Se fosse um filme

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— MÃE, ESSE É O ULTIMO TREINO, NÃO POSSO ME ATRASAR! — David grita pela janela do carro, estava sentado no banco do passageiro calçando os sapatos cor de laranja assim como seu uniforme de animador de torcida recém tirado da secadora. Ele nunca foi um menino que se atrasa para compromissos, mas a semana anda bem agitada, últimos dias de aula, provas finais, passos para ensaiar e o famoso baile de formatura aguardado pelo mesmo desde o inicio do ano. Ele quase nunca cria os passos para o time, mas como co-capitão ele precisa aprende-los antes de todos e ajudar sua amiga a passá-los para a equipe.

Assim que termina de calçar os sapatos, Solange, sua mãe entra no carro fechando a porta e aprontando-se para dar partida no veiculo.

— Eu tenho que parar de mimar você sabia — a maior deposita a garrava de cha gelado que acabara de preparar para o garoto no porta copos — toma de vagar pra não precisar sair no meio do ensaio pra ir ao banheiro.

David sorriu, ele adorava quando sua mãe fazia coisas sem que pedisse mas que ela sabia que ele iria gostar, a relação deles sempre foi muito estável, Solange sabia como respeitar o espaço do filho sem perder a autoridade como mãe.

— Tudo sobre controle mamis, não vou beber tudo em um gole só, dois talvez que eu consiga.

David sempre foi muito bem humorado, e sempre tem uma resposta na ponta da lingua, habilidade adquirida na escola após passar anos escutando piadinhas sem graças pelos corredores.

Ja no ginásio da escola, David ja estava suado e cansado, a garrafa de chá tinha pouco mais de um gole restante, ele não precisou parar no meio do treino pra ir ao banheiro, mas não significa que ele não sentiu vontade, pelo contrário, ele ate sentiu, mas o ensaio estava em um ritimo  perfeito, não valia a pena interrompê-lo, então o garoto prendeu a bexiga por pelo menos uns quarenta minutos, ate que encerrassem de fato o último ensaio, que terminou pelo menos uns cinco minutos mais cedo, estavam todos bem concentrados, e nessa altura do campeonato, não estava difícil de pegar e acompanhar cada passo.

Mas assim que o sangue esfriou, David sentiu seu corpo sendo tomado por uma vontade incontrolável de fazer xixi, ou ele corria direto pro banheiro mais proximo, ou ele fazia nas calças.

— MEU DEUS — o garoto se exalta ao levantar do chão — EU NÃO DEVERIA TER BEBIDO TANTO CHÁ!

Os colegas que estavam com ele riram ao ver o garoto disparar em direção ao banheiro do ginásio, deixando pra trás suas coisas inclusive seu celular que estava no bolso da bolsa do garoto.

No banheiro, o garoto entrou na primeira cabine e bateu a porta da mesma com tanta força que quase não percebeu, o uniforme era horrível de vestir e de tirar, e na hora do aperto parecia uma missão impossível, ao baixar toda a roupa de uma vez o garoto se sentou no vaso sanitário, uma coisa que ele não costuma fazer fora de sua casa por motivos higiênicos, mas como o mesmo sempre diz " o momento faz o contexto" e enquanto o garoto se aliviava da bexiga, pode notar que a cabine que entrou era a cabine defeituosa, uma vez que a porta é fechada, fica incapaz de abrir pelo lado de dentro pois a mesma teve seu trinco quebrado por algum idiota que vive por chutar portas de banheiros.

— Droga.

O garoto ajeitou sua roupa e apertou a descarga, puxou e balançou a porta, mas nada adiantava, o uniforme não possuía bolso, então não era possível estar com seu celular pra ligar a alguém, sair por baixo não era possível e pular a cabine era arriscado, as paredes marcadas de marcadores, com insultos e palavras de baixo calão feita pelos adolescentes da escola eram finas, tais feitas de gesso não aguentariam o peso do garoto.

— Olá — Disse David na tentativa de localizar alguém no banheiro — mas naquele horário, todos os meninos do futebol ja foram embora e o pessoal da torcida estava longe demais para ouvir qualquer coisa, e sem seu celular, David não conseguiria fazer muita coisa.

— HEY, ALGUEM AI?

O garoto chamou mais uma vez, e mais uma vez a tentativa foi falha. Esperou alguns minutos, e ja estava cogitando pular a cabine, era arriscado, mas ele não poderia arriscar ficar trancado ali naquele banheiro ate uma alma resolver aparecer para salva-lo.

Subiu no vaso sanitário e segurou na parede fina, ela não passava credibilidade alguma.

Quando o garoto estava pra apoiar uma das pernas na parede, pode ouvir risadas vindo do corredor.

— HEY ME AJUDA!

Exclamou mais uma vez, descendo da privada, e quando viu que alguém realmente apareceu o garoto suspirou aliviado.

— Olá? — Uma voz adolescente soou pelo banheiro.

— Oi — respondeu David — Pode abrir a porta pra mim, eu meio que fiquei preso. —Pode ouvir o outro menino rir, assim que o mesmo se aproximou da cabine.

— Claro, afasta um pouquinho.

David se afastou, e o garoto do outro lado empurrou a porta com o ombro, e logo David tomou noção de quem era o sujeito, Lucas, jogador do time de futebol, estranho ele estar na escola uma hora dessa.

— Meu deus, obrigado, quase que eu pulo essa buceta de cabine de merda — é, David não pega leve nos palavrões, ainda mais quando a ocasião pede por um, e se pede por um, pede por dois e talvez três.

Lucas riu, estudava na mesma sala que david a anos, e nunca viu o mesmo soar nessa sintonia.

— De nada, você não frequenta muito esse banheiro né? — Lucas respondeu o agradecimento assim que o maior saiu da prisão cúbica.

— Banheiro de ginásio onde o maior foco populacional é homem hétero? prefiro a morte, mas hoje a ocasião fez o momento, era isso ou fazer xixi na roupa.

— Fazer xixi na roupa de torcedor ainda vai ser pauta numa roda de podcast, são o inferno pra poder tirar quando se está com pressa.

— É você nem torce, e sabe muito bem como funciona nossos uniformes — David não pode evitar a piada, e assim fez com que o garoto ficasse sem jeito — desculpa, é que vc me deu a faca e o queijo, ai não consegui evitar.

— Relaxa, foi uma boa piada.

Lucas sorriu.

— Hein mas o que você esta fazendo aqui na escola essa hora sendo que o treino dos meninos acabou faz tipo, duas horas?

Pela primeira vez David esta tendo uma conversa que possui mais de três frases com lucas, estudavam juntos, mas não conversavam, a verdade é que David nunca foi de conversar com os meninos da sua sala, por motivos plausíveis, mas ele ja estava ali, o que custa socializar.

— Eu vim pegar uma coisa que eu esqueci no meu armário, e te ouvi gritar da primeira vez, quando vi que era do banheiro, ja tive ideia do que era, e decidi deixar você preso ai um pouquinho, quinze minutos pensando na vida não faz mal a ninguém.

O garoto também tinha senso de humor, e pareceu estar gostando do papo-banheiro.

— Você é um sadico — David revirou os olhos ao sorrir de canto — pelo visto, o que você veio pegar aqui no armário claramente usa batom e tem um uniforme difícil de tirar na hora da pressa não é?

— Jesus, você não perde uma oportunidade?

— E como perder se sua boca esta toda manchada de batom? Deixa eu adivinhar, Michelly?

— Você adivinhou com quem eu estava pela cor do batom?

— Talvez, ou talvez por que a mesma pediu pra sair dez minutos mais cedo do treino por "emergência familiar". — David fez sinal de aspas para ironizar a desculpa da colega de torcida.

Ambos riram.

— É melhor eu ir, ate mais David.

— Ate Lucas, obrigado mais uma vez.

— Imagina, não esqueça de lavar as mãos.

David riu assim que o menor deixou o banheiro, como pode coisas acontecerem como se fosse um roteiro de filme?

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⏰ Última atualização: May 20, 2023 ⏰

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