestade que se aproxima. Uma nuvem escura e pesada paira sobre o horizonte, contrastando com o azul intenso do céu. Relâmpagos iluminam a escuridão, criando um espetáculo de luz e sombra. A chuva torrencial parece um véu translúcido, que cobre tudo o que há embaixo. É quase impossível distinguir o que está a frente dele, porém, é bem possível sentir a rodovia mal cuidada e esburacada, quando ele atravessa as correntes de ar instáveis que envolvem a tempestade. Mesmo que esteja seguro dentro do carro, ele sabe que a instabilidade está prestes a se tornar constante em sua vida. Contemplando a rodovia, ele lembra daquele telefonema.

- Arthur - disse a mãe, com sua voz trêmula. - Seu pai está piorando cada vez mais, meu filho. As crises estão cada vez mais fortes, e eu e sua irmã não estamos dando conta sozinhas. Não sabemos mais o que fazer, filho. Precisamos de você.

Aquela última frase não o pegara nem um pouco de surpresa. Arthur sempre foi o bote salva-vidas da família. Por várias vezes ele foi mais pai de seus pais e de sua irmã que os próprios, invertendo os papeis. Sentia-se muitas vezes sufocado pela constante necessidade dos pais de dependerem dele para tudo. 

O pai era um dos, senão o empresário mais rico de Santa Clara. Sua criação de gado beirava a perfeição. Miguel era um homem rígido que queria que tudo fosse conforme ele desejasse e que nunca demonstrara fraqueza nenhuma diante de seus funcionários. Já, diante da família, era impossível esconder seu alcoolismo. Sua criação não lhe deu abertura para demonstrar nem expressar seus sentimentos, tornando a ultima alternativa, afogá-los nos fundos de suas garrafas de whisky e de vodka. Maria, sua mãe, suportava tudo. Ela mesma havia tido uma criação bem semelhante, e tentara reproduzir tal criação com os filhos, Arhur e Sofia. 

O interessante é que apesar de todo esse histórico, Arthur e Sofia fugiram a regra. Arthur, 15 anos mais velho que Sofia, sempre guiou a irmã para que ela pudesse ser o mais autêntica possível, expressar o que tinha de melhor e ser quem quisesse ser. Não queria que a jovem irmã passasse pelo que ele passou. Que tivesse que amadurecer precocemente como ele, por necessidade de cuidar dos pais, que por vezes pareciam agir como duas crianças. 

Fazia quase um ano que se libertara. Quase um ano que, formado, decidira ir trabalhar numa firma em São Paulo. Claro que mantinha ainda contato com os pais, mas estar longe era fantástico. Tinha pena da irmã, Claro, mas do jeito que Sofia era esperta, logo estaria voando também.  

- Olha mãe, as coisas aqui no escritório tão bem complicadas. Vai ser difícil senão impossível sair daqui por enquanto. Será que a senhora não tá exagerando não? Segura as pontas aí, sei que vocês conseguem, vocês são incríveis. 

Olhando a nuvem escura e carregada ele sabia que aquela nuvem era uma representação do que ele estava prestes a encarar. Lembrou-se da mensagem enviada pela irmã pelo Whatsapp e sabia com certeza que a tempestade se aproximava, física e metaforicamente. 

 

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⏰ Última atualização: May 08, 2023 ⏰

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