Now and Then

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Every now and then

You show me

That now and then

You care

Now and then

You love me

Now and then

Means everything to me

(Archive)



De volta para o presente.



Já estava claro.


Enid desistiu de dormir quando despertou pela terceira vez antes do seu alarme.


Naquela noite, o sono não chegou tão facilmente. Sua mente nublada pelo desassossego que a preocupação sempre lhe causou, infligindo inquietação em seu corpo, a fazendo mudar três mil vezes de posição para enfim chegar em nenhuma que agradasse. Para dormir, era preciso ficar quieta. Ela não conseguia.


Sabia que Wednesday dormiu pouco também, quase nada. Enid sentia seus olhos sobre ela durante toda a madrugada, assistindo sua figura aflita e provavelmente imaginando maneiras que poderia acalmá-la, mas optou pelo silêncio.


As coisas não estavam bem, obviamente. E Enid queria morrer por conta disso, cansada de estar mergulhada nesse mar de dúvidas sobre o que fazer, imersa em todos os acontecimentos da noite passada; em como seu comportamento tão violento, que ao mesmo tempo não sendo de sua índole, ainda sim pareceu algo tão mas tão libertador. Era aterrorizante admitir isso para si mesma, que seu lado animal caminhava junto com o seu humano, administrando sua raiva da maneira mais inapropriada possível, fazendo dela um ser primitivo e sem um pingo de racionalidade.


Ela seria assim dali para frente?


Enid enterrou seu rosto no travesseiro, uma ardência inflamando seu nariz e a acidez das lágrimas culminando em seus olhos.


Ouviu um barulho do outro lado do quarto; barulho de uma coberta e de pés contra o chão. Uma respiração bem fraca ao lado dela, sobre ela.


Teve que olhar, seu coração querendo pular da boca ao perceber que, claro, era Wednesday. Wednesday, tão quieta e observadora, assistindo seu sofrimento enquanto de pé, ao lado da sua cama. Dessa distância Enid não conseguia ver seu rosto, mas imaginava o que estava por lá.


Enid colocou as palmas contra o colchão e forçadamente levantou seu tronco, cada movimento inatural visando aliviar a lâmina gelada que estava enterrada em sua lombar, a dor lhe impedindo que esquecesse da noite de ontem. Sentou-se na cama com as pernas para fora dela, observando Wednesday observá-la. Se perguntou se também estava assombrada por tudo que disseram, por tudo que fizeram uma com a outra, por tudo que sentiram. As canelas da garota em pé encostaram nas suas, delicadamente. Enid suspirou. Estavam tão próximas, e a ansiedade conseguia estar ainda pior.


Depois de tanto tempo afastadas durante as férias, Enid se esqueceu que Wednesday costumava fazer isso. Em noites cheias de tormento na qual o choro a assombrava sem fim, Wednesday caminhava até sua cama e ali ficava, em pé e observando. Ela nunca dizia nada, também, era uma ação quieta, mas tão cheia de um sentimento que Enid nunca conseguiu desvendar. Era como se ela simplesmente doasse seu corpo para sua melancolia, deixando que Enid escolhesse sozinha o que faria dele, como o usaria. Como se Wednesday desligasse seu cérebro; como se desligasse aquela parte que odiava contato físico e virasse apenas algo inanimado; ainda sim humano, mas nem tanto.

Escapism. (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora