I. PRINCIPIUM

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- Alvorada -

Tudo começa pela fonte: o Orbis Psyche, uma grande estrutura dividida em camadas, um globo oco cujo centro abriga uma esfera radiante, o núcleo. Da primeira camada após o centro, colunas irregulares e pulsantes se projetam para as camadas mais externas enquanto se dispersam em fios luminosos e dão lugar a colunas regulares e estáticas. São quatro camadas no total.

O Orbis Psique é regido por uma entidade que se divide em três aspectos: Bestia, Unus e Ludex. O primeiro é o próprio núcleo, uma fonte de energia caótica, o segundo é o moderador, o todo, e o terceiro é o juiz, a voz da ordem e da lei.

Eu vi coisas e ouvi sons. Uma convergência estonteante de tempos e lugares distintos. Nomes, rostos, músicas, vários impulsos de um mundo chamado Terra que chegaram a mim. Toda uma experiência, isso foi o que me fez despertar.

Eu me materializei numa gruta, numa terra rodeada por uma grande e densa névoa. Assumi uma forma humanoide, minha face tinha aspecto de caveira - de uma coisa tão inata -, minha pele era dura, cinza e marcada por formas da natureza e grandes asas com membranas projetavam-se das minhas costas. A Prima Forma, o Draco. Minha pele depois amoleceu, minhas asas se recolheram e nas extremidades, o aspecto neutro foi levemente coberto pelo azul, a caveira deu lugar ao rosto de homem. Olhos escuros cujas íris são brilhantes anéis de âmbar e cabelo que parece um fragmento da noite.

Eu sou Lucius Draco Oniricus, um fabricador de figuras.

Em cima da gruta há dois ipês, o da direita morreu nos primeiros momentos em que eu saí da gruta, seu tronco agora é cinza e marcado por linhas de ouro, o da esquerda manteve-se.

Era uma manhã fresca quando definitivamente deixei a gruta, estava com vestes negras, meu manto apresentava - em branco - as mesmas marcas da minha pele. Conforme eu andava entre rocha, grama e terra, a névoa se dispersava. Parei no meio de uma região ampla, de minha boca tirei a primeira semente de edificação - um cristal negro com uma espécie de raiz azulada e brilhante dentro dele -, enterrei-a e me afastei, formou-se ali uma mansão inteira, chamei-a de Grisium.

No meio da Grisium há um jardim, no meio dele há uma macieira e um banco comprido. Perto das roseiras, num dos flancos, encontrei um esqueleto, um ser tão calmo, bem trajado e cortês, ele cuida do jardim e da mansão, seu nome é William. Meu amigo esquelético é um grande conselheiro. No jardim também encontrei uma harpia que viera para fazer uma saudação, seu nome é Augusto. Sentei-me voltado para a macieira e de costas para o salão principal, pude ver a cúpula no fundo do jardim. Logo apareceu um gato preto muito sagaz, ele me fez companhia, seu nome é Edgar. Pouco depois um cão amistoso de pelo escuro se juntou a nós, seu nome é Argos.

Entre as grandes paredes cinzas, azuis, pretas e marrons e permeadas por linhas douradas da Grisium, andei um pouco e pensei bastante. O dia passou rápido. O sol, que pela manhã se erguia sobre a ala oriental da Grisium, agora descia por de trás da ala ocidental. Lá fora, a névoa já sumira, eu via com clareza. A mansão fica no topo achatado de um corpo rochoso chamado Elevatum, que é parte de uma ilha em forma de chifre chamada Glora. Esse pedaço de terra solitário fica em meio a um enorme oceano: o Caeruleum Vasto. Tudo isso está num pequeno mundo: Gaius, que orbita uma estrela chamada Magnus e possui uma lua chamada Galileo. Existem outros seis planetas rondando Magnus: Alpha, a bala de prata; Beta, o laranja celeste; Miu, o irmão vermelho; Niu, o titã listrado; Sigma, o viajante dourado, e Ômega, o azul soturno. Os dois primeiros são anteriores a Gaius.

Lucius Oniricus - GenesisOnde histórias criam vida. Descubra agora