Conhecendo Artemis O'Donnell
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ANTES
Theresa costuma dizer que sempre foi uma figura pública.
Filha do governador de Nova York com uma miss americana, fez dela alguém que sempre esteve sob as luzes de holofotes. E ficou ainda em mais evidência quando ganhou o mesmo concurso de beleza que sua mãe ganhara anos antes. Desde então ela era figura presente nos tabloides e em capas de revistas — participara até do baile da Vogue no ano anterior.
Porém, o que ela nunca soube, era que inimigos de seu pai há muito buscavam uma maneira de atingir o democrata que estava prestes a se candidatar à presidência do país. E Thes se tornou esse objeto.
Foi quando Artemis O'Donnell — uma assassina de aluguel conhecida no submundo sob o pseudônimo de Viúva Negra — recebeu uma proposta milionária pela cabeça de Thes.
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Foi num dia comum, quando Thes cedera ao convite — lê-se ameaça — de seu melhor amigo e foi parar em uma boate de qualidade duvidosa. No Quenns ficavam as melhores-piores do estado — senão do país. Lucca tinha esse poder de levá-la para os lugares mais improváveis possíveis, talvez por isso que a amizade deles dera tão certo.
Na ocasião ela optara por um vestido curto preto que lhe caía sensualmente no corpo magro, os saltos de plataforma lhe faziam ficar quinze centímetros mais altas — e faziam a diferença nos seus 1,60 metro. Seus cabelos se moviam a cada passo seu e seu rosto fino carregava uma maquiagem pesada.
Thes se lembra do toque quente da brisa noturna de quando saiu do carro. Uma fila se formava na única entrada da boate. Ela suspirou, atravessando a rua até lá. Agradeceu aos céus quando avistou Luc prestes a entrar — apenas duas pessoas estavam na frente dele —, o black power era sua marca registrada, sempre bem cuidado; ele era baixo, assim como ela, pele negra e incríveis olhos verdes-metálicos, estes logo a encontraram e um sorriso se formou em seus lábios. Luc usava uma calça preta larga de cintura alta combinada com um cropped laranja de gola alta e manga longa, quando se aproximou mais, viu seus dedos cheios de anéis e suas unhas curtas pintadas de preto.
— Oi, vadia. Pensei que você fosse furar de novo — Luc falou, lhe abraçando.
— Já falei que foi sem querer.
— Sem querer eu nasci, amor, mas enfim…
Eles desfizeram o abraço, só tinha mais uma menina em sua frente agora.
Thes enfim notou o conjunto de cordões pendurados no pescoço do melhor amigo, eram pelo menos cinco além do inseparável pentagrama. Ela se lembra de ele o usar desde que se conheceram, há mais ou menos seis anos antes quando ainda estavam na universidade. Luc chegou em sua vida de repente, no terceiro dia de aula do primeiro ano do curso. Ele, um brasileiro recém-chegado em Nova York após conseguir uma bolsa na NYU para o curso de moda, ainda estava meio perdido e seu inglês não ajudava em muita coisa. Foi inevitável suas loucuras se juntarem e eles se tornarem os reis da turma daquele ano.
Agora, após tudo isso, a carreira de Luc estava tomando rumo após ele ser o responsável pelo vestido que Lady Gaga usara no Oscar's daquele ano. Thes gostava de saber que finalmente seu melhor amigo estava tendo o reconhecimento mais que merecido.
Eles entraram lado a lado na boate, a pista ainda estava quase vazia e não fizeram questão de ficar por ali. Caminharam até o bar montado em uma das extremidades, onde um trio de barman's estava disponível para o atendimento dos clientes.
Luc tomou a frente para fazer o pedido.
— Duas doses de tequila, querido. — A música ainda em um volume baixo permitia que ela ouvisse o que o melhor amigo dizia. O sorriso que ele abriu em direção ao barman – um homem branco que em muito ultrapassava a barreira dos 1,80 metro, cabelo em um corte militar e músculos marcados no uniforme – estava corregado de segundas, até terceiras e quartas, intenções. Fazer o quê se Luc flertava com qualquer ser que respirasse?
A bebida lhes foi servida em seguida e beberam ao mesmo tempo — com direito à contagem regressiva e tudo o mais —, Thes teve que segurar a respiração enquanto o líquido descia queimando em sua garganta. Ela odiava tequila, mas desconhecia maneira melhor de começar a noite.
Olhou para a pista de dança outra vez, mas, ao contrário de cinco minutos atrás, agora o espaço era ocupado por um grande e vasto grupo de corpos dançantes. A batida agora alta lhe preenchendo os ouvidos, sentiu uma vontade absurda de se misturar. Não demorou para se afastar de Luc, que continuava trocando flertes com o barman, logo seu corpo se movia ao som da melodia pulsante.
Thes perdeu a noção do tempo, só sentia o suor descer por sua pele. Quantas músicas se sucederam àquela primeira? Não fazia questão de saber. Por um breve momento, se lembrou do melhor amigo, mas no fundo sabia que ele estava seguro. Mesmo que estivesse aprontando alguma, Luc tinha esse poder.
Se esqueceu da existência dele cinco segundos depois quando seu olhar nublado encontrou uma mulher — que provavelmente teria mais ou menos a sua idade — mergulhada naquela música. Quem diria que encontraria tamanha beldade naquela boate de qualidade duvidosa no subúrbio de Nova York. O corpo robusto acompanhava os movimentos dos cabelos lisos pretos numa dança extremamente sensual. Quando Love on the brain se tornara tão erótica?
Naquele momento, Thes agradeceu aos deuses por sua bissexualidade. Tinha plena convicção de que ninguém resistiria à alguém como a mulher latina a poucos passos de si, e com ninguém ela se referia a si mesma.
Empurrada por uma força desconhecida, Thes caminhou até a dona de seus pensamentos mais pecaminosos com passos confiantes. Ela viu quando os olhos escuros pararam sobre si e o sorriso malicioso que se formou nos lábios da outra. Foram só oito segundo até que estivessem se beijando.
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SE ENTREGUE - [CONTO SÁFICO]
Short StoryPOR ENQUANTO, AINDA SÃO O AMOR DA VIDA UMA DA OUTRA. Quando Theresa conheceu Atemis foi impossível não se sentir atraída por ela; aconteceu aquilo que chamam de amor à primeira vista. Porém, o que Theresa não sabe é que a pessoa por quem se apaixono...