Jogo sem fim

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     Meus dedos apertavam o botão velozmente, tentando fazer a bolinha amarela fugir dos fantasmas, alguém alcançou meu recorde semana passada no jogo do pac-man, algo que eu considerava impossível. 

     O som da música Never ending story alcançava meus ouvidos, me fazendo distrair por pouco mais que um milésimo de segundo. E foi o suficiente para me fazer perder. E De novo. Senti minha mão doer com o impacto do soco que dei na lateral da máquina do jogo, sentia meus norvos a flor da pele. Droga, não consigo passar dessa fase.

      Me recostei de costas à máquina, passando meus dedos pelo meu cabelo curto levando os para trás e senti o ar com cheiro de cachorro quente e pipoca fluir pras minhas narinas. Levei minhas mãos ao bolso da calça jeans e percebi que não tinha mais fichas. 

     — Sério Jake, tô te falando cara, eles instalaram um novo jogo aqui. Sabe aquela máquina que tava quebrada? Eles substituíram por um jogo mais moderno — um menino moreno de não mais de 14 anos passou pela minha frente conversando com o amigo enquanto enchia a boca de pipoca. 

     A comida desse lugar beirava ao deplorável, era espantoso vê-los comer com tanta vontade. Apenas segui meu caminho até o caixa que trocava dinheiro por fichas. 

     — Quantas fichas vai querer, querida? — perguntou a moça sorrindo gentilmente mascando um chiclete se debruçando sobre o balcão, seus cabelos cacheados caíam sobre seus ombros, e a cor loiro do cabelo dava um destaque a pinta em cima dos lábios. 

     Retribui o sorriso dizendo a ela o quanto queria,  o que eu achava que seria necessário para vencer meu oponente invisível. Paguei pelas fichas e andei de volta ao objeto de minhas frustrações respirando fundo, me acalmando.

     As paredes do lugar eram antigas, e enquanto me locomovia pelo lugar cheio de pessoas se esbarrando umas nas outras, meus pés me guiavam até o brinquedo. Botei as fichas na máquina e apertei o start, o jogo de perseguição começou.

     O pac corria dos fantasmas, e eu aposto que se tivesse coração, o seu estaria acelerado, seu cérebro estaria paralizado de terror enquanto corria por sua vida. Um fantasma se foi, o azul. Mais três mortos, e eu estaria segura. 

     A adrenalina me fazia me sentir ansiosa, com medo de perder, com medo de errar, de não ser boa o bastante para conseguir ultrapassar meu adversário invisível, que provavelmente estava debochando da minha cara agora por tentar vencê-lo. 

     O jogo parecia não ter fim enquanto eu locomovia o pac através dos botões.

     Outra música começou a tocar, Beat It, um clássico da década de 80, mas isso não me afetou, não dessa vez. Apenas continei fugindo e enquanto o último fantasma ia morrer, um esbarrão me fez desequilibrar, fazendo minhas mãos saírem do painel. 

     Eu sabia que havia perdido, o som do pac morrendo me fez levantar os olhos pra saber quem por alguma razão havia me derrubado. E eu não acreditei quem eu vi diante de mim. Trevor Hunter, o capitão do time de futebol.

     — Desculpa moça, não foi intencional. Tropecei no meu cadarço e me dequilibrei. Eu sinto muitíssimo, deixa eu te ajudar a se levantar. 

     A aspereza de sua pele tocou a minha mão, suas mãos eram calejadas, pelo treino dos jogos. Seus cabelos loiros estavam penteados para o lado, mas mesmo assim ainda pareciam bagunçados, lhe proporcionando um certo estilo rebelde.

     — Não tem problema — declarei já de pé encarando seu rosto marcante. E foi difícil não sentir meu coração bater mais rápido que o normal. — Na verdade tem sim — murmurei em contradição ao que eu havia dito.

     — Você me fez perder o jogo, que eu estava a um passo de ganhar — continuei a falei inclinando minha cabeça de lado e o vi ficar vermelho, de vergonha talvez? Impossível, Hunter não era o tipo de cara que ficava vermelho, ele fazia os outros ficarem vermelho.

     Ele arregalou levemente os olhos, mirando o chão e passando a mão pela nuca.

     — Certo, você está certa Wilson, o que acha de eu pagar um lanche pelo meu erro,  e afinal, o que você estava jogando mesmo?

     E essa foi a minha vez de arregalar os olhos, tudo o que ele disse me impactou, ele sabia meu sobrenome? E ele me convidou pra pagar o lanche? Foi difícil não esconder o sorriso que se projetava no meu rosto. 

     As pessoas que zanzavam de um lado para o outro, o cheiro de comida mal feita e o som da música já não importavam mais. Sorri de canto e lhe contei: 

       — Pac-man, eu estava jogando Pac-man  — disse voltando a encarar a tela do jogo.  — Esse é o meu nome de usuário, LagoDrears5. E o seu qual é? 

      — Só conto se me prometer que vai aceitar meu pedido de te pagar um lanche pelo meu erro — ele falou chegando agora mais perto me fazendo encarar seus olhos verdes claros como a relva da manhã. 

     — Trato feito — concordei e acabei reparando que ele estava com o casaco do time da escola. 

     — Por favor, só não ria do meu nome de jogador. Meu último pedido — disse jogando as mãos para o ar como se se rendesse. 

      — Eu não prometo que eu não vá rir, sinto muito  — disse sendo sincera retribuindo seu sorriso brincalhão.

      — BatataZumbi19.

     Não ri, eu apenas fiquei confusa pela escolhe do nome.  — Ok, isso não tem nada de engraçado, mas é curioso a escolha de nome  — disse cruzando os braços, encostando meu quadril na máquina do fliperama. 

      — Uma história longa, mas se resume ao fato de a batata desse lugar ser horrível.

      — Meus Pac's! Sim, a comida daqui é horrível  — sussurrei enquanto olhava de relance para os lados. Logo senti uma empatia pelo garoto, se alguém concordava comigo que a única coisa ruim desse clube é a comida, Parabéns, você me tem como amiga.


     Fechei o diário de Amy, o colocando sobre a cômoda ao lado da minha cama.  Desliguei o abajur e me embrulhei. Trevor Hunter, não tenho a mínima ideia de quem é esse garoto. Mas uma coisa eu tenho certeza, amanhã vou a procura de informações dele.

    Não posso simplesmente considerar ele suspeito, preciso descobrir mais sobre os amigos de Amy e começar minha lista. E começar a descobrir mais sobre os suspeitos. Os suspeitos do desaparecimento da minha irmã,  de Amy. 

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⏰ Last updated: Jul 12, 2023 ⏰

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Meu querido LagoWhere stories live. Discover now