Capítulo Um

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— Vai mesmo embora? — Emy pergunta enquanto se ajeita na cama.

— Eu tenho que ir. — respondo.

— É tão fácil me abandonar desse jeito? — ela pergunta. — Ir embora e me deixar para trás. — ela dá uma pausa.

A pausa dramática. Emy puxou todo o drama e manipulação de mamãe, desde suas pausas dramáticas, aos olhos de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança e até a facilidade de criar lágrimas de uma hora para a outra. E era desse jeito que ela sempre conseguiu tudo que queria, fazendo drama e manipulação.

— Nem é certeza que vaga é sua. — ela diz baixo.

— Não custa nada tentar Emily. — respondo olhando-a.

— Não me chame de Emily. — ela dá uma pausa. — Parece que está brava comigo.

— Mas não estou, meu bem. — suspiro fundo. — Eu sempre quis essa vaga e é uma ótima oportunidade para gente.

— Eu sei, Aryana. — ela se levanta. — Mas primeiro papai, depois mamãe e... agora você.

Foram anos difíceis. Os piores anos. Primeiro a morte de papai, depois mamãe decidiu ir a um retiro na Índia e nunca mais voltou. Só sobraram nós duas até alguns meses depois, quando fomos morar com vovó.

— Você não vai me perder. — me aproximo dela. — Me dê algumas semanas e depois virei te buscar, te prometo.

— Pelo mindinho? — ela ergue seu mindinho direito.

A nossa promessa de mindinho... uma vez aceita nunca mais será desfeita.

Eu sabia que era arriscado, eu realmente planejo buscar Emy em algumas semanas, se eu conseguir a vaga... se a vaga não for minha, eu não sei o que fazer. Essa é a nossa última chance de sair de Ancona.

— Pelo mindinho. — entrelaço nossos mindinhos.

Abraço minha irmã mais nova e dou um beijo no topo de sua cabeça. Estou indo atrás de uma chance melhor de vida, a oportunidade de dar aula numa das universidades mais antigas da Europa, e não é só por mim. Prometi a papai que iria cuidar de Emy até quando precisasse.

— Mas agora tenho que ir. — sussurro. — Meu ônibus parte daqui a duas horas, é melhor esperar lá do que esperar aqui e acabar perdendo.

— Dona Evelyn está vindo. — Emy me olha. — Ela disse que pode passar esse tempo aqui.

— Eu disse que você não ia ficar sozinha.

Termino de colocar minhas roupas na mala, será duas semanas em Macerata para me ajustar no trabalho e arrumar um lugar para ficar, depois volto para buscar minha irmã e então nossa nova vida começa longe daqui. Longe de toda e qualquer lembrança de mamãe.

Pego minha bolsa de mão com meus documentos, passagens, um mapa da cidade, carregador e fones de ouvido. Guardo um pouco de dinheiro na minha carteira, coloco meu cartão de crédito na capinha do celular e pego meu casaquinho preto que estava em cima da cadeira, em frente a penteadeira.

— Não vai ficar com frio só com esse casaquinho?

— Acho que não, antes de começar o outono volto para pegar minhas coisas. — respondo. — Não vai esfriar nesse finalzinho de verão.

— Certeza? — ela vai em direção da porta do quarto.

— Nunca fez frio no verão, meu amor. — digo.

— Vai chamar Zack para te levar na rodoviária? — ela pergunta.

Olho para Emy e não digo nada. Não havia contado a ninguém que estava indo embora, e só contei a Emy porque ela é minha irmã.

Estrelas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora