Dá licença? (Capítulo único)

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Eu escrevi essa one em forma de protesto contra o corte do beijo delas que aconteceu no dia 10. Eu nem vou me alongar falando disso porque a raiva vai subir de novo, mas quero deixar registrado que foi absurdo, que foi nojento e que a gente não merece (nunca mereceu) esse tipo de tratamento.

Enfim, isso aqui, pra mim, é o que nós (a gente e elas) merecíamos ter ganhado. Espero que vocês gostem <3





Clara gostava de muitas coisas a respeito de Helena. Gostava do som de sua risada. Gostava do brilho que se manifestava em seus olhos sempre que ela ria. Gostava de fazê-la rir. Gostava de seu sorriso largo. De seu ombro amigo. De sua voz sempre tão, mas tão doce. De seus sábios conselhos, que a faziam parecer mais velha do que ela de fato era. De suas palavras de afirmação que sempre tocavam tão fundo... Mas, se Clara tivesse que escolher apenas uma coisa, a coisa que ela mais gostava em Helena, a coisa que mais mexia com ela, a coisa que mais a arrepiava, que mais a emocionava, que mais a fazia vibrar, seria o fato de que Helena sempre, antes de tocá-la na hora de algum exercício ou alongamento, dizia-lhe dá licença. Assim, baixinho e devagarinho, como se não quisesse assustar um gato arisco, e com um nível de doçura que Clara não podia conceber.

Em suma, o que Clara mais gostava em Helena era o respeito que a mulher carregava dentro de si. Um respeito tanto por si mesma quanto pelas outras pessoas. Helena respeitava o corpo de Clara e também os sentimentos dela. E era precisamente isso que a diferenciava de tanta gente por aí. De Theo, principalmente.

Sempre que escutava essas duas palavrinhas, dá licença, escorregando tão maciamente por entre os lábios de Helena, Clara sentia uma vontade enorme de agradecê-la. Simplesmente por ela ser do jeito que era: tão gentil, tão delicada, tão respeitosa. Sentiu essa mesma vontade quando, após o dá licença de lei, os dedos da mais nova tocaram sua nuca para o alongamento de sua cervical.

— Pode abrir os olhos.

Depois que sentiu a suavidade dessa instrução preenchê-la por inteiro, Clara obedeceu. Encontrou, nos olhos castanhos e sem maquiagem de Helena, um aconchego tão grande que encheu seus próprios olhos de lágrimas. Teve a mais absoluta certeza de que aquela mulher jamais lhe faria mal algum. Porque não possuía nem sequer uma célula de maldade no corpo. Clara, então, levantou a mão esquerda e fez um vagaroso carinho naqueles cabelos curtos. Precisava deixar transbordar ao menos um pouco daquele afeto tão bonito que sentia por ela.

— Helena... — o nome dela saiu de si sem planejamento, cauteloso, rouco —, sabe que... desde que eu te roubei aquele beijo naquele bar... eu não paro de pensar em como seria sentir outro beijo seu. Mas um beijo diferente. Não um beijo roubado. Um beijo consentido. Eu... — deu uma risadinha — eu acho tão bonito quando 'cê me pede licença antes de me tocar pra me ajudar a alongar. E agora sou eu que quero te pedir licença. Pra te dar outro beijo. Você me dá licença?

Ouvir sua própria voz pedindo por consentimento fez Clara arrepiar-se ainda mais. Apenas agora ela percebia inteiramente a imensa dimensão da importância que a verbalização desse respeito tinha para ela. Os olhos de Helena, tão intimamente pousados nos dela, estavam agora cheios d'água, de constelações. A mais nova assentiu. E Clara sentiu o peito explodir antes mesmo de sentir os lábios dela sobre os seus outra vez. Apaixonou-se. Por ela. Por aquele consentir tão sutil e tão poderoso. Por aquela entrega. Apertou delicadamente os cabelos dela na mão esquerda, fechou os olhos e esperou que Helena descesse o tronco em sua direção.

Os lábios da mais nova deitaram-se sobre os de Clara, a princípio, temerosos. Literalmente tremiam. A mais velha segurou-lhe o rosto. Acariciou-lhe as bochechas, para acalmá-la, para dizer a ela que tinha certeza. Helena, então, foi abrindo a boca aos pouquinhos, pousando as mãos nas bochechas de Clara também. Devagarinho, iam aprendendo a beijar naquela posição. Aprendendo a beijar uma à outra. Suas línguas acariciavam-se com muito, muito cuidado. Tinham um receio enorme de que qualquer movimento brusco as arrancasse do céu.

Dá licença? (Clarena)Onde histórias criam vida. Descubra agora