Capítulo 8

156 12 5
                                    

  Quando Tobias acordou, temeu abrir os olhos. Primeiro notou a superfície sobre a qual seu corpo estava. Algo macio, com pequenas pontas que lhe espetavam a pele. O menino estava coberto com um tecido pesado e quente, e sua perna esquerda, a única parte do corpo descoberta, tremia violentamente evidenciando o frio que fazia no ambiente.

Reunindo coragem, Tobias abriu os olhos, mas foi como se não o tivesse feito. Estava uma escuridão completa. Sentou-se, se dando conta de que dormira em um colchão de palha, como os que a avó contava que dormia quando criança. Nunca havia ao menos visto um antes. Após alguns segundos, o menino lembrou-se do que havia antecedido seu sono, e orou para que estivesse apenas em seu quarto. Poderia até ter sido sequestrado, pensou ele, mas, por favor, me diga que tudo foi um sonho.

Logo notou uma pequena luz em um ponto do lugar. Uma luz amarela e minúscula, que serpenteava suspensa no ar. No momento em que tocou os pés no chão frio, sentiu o solo de terra e envergou o corpo, abafando a tosse que ameaçava anunciar sua presença a qualquer um que estivesse a alguns metros de distância. Engatinhando como um bebê, chegou até próximo da luz e a olhou atentamente. Tratava-se de uma chama de vela absolutamente normal. Tentou agarrar a vela, mas não havia nada abaixo do fogo. Nem dos lados, nem em cima. Tobias tratou logo de perceber isso.

Sim, a flama flutuava em pleno ar. O garoto sentou-se no chão, e arfou. Logo em seguida arrependeu-se, pois o fez alto demais. Olhando para a chama, notou que dois dedos a pegaram e a elevaram um pouco. Um rosto apareceu, o rosto de Gorgan.

— Tobias. — Ele disse somente isso.

Embora fosse praticamente da mesma altura do menino, Gorgan o pegou com os dois braços e o colocou novamente sobre o colchão. Tobias nem protestou, quão fraco estava. O homem estalou os dedos curtos, e a chama que já estava em uma de suas mãos subiu até o alto e aumentou de brilho, iluminando toda a casa. Era a casa de Gorgan, na qual Tobias estivera no dia anterior.

O homem colocou a mão sobre a testa de Tobias e sibilou.

— Acalme-se. Acalme-se. Tudo está bem. Ninguém vai te machucar.

— Por... — Tobias começou a falar, mas sua voz não tinha forças para proferir uma só palavra com clareza.

— Eu sei, eu sei. É difícil, muito difícil. Não é fácil encarar um mundo novo com naturalidade. Sempre esta mudança de ares provoca alguns efeitos colaterais.

Gorgan afastou-se e pegou uma caneca delicadamente, que estava sobre a mesa. Olhou o conteúdo e balançou a cabeça afirmativamente.

— Beba, criança, beba. Vai te fazer melhorar.

O garoto recusou virando o rosto, cerrando os lábios o mais forte que podia, mas as mãos grossas e hábeis de Gorgan empurraram o líquido para dentro da boca de Tobias à força.

O homem manteve-se ao lado de Tobias, acariciando sua cabeça suavemente. Em pouco tempo, ele começou a transpirar, e Gorgan o cobriu com o cobertor de lã quando o menino começou a tremer com o frio. Tobias sentiu ânsia de vômito diversas vezes, em tentativas vãs de colocar algo para fora. Arqueava o tronco e o pescoço, se contorcendo sob os lençóis. Não sentia dor, sentia um desconforto, um frio no corpo e um calor no rosto que era descomunal. Porém, ao contorcer-se, câimbras se espalharam pelo seu corpo e Tobias resmungava e gemia sem que nada passasse pela sua cabeça além de: Quando isso vai terminar?

Depois de alguns minutos, tudo clareou, e a luz natural invadiu a casa. Gorgan retirou o cobertor de cima do menino, encharcado. As roupas de Tobias estavam coladas em seu corpo, mas não sentia mais o desconforto e a indisposição de antes. Era como se tivesse acabado de acordar após uma noite de sono tranquilo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 21, 2015 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

O Inventor de MedosOnde histórias criam vida. Descubra agora