capitulo 7

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Enquanto Isaac cantava, nas portas do Dinoitê uma senhora de uns 50 anos, branca, de cabelos semelhantes ao fogo, usando um vestido verde escuro de veludo e várias joias de ouro entra. Se tratava de Vera Bragança (mãe da Lírio).

- Mãe? Achei que você estava em Manaus - Lírio diz

- Eu estava mas resolvi fazer uma surpresa pra você querida, estava com saudades. Tudo bem por aqui? - Vera diz sorrindo

- Tá tudo bem sim... Cadê o papai? - Lírio diz confusa

- Bem, ele ficou, aparentemente tinha mais negócios pra resolver por aqueles lados - a senhora explica

Sempre foi um mistério na cidade inteira com o que eram os negócios  da família da Lírio. Além do bar claro, os pais dela vivem viajando, as más línguas dizem que o pai da Lírio é algum tipo de mafioso,  nunca perguntei  e acho que ela nunca se sentiria confortável o suficiente pra dizer.

A maioria dos estabelecimentos do centro estavam no nome da família da Lírio, sei que a casa dos pais dela fica perto da reserva, em um condomínio por aqueles lados mais sentido norte da cidade.

- Lucas, querido, não tinha te visto - Vera diz bem alto vindo em minha direção com os braços estendidos

- Oi dona Vera,  como foi de viagem? - digo com um pouco de vergonha

- Foi ótima querido, você devia ir passar uns dias na floresta amazônica, lá é incrível, ainda mais pra você que faz biologia - ela diz empolgada

- Sério? Quem sabe eu vá pra lá um dia - digo rindo

- Quem é aquele gatinho cantando ali no palco ? - Vera indaga - nunca vi ele aqui na cidade

- Esse é o Isaac,  ele é da minha antiga cidade, ele está fazendo um mochilão e vai ficar aqui por alguns dias - explico

- Vocês se conheciam de lá?

- Sim, todo mundo se conhece lá, a cidade é bem pequena - digo rindo

Isaac desce do palco e vai na direção minha e da lírio,  passando pelos bistrôs e pelas pessoas.

-Então além de ter fobia de cobra sabe cantar? - zombo dele

- Cala a boca Lucas, gostou da música?

- Gostei sim Isaac, gostei sim.

- Ei,  vocês dois, não vão querer dar uma volta aqui no centro comigo não? - Lírio diz querendo sair do bar

- Já vamos Lírio - digo

Pegamos nossas coisas e fomos andar pela orla da praia do centro em direção a pista de skate.

- Acho que eles vão se divorciar - Lírio solta

- Bom, eu vi o seu pai umas três vezes no máximo e nunca vi ele com a sua mãe então não sei opinar - digo

- Ele ficou lá em Manaus e conhecendo ele do jeito que eu conheço é capaz de ter arranjado outra família - ela diz séria

- Se seu pai gosta de você, isso não vai mudar se ele se separar da sua mãe- Isaac diz - Eu acho, não tive contato com a minha mãe e nem sei quem é meu pai porém imagino que seja assim.

Fico refletindo sobre esse tipo de assunto as vezes, meus pais são casados a sei lá quantos anos, mas a maioria das pessoas tem pais divorciados e uma parte deles nem sabe quem são seus pais. Me senti privilegiado por um tempo.

Chegando na pista de skate, os garotos de sempre com a caixinha de som estourando estava tocando "intenção" do mc cabelinho. Sentamos na areia e ficamos observando o mar se banhando sobre luz da Lua, a música se misturava com a fumaça e os risos. As ondas e o vento que o mar traziam em nossa direção tinham um efeito tranquilizante e curativo.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, todos enfrentando seus conflitos internos que muitos nem se imaginam.

Ouço um som estridente vindo de cima de um coqueiro, o som era tão agudo que os meus ouvidos doíam. Olho para cima e observo uma coruja da espécie rasga mortalha, nos observando, ele estava vidrada, com a quantidade de gente que estava lá era pra ela estar confusa só que por incrível que pareça, ela estava com o olhar congelado em nossa direção,  focada em nós três.

- PRONTO MÃE,  VOCÊ JÁ VIU QUE ESTAMOS BEM, JÁ PODE VOLTAR PRO BAR - Lírio grita

Eu e Isaac ficamos sem entender nada mas a coruja sai voando e nos deixa em paz. A coruja entendeu o comando da Lírio??? A essa altura eu não duvidaria se me falassem que Vera Bragança se transforma em uma coruja.

- Ué??? A coruja te entendeu? - Isaac questiona impressionado

- Acho que sim, enfim  já tá tarde né? O Lucas tem que trabalhar amanhã cedo - Lírio tenta mudar de assunto

- Verdade, acho que preciso ir, amanhã tenho que fazer trilha na reserva, fazer registro e essas coisas - lembro

- E oque eu vou fazer enquanto você estiver trabalhando? - Isaac pergunta

- Eu sei lá, assiste um filme, dorme, mexe no celular, sai,  vai pra uma igreja, pra praia, faz alguma coisa - Eu digo

Quando chegamos em casa me pego pensando em toda essa situação tipo, o Isaac aparecer do nada e os meus sonhos com a Dona Mariana. Acho que os dois estejam conectados de alguma forma.

Dona Mariana é ligada ao elemento água,  ou seja, ligada com os nosso sentimentos,  o que é mais confuso ainda, não sei definir sentimentos, acho eles líquidos demais para serem definidos. São confusos, inconsistentes e muito duvidos, tipo, você tem certeza absoluta de que já gostou de alguém? Porque eu mesmo nunca tive esse tipo de experiência.

- Isaac, vou dormir - digo

- De boa, vai lá,  boa noite e bom trabalho amanhã pra você - ele diz

Fecho a porta do meu quarto, me troco, coloco meu pijama e desligo as luzes, fico rolando de um lado pro outro naquela cama tão vasta quanto o oceano naquele momento.

Depois de um tempo eu de fato caio no sono, durmo como um bebê mas ainda sim, preocupado com as coisas que acontecem na minha vida é ao redor dela.

Águas Rasas- Diário De Um Rapinante Onde histórias criam vida. Descubra agora