Noite

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POV Flora

Algumas semanas se passaram desde que visitei a vila, e a sensação é que variados acontecimentos ruins se desencadearam após isso. De certa maneira talvez seja um sentimento de culpa subconsciente, o fato de Ben estar sempre ao redor como se eu fosse agir de forma inconsequente novamente é uma junção de detalhes que me causam essa sensação ruim.

Ter seu rosto como uma pintura em minha mente antes de encontrá-la naquela cabana, foi definitivamente uma das vivências mais enlouquecedoras que tive. Eu vi seu rosto e não vi o caminho ser feito, apenas voltei a consciência quando a porta se abriu, mas como explicaria isso sem que transparecesse um conto infantil?

- Pai? – dou leves batidas na porta de seu escritório esperando que me atenda.
- Entre querida – escuto sua voz baixa.
- Poderia conversar comigo agora?
- Claro, o que aconteceu?
- Eu não sei – explico um pouco envergonhada e cansada enquanto me ajeito na poltrona – não estou me sentindo bem.
- Algo com sua saúde? podemos conversar com sua mãe – diz preocupado mas preciso interrompê-lo.
- Não é sobre isso, pai – passo as mãos no vestido com a intenção de me tranquilizar.
- Então o que houve, querida?
- As imagens voltaram – digo baixo.

Desde que me reconheço como um ser pensante, imagens desconexas surgem em minha mente. Lugares. Momentos. Horas. Animais. Pessoas.
E meu pai é o único que tem ciência desses acontecimentos, sempre esteve presente em cada detalhe da minha vida como um verdadeiro melhor amigo.

- Oh – Alexandro tenta transparecer calma enquanto volta a anotar palavras em um papel qualquer – o que viu?
- O rosto de Ben, mas não foi uma imagem sem significado.
- Querida, você passa a maior parte do tempo ao lado de Ben. Talvez a imagem dela em seus pensamentos seja algo banal por costume.
- Papai, eu estava deitada em minha cama quando a vi e quando recuperei a consciência estava na porta de sua casa – explico afoita.
- Flora tente esquecer isso, não deixe essas imagens interferirem sua vida novamente minha filha.
- Papai – Flora, esqueça isso – Alexandro da um fim na conversa sem arrogância.
- Só estou tentando te avisar que as coisas não estão normais comigo desde que Ben apareceu, mas o senhor não me escuta – digo me levantando verdadeiramente chateada.
- Flora – escuto sua voz mas já estou fora do escritório.

Por que tudo parece milhares de vezes mais difícil para minha vida do que a vida de Augusto? nesse instante ele adormece em seus aposentos sem incômodo pois passou o dia cuidando da cidade, explorando a liberdade, se divertindo com seus amigos como um bom herói de contos fantasiosos.

Sinto a presença de Ben em minhas costas mas sequer me importo, todas essas imagens, sensações, perseguições, azares estão torturando minha mente como se pudesse sentir tudo ao mesmo tempo. Alexandro disse certa vez que poderia ter herdado o sangue roxo de Bernardo, mas Augusto não. Enterramos esse assunto desde o trágico episódio em minha infância.

- Flora, por favor – Alexandro a chacoalhava pelos pequenos ombros rígidos e tensos.
Flora encontrou a gruta dos ancestrais, encantada foi levada pelas pedrarias rosadas mergulhando sem pensar duas vezes, mas as raizes firmes não permitiram que voltasse a superfície. Ben gritou por ajuda quando notou seu sumiço e por sorte Alexandro estava nas proximidades.

POV Ben

É a primeira vez que vejo Flora tão desestabilizada assim, não acho justo como Alexandro esconde a verdade mesmo tendo consciência que todos esses acontecimentos ruins são avisos. É como se Flora inconscientemente estivesse chamando pelos ancestrais, sua relação com a água é divina mas assustadora quando não consegue controlar.

Ela vai direto ao seu quarto, local onde passa a maior parte do dia. O que é estranho tendo em vista que antes adorava estar em todos os cantos do castelo. Caminho para fora até a árvore frente a janela dos seus aposentos, alguns galhos até se uniram com o concreto da sacada tornando um ambiente agradável, imagino.

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⏰ Última atualização: Jul 06, 2023 ⏰

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