Capítulo 1 - Onde tudo começou...

16 2 0
                                    

Estava inegavelmente cansada.
Depois de passar o dia inteiro correndo para cima e para baixo na confeitaria tudo o que eu mais queria era tomar um banho e dormir. Estacionei meu carro na garagem, peguei minhas correspondências com o porteiro e fui para meu apartamento.

Quando entrei no apartamento, coloquei minha correspondência em cima da mesa e fui tomar um banho. Talvez isso ajudasse a tirar um pouco da tensão que sentia nos ombros. Aquele dia tinha sido uma loucura, a entrega que tínhamos que fazer para o evento de uma das empresas parceiras atrasou por causa do maldito trânsito de Nova Iorque e a tarde tinha se tornado uma verdadeira provação. No final tudo acabou bem e conseguimos terminar a noite de forma segura.

No momento não queria pensar em mais nada a não ser em sentar no sofá e reprisar a última temporada de America Ninja Warriors e talvez tomar uma cerveja. Já que nem sempre conseguia chegar em casa antes das dez da noite.

Saindo do banheiro fui para a cozinha pegar o um pouco de água e decido verificar as cartas em cima da mesa, provavelmente deveria ser mais daquelas ofertas de cartão de crédito e algumas contas para pagar.
Pego o maço e vou passando carta por carta, cartas do bancos, cartões como já imaginava, conta de luz e internet.
Então meu corpo inteiro travou ao ler em letras de tons azul, U.S. Certizenship and immigration services.
Uma carta do escritório de imigração, senti que minhas mãos tremiam em quanto soltava as outras correspondências na mesa e com cuidado abria o pedaço de papel com um mal pressentimento e o que estava escrito nela me deixa sem ar.
Era um pedido de retirada voluntária do país feito por um juiz da corte de imigração do estado de Nova Iorque, avisando que eu tinha exatamente 180 dias para deixar o país.

Não era americana, mais vivia nos Estados Unidos a mais ou menos 15 anos, era uma das beneficiárias do D.A.C.A ou Dreamers, um nome irônico dado a crianças que durante muito tempo só tinha isso, sonhos.
A lei tinha sido criada para beneficiar crianças que chegaram nos Estados Unidos antes de 2007 e fazendo com que elas tivessem a oportunidade de entrar em uma faculdade, trabalhar e ter um pouco mais de liberdade em solo americano, já que com isso poderíamos viver fora das Cidades Santuário sem precisar ter medo de ser deportado para um país em que provavelmente não conseguiria mais viver.

Porém agora a lei estava sofrendo algumas alterações e talvez já não ajudasse muitas pessoas. Antigamente fazer parte dessa lei meio que nos dava a segurança de nunca ser deportado. Agora com as mudanças tudo podia acontecer e uma carta igual a essa com o pedido de retirada voluntária poderia chegar para qualquer um se por um acaso o oficial de imigração considera-se que o caso não tivesse provas suficientes para levar adiante.

Agora entrar em um avião para voltar para o Brasil, não estava nos meus planos por pelo menos alguns anos. Não era como se detestasse meu país, mais depois de tanto tempo morando nos Estados Unidos, o Brasil era só o motivo de minhas saudades e de lembranças.

Não estava preparada para sair dali, era exatamente onde queria estar, era dona de uma das mais famosas confeitarias de Nova Iorque, com 2 lojas e era requisitada entre a elite de Manhattan. Ir para o Brasil era como aceitar a derrota.

Olhei para o relógio e vi que eram exatamente 10:41 da noite, o escritório do advogado já estava fechado a pelo menos umas 5 horas e provavelmente não abriria antes das 8 da manhã, teria de esperar até o dia seguinte.

Analisei minhas opções e decidi que era melhor ir dormir.
Eu deixei tudo em cima da mesa e derrotada fui dormir, aquele dia tinha sido como uma montanha russa e no momento não estava com ânimos para enfrentar outra.
Talvez pela manhã com a cabeça fria, conseguiria ser mais positiva e de alguma forma resolver isso.

Dormir se provou um problema maior do que imaginava, depois que me deitei na cama minha cabeça não parava de repetir as palavras da carta e só conseguia pensava em como era frustrante estar em um país por tanto tempo e depois que conquistou tudo simplesmente ter que ir embora.

Um Doce CasamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora