Capítulo 3: As Garras da Resistência

6 0 0
                                    

A floresta estava inquieta. Yara podia sentir a mudança no ar e na agitação dos animais. A harmonia da selva que ela conhecia tão bem estava sendo perturbada. Não eram os sons naturais da vida na floresta que ela ouvia, mas o ruído estridente de máquinas e vozes humanas. Em sua mente, uma voz antiga, a voz de Tapi, sussurrava: "Quando o equilíbrio da floresta é perturbado, os guardiões devem agir."

Foi assim que ela se viu esgueirando-se pela folhagem, seguindo o barulho até chegar a uma clareira onde um grupo de homens desconhecidos trabalhavam. A presença humana era como uma chaga aberta na floresta.

Yara espiou os intrusos através de uma cortina de folhas verdes. Havia seis deles, todos sujos e cobertos de lama, o suor escorrendo de seus rostos enquanto manejavam suas ferramentas com mãos calejadas. Eles não eram como os Yarumãs. Seus corações não batiam em sintonia com a floresta. Eram estranhos, invasores.

Eles estavam cavando a terra, suas pás rasgando a terra úmida enquanto vasculhavam avidamente por algo. Yara podia ver a ganância brilhando em seus olhos quando um deles descobriu uma pepita brilhante. Ouro. Eles estavam profanando a floresta em busca de ouro.Yara sentiu um nó de repulsa em seu estômago. Esses homens não viam a floresta como ela via. Para eles, era apenas um recurso a ser explorado, uma mina de riquezas a ser saqueada sem pensar nas consequências. Eles não entendiam que a floresta era um ser vivo, uma entidade que merecia respeito.

Um dos garimpeiros, o maior deles, tinha uma cicatriz no rosto que lhe dava uma expressão permanentemente cruel. Ele gritou algo para os outros, apontando para um ponto mais adiante na floresta. Yara sentiu um arrepio de temor. Eles planejavam continuar, destruir mais da floresta.

Mas ela não deixaria. Ela era Yara, a guardiã da floresta. E estava na hora de fazer algo.

Yara se aproximou dos garimpeiros cautelosamente, cada passo dela em sintonia com os sons da floresta. A jaguatirica seguia ao seu lado, os olhos dela fixos nos invasores. Yara tocou o solo e fechou os olhos por um momento, buscando a sabedoria de seus antepassados.

Ela sentiu a presença deles, os espíritos dos Yarumãs que partiram antes dela. Eles sussurraram palavras de encorajamento e conselhos em sua mente, dizendo-lhe que a força deles estava com ela.

Com determinação renovada, Yara se levantou e enfrentou os garimpeiros. "Vocês não são bem-vindos aqui", ela gritou, sua voz carregada com o poder da floresta. "Esta terra é sagrada e vocês estão profanando-a com suas ações egoístas. Deixem este lugar!"

Os garimpeiros riram, ignorando suas palavras. Aquele com a cicatriz no rosto deu um passo à frente, balançando ameaçadoramente a pá na mão. "E o que você vai fazer para nos impedir, menina?"

Yara olhou para a jaguatirica, que assentiu. Juntas, elas avançaram. A jaguatirica saltou primeiro, suas garras afiadas e dentes encontrando a carne do homem com a cicatriz no rosto. Ele gritou de dor e caiu no chão.

Yara, com a força de seus antepassados fluindo por ela, lançou-se aos demais garimpeiros. Ela invocou a energia das plantas ao seu redor, criando vinhas que se enrolavam nos pés dos garimpeiros, derrubando-os e prendendo-os no lugar.

A luta foi intensa, mas breve. Os garimpeiros, despreparados para enfrentar a fúria da floresta e seus guardiões, foram rapidamente subjugados. Yara e a jaguatirica se posicionaram sobre eles, seus olhares penetrantes os advertindo a não tentarem nada."Vocês devem partir agora e nunca mais voltar", disse Yara. "A floresta não tolerará mais invasões."

Ela notou que o homem com a cicatriz no rosto segurava algo em suas mãos e enquanto Yara olhava para o objeto estranho na mão do garimpeiro, uma memória retornou a ela. Anos atrás, um grupo de ativistas de uma ONG ambiental tinha visitado a aldeia Yarumã para documentar o impacto do desmatamento na vida dos indígenas. Um deles, um jovem de cabelos claros chamado Daniel, havia se tornado amigo de Yara. Ele mostrou a ela uma série de objetos estranhos que trouxe de sua terra distante, um deles sendo um dispositivo retangular com uma tela brilhante – um telefone celular, como ele chamava.

Yara lembrava-se de Daniel explicando que o dispositivo era uma ferramenta poderosa, usada para se comunicar com pessoas distantes, para aprender sobre o mundo e para compartilhar informações. Ele mostrou a ela como funcionava, como podia tirar fotos e vídeos, como podia mostrar a ela imagens de lugares que ela nunca tinha visto antes.

Agora, olhando para o dispositivo na mão do garimpeiro, Yara reconheceu-o como sendo um desses "telefones celulares". Ela pegou o telefone com cuidado, os dedos traçando a superfície lisa e fria. Ela se lembrou de como Daniel havia mostrado a ela como deslizar o dedo pela tela, como tocar nos ícones para abrir diferentes programas. Seguindo sua memória, Yara encontrou uma série de mensagens trocadas entre o garimpeiro e um político corrupto.

As palavras eram estranhas para ela, cheias de termos e jargões que ela não entendia completamente. Mas o que ela entendeu foi o suficiente. Havia uma trama em andamento para explorar a floresta, para destruir seu lar sagrado. E esse homem, esse político, estava no coração disso. Yara olhou para a jaguatirica, seus olhos endurecendo com determinação. 

Foi nesse momento que Yara compreendeu que a batalha que enfrentava era muito maior do que imaginava. Ela estava lutando contra forças que se estendiam muito além da floresta. E ela estava pronta para enfrentá-las.


YARA - A guardiã da AmazôniaOnde histórias criam vida. Descubra agora