Prólogo

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     A criança estava carbonizada. O pequeno bebê havia morrido do pior jeito. Os pais e as duas meninas tinham saído vivos apesar de gravemente feridos. Um incêndio aconteceu naquela casa e as autoridades buscavam saber o que havia acontecido. 

Quero que me conte o que aconteceu, ok? Sei pelo o que você passou, mas queremos saber o que aconteceu  sussurrou a psicóloga para a criança tímida que desenhava em uma folha de papel. Os cabelos castanhos da garota contrastavam com seu tom de pele claro, o braço engessado estava amarrado em uma tipóia enquanto seu outro braço segurava o lápis de cor. 

     Já faziam quatro dias depois do incidente, a menina estava em um estado catatônico, não falava, nem comia, apenas desenhava. Sempre o mesmo desenho, uma casa de dois andares, pintada de lilás com um lindo jardim na frente. 

Amy, precisamos de sua ajuda! Ajude-nos a entender o que aconteceu minha lindinha — continuou a mulher loira tentando conversar com a criança — você pode me contar o que quiser, não precisa ter medo de nada. Você não gostaria de desabafar um pouco?

     Amy parou de pintar, ela sentia que as lágrimas viriam e não poderia controlá-las, não queria contar o que aconteceu, mas aquela mulher estava sendo tão gentil com ela, que a menina desabou em lágrimas, tentando conter os soluços. 

— Foi a mamãe, eu disse pra ela,  pra não colocar Mary tão perto da lareira, mas ela não me escutou. 

     A história se passava na cabeça de Amy, como em um roteiro de filme, tudo o que havia acontecido naquela fatídica escuridão. Era uma noite de verão, tranquila, onde a casa de alvenaria tinha um cheiro no ar de lar, de família. Tinha cheiro de chocolate quente e leite materno. A menina de cabelos castanhos brincava no chão com sua boneca, a mãe da casa andava de um lado para o outro com um bebê no colo.

     A lareira crepitava com o fogo que dançava lentamente aquecendo o berço da criança que estava perto, mantendo a pequena Mary aquecida.  A mulher de cabelos loiros escuros começou a pregar os olhos enquanto ainda balançava o nenêm, seus batimentos cardíacos diminuiam junto com sua respiração que se tornava regular. 

     De repente, quando ela parou os movimentos com os braços, Mary chorou e a mulher se assustou. Amy parou de brincar e olhou para a mãe que ingeria álcool, a bebida descia quente na garganta, fazendo a mãe acordar. Mas a bebida pareceu não ser o suficiente, o bebê foi deixado no berço mesmo a protestos com o choro. Amy voltou a brincar de costas e não achou estranho a o bebê ter parado de chorar. Nem quando sua mãe subiu para o quarto para pegar mais bebidas e apagou na cama. 

— Quando ela saiu da sala, eu acho que ela deixou a garrafa cair perto do berço... — e enquanto a menina narrava os acontencimentos, e a psicóloga anotava tudo naquela sala com ar infantil, decorado para trazer confortos as crianças com variados brinquedos e cores, a policia que investigava o caso relia o depoimento da filha e irmã mais velha. 

     Onde estava Emilly quando tudo aconteceu? A garota contou que estava na casa ao lado e que tinha passado na casa dos pais para pegar um travesseiro mas tudo estava bem quando ela saiu e relatou não ter ouvido choro de Mary, apenas que soube do que aconteceu quando o pai de sua amiga saiu da casa gritando sobre o incêndio. 

     Audrey e Paul  foram condenados. A mãe e o pai das crianças foram condenados por homicídio culposo, pegaram nove anos de  cadeia principalmente pela negligência com a bebê. 

     A perícia concluiu que Mary acabou tendo um desmaio provocado por sua condição de saúde complicada no coração, e que ao contato com a inalação da fumaça ela morreu, e acabou sendo esquecida na hora em que os bombeiros chegaram. 

     Os pais estavam dormindo, a mais velha estava na casa ao lado e a filha do meio subiu para o quarto depois de brincar e acabou adormecendo, achando que a mãe voltaria. O álcool foi um caminho para uma centelha de fogo.

     Naquela noite, com a morte da adorável Mary, um braseiro foi incendiado no coração de cada uma daquelas pessoas, marcando-as profundamente e traçando suas histórias com um peso que nunca poderiam se libertar. 

Meu querido LagoWhere stories live. Discover now