atractor de lorenz

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"O que você quer escrever pra mamãe?" Stênio perguntou pro menino que estava quase em cima dele.
Estavam os dois debruçados no chão, com folhas e muitos lapis de cor e canetinhas coloridas ao redor. O filho mais novo do casal tinha desenhado a mãe, o pai, a irmã e a sobrinha, do jeito que conseguiu.

"Quero escrever que ela é a melhor mamãe do mundo. E que eu amo ela assim", o menino de 4 anos escancarou os braços.

"Boa, filho. Ela vai amar." Stênio encorajou, escrevendo no desenho do menino tudo o que ele ditou.

"Papai coloca de: Romerinho para: minha gatinha, ta bom?" O menino pediu vendo o pai escrever na folha rabiscada e Stênio imediatamente riu.

"Não é melhor mamãe, filhão?" Stênio sugeriu.

"Mas você chama ela de minha gatinha, papai. Eu não posso chamar?" Ele perguntou confuso e um pouco triste, se justificando.
Stênio riu e agarrou o menino.

"Claro que pode, campeão. Te amo, filho."

"Ai papai. Para." O menino pediu se encolhendo pela pinicação da barba do mais velho.

"Ó, presta atenção no papai." O advogado pediu assim que terminou de escrever e viu os dois olhinhos de jabuticaba encarando ele. O advogado quis sorrir. Era quase impensável que casaria com Helô pela terceira vez e além de tudo, ter outro filho com ela. "Amanhã bem cedinho eu te chamo lá no seu quartinho pra gente ir acordar a mamãe com um café da manhã, pode ser?"

"A gente pode escrever lá na parede?" O menino perguntou animado.

"Podemos. O papai escreve antes de te acordar, tá bom?" Stênio sugeriu.

"Tá bom. Escreve que o Ro ama muito ela. E a mana também. " O mais novo pediu, levantando e se movendo rápido demais.

"Vou escrever, filho. Mas não pode contar contar sobre o presente que a gente comprou hoje, ta?"

"Mas a mamãe falou que não pode mentir." Ele disse confuso.

"Não é mentira, cocozinho. É surpresa. É diferente." Stênio disse fazendo cosquinhas no menino.

Romero era uma mistura tão perfeita de Stênio e Helô, quanto Drika. A maior diferença entre os dois, que Stênio conseguia comparar, era a personalidade.
Drika sempre foi energética, agitada. Romero era calmo e sensível. Contrapondo os dois, Drika era a cópia de Helô e Romero, a de Stênio.

Tinha dias que Stênio chegava mais tarde em casa e dava de cara com Romero na cama do casal dormindo no colo da mãe, com um bilhetinho deixado do lado em que o advogado dormia.

Na maioria das vezes tinha um "vim proteger a mamãe, papai. igual você faz", com a letra da esposa de Stênio e um rabisco cor de rosa, feita por Romero. Rosa era a cor favorita do menino.

Romero era muito independente e quase nunca dormia no meio do casal, mas tinha dias que simplesmente os dois precisavam arrastar o menino para o quarto deles pra dormirem com aquele cheirinho gostoso de bebê envolvendo eles.

Stênio e Helô gostam de aproveitar o máximo enquanto Romero ainda se deixava ser apertado. Eles sabiam que era uma fase que duraria muito menos do que eles gostariam.

"Quer tomar banho ou esperar a mamãe?" Stênio perguntou.

"Esperar a mamãe." O menino decidiu.

"Tá bom. Então vamos guardar os lápis e cartinha pra mamãe? Aí depois a gente come assistindo Ben 10." Stênio sugeriu e o menino prontamente começou a juntar as coisas, tendo a ajuda do pai.

Romero adorava desenhos e filmes no estilo Ben 10. O advogado temia que, para compensar a falta de conectividade com a personalidade de Helô, o menino seguisse o mesmo caminho que a mãe na profissão.
Não que fosse uma coisa ruim, mas com certeza, daqui alguns anos não teria mais coração para lidar com tudo o que a profissão implica, com seu filho correndo riscos.

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