A Escolhida

Protetora

POV Flora

Hoje pela manhã tivemos uma aula verdadeiramente graciosa, essas pequenas mentes brilhantes absorvem com facilidade qualquer nova informação. Minhas amigas participaram da aula já que ficariam pelo castelo junto a mim, fizemos um momento do café e agora já entardeceu. No campo conversamos sobre os planos noturnos de cada uma enquanto a neblina começa a aparecer.

- Vamos até o armazém 7 – Cecília conta alegre.
- É claro que seu irmão estará lá – Meli se refere a mim.
- Ele sempre está, apenas eu preciso estar aqui – digo verdadeiramente cansada.
- Ora, por que não tenta sair pela noite?
- Meli, que maneira horrível de se aconselhar uma princesa – Cecília diz indignada e apenas dou risada.
- É o mesmo que desonrar o nome das mulheres da realeza – explico.
- Espero que isso mude algum dia, vocês também merecem um pouco de diversão – Cecília diz acariciando meu ombro com carinho.
- Também espero minha amiga – te devolvo um sorriso breve.

A tarde se passou com tranquilidade, as meninas partiram para a vila e eu me encontro completamente afundada na banheira esperando a sensação de adrenalina atingir meu corpo. Esvaziando todo o ar dos meus pulmões que agora ardem em busca de combustível mas a sensação é interrompida pela voz da minha doce ajudante na porta.

- Princesa? – ela diz na altura certa para que eu escute e no mesmo instante forço meu corpo a sair da água, puxando todo ar que consigo tentando normalizar a respiração.
- Princesa – ela chama pela segunda vez já que estive impossibilitada de respondê-la de primeira.
- Sim – respondo enquanto saio da banheira alcançando a toalha para me secar.
- O Rei pediu que lhe avisasse sobre a chegada do Marquês das Vilas Altairs – quase instantaneamente reviro os olhos.
- Agradeço, diga que desço em breve.

O Marquês se faz presente quase todas as sextas-feiras, me trazendo jóias e flores que não me deixam interessada. Meu pai me pede para que o dê uma chance pelo seu caráter confiável, seu título e boa reputação na cidade mas não temos absolutamente nenhuma combinação. Não quero me casar por título e sim por amor.

Passei alguns bons minutos lentos apenas secando meu cabelo para prendê-lo em um penteado básico. Volto para o quarto em busca de uma vestimenta adequada e vejo distante pela janela o brilho das vilas clareando a neblina dessa noite e a frase de Meli rodeia minha mente.

"Ora, por que não tenta sair pela noite?"

Volto a olhar pro armário procurando o que desejo mas logo escuto a mesma voz doce de antes avisar na porta que o Marquês teve um imprevisto e não pôde me aguardar. Comemoro internamente e apenas concordo em voz alta deixando claro que entendi, então caminho até a cama me sentando apenas com a toalha enrolada no corpo.

• Som: Pray For Me - The Weeknd, Kendrick Lamar •

"Ora, por que não tenta sair pela noite?"

Minha mente me sabota entregando com facilidade a imagem da caixa azul dentro do armário, caixa essa que guarda a máscara e as vestes escuras que criei nas aulas de costura quando acompanhei a criação da armadura dos guardas. A mesma sensação de adrenalina volta a invadir meu corpo apenas em ansiedade pelos pensamentos errados mas totalmente coerentes.

"Ora, por que não tenta sair pela noite?"

O castelo se torna um deserto durante a madrugada, os funcionários estão dormindo assim como meus pais. Apenas os soldados preenchem a segurança do local mas eu nasci presa aqui, sei de saídas que ninguém imagina e descobri quando queria brincar no lago atrás do castelo quando criança. Talvez sair pela noite não seja uma ideia tão ruim quando se tem um disfarce tão bom.