Rock and Love

Chesterfield

1

Nada se compara ao alívio que sinto ao sentar no sofá e tirar meus sapatos ao chegar em casa, depois de mais uma semana brutal na biblioteca. Mas, obviamente, a paz acaba assim que ouço meu celular vibrar. O alcanço na mesa de centro, e assim que olho para a tela, penso nas consequências de ignorar, mas sou vencida pelo cansaço e atendo. Me arrependo no instante em que ouço a voz de Debbie.
— Não me diga que está pensando em me deixar na mão, Liv. — diz ela, mas resolvo ignorar.
— Você sabe o que eu acho sobre essa sua história com Adrian. — respondo
— Eu sei, mas preciso falar com ele pessoalmente. E preciso fazer isso hoje, Liv. — diz ela sofregamente.
— Debbie, eu realmente preciso descansar. Sabe como tem sido difícil pra mim passar os dias naquele lugar. Preciso passar um tempo mofando no sofá, sabe? — digo da forma mais sofrida possível.
Eu trabalho em uma biblioteca antiga no centro de Sheffield já faz algum tempo. Ela é fantástica em muitos aspectos, mas o que me conquista é o acervo de obras de artes, que tem quadros maravilhosos de artistas desconhecidos. Gosto de admirá-los e imaginar o que poderia ter acontecido em alguns daqueles cenários. Eu amo trabalhar em meio a tudo isso, mas a existência de Elizabeth torna as coisas complicadas. Eu realmente entendo que a velhice é uma merda, mas ela deve me considerar culpada por isso, pois ela se diverte tornando meus dias tão infernais quanto os dela.
— Beth segue tão adorável como sempre? Avisa aquela velha, que eu ainda vou acabar com ela. — diz Debbie aos risos.
— Hoje ela passou a tarde conversando obscenidades com Mary. Enquanto a idiota aqui, ficou montando vitrine para a exposição da semana que vem.— digo irritada.
— Olive, isso não faz sentido nenhum pra mim. Sério. Você pode fazer qualquer coisa, por que se submete a isso?— pergunta ela.
— Eu amo o que faço Debora, e não vai ser uma velha coitada que vai me tirar isso. — respondo secamente.
— Tudo bem, Liv. Então vamos voltar do início. Você vai comigo na festa sim. Se arruma, eu vou passar aí em uma hora e não quero ouvir desculpas. — diz ela.
— Vamos fazer o seguinte, Debbie. Saímos amanhã. Você escolhe o lugar. É pegar ou largar.—
Eu espero que ela entenda, pois não aguento passar mais uma noite fora de casa.
Eu estava noiva de Bale há alguns meses, mas acabou. E sinceramente, tudo bem. Não que eu não me importasse, mas eu simplesmente fiz o que precisava ser feito.
Acontece que depois desse episódio, acabei mudando totalmente meus, digamos, hábitos. Passei a sair quase toda noite, às vezes para beber, às vezes para ficar com alguém, e foi, até ontem, emocionante pra mim. Mas hoje, enquanto catalogava livros, tomei a decisão de que iria mudar algumas coisas. Iria focar em mim e na minha escrita. Eu era uma escritora afinal de contas.
Estava pensando em passar a noite escrevendo, mas Debby sabe ser insuportável às vezes.
— Olha, vai ser uma festa tranquila, juro. Adrian disse que vai ter uma banda conceitual nova tocando, e eu sei que você vai adorar. Além do mais, vai ser em Chesterfield! — ela solta.
Apenas duas coisas me fariam sair de casa naquele momento, e Debbie sabia disso.
A primeira delas, é o fato de que sou obcecada por bandas conceituais, e não é por causa dos guitarristas gostosos, mas existe uma coisa na atmosfera dos shows que me satisfaz, me deixa viva. A segunda, é que amo festas em Chesterfield. É lá que estão as melhores festas underground da Inglaterra, e é sem dúvida, de uma delas que minha amiga está falando.
Chesterfield é uma cidade que fica ao sul daqui, e é em grande parte, muito parecida, com exceção às festas que acontecem nos antigos túneis de trem abandonados ao leste da cidade.
Debbie, é claro, nota que começo a entender onde ela quer chegar e emenda: — Sim, Liv. Vai ser nos túneis. E já adianto que vai ter caras gostosos, então eu se fosse você, colocaria minha roupa mais sexy e iria. — finaliza finalmente.
Começo a considerar a ideia, mas no fundo sei que vou voltar lá hoje de qualquer maneira, então decido acender um cigarro enquanto digo à Debbie: — Você é uma vaca manipuladora, mas sim, hoje nós definitivamente vamos ouvir um som e beijar umas bocas.