PRÓLOGO

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— Eu gosto de você — confessei extremamente nervosa. Apertei as pernas com a súbita vontade de fazer xixi. Eu ia morrer.

Yan abriu um sorriso leve e preguiçoso, fazendo meu coração se agitar no peito.

— Eu também gosto de você, Iza — respondeu com sua voz suave, os olhos brilhando em minha direção. E eu podia jurar que tinham pássaros cantarolando no galho do cedro acima de nossas cabeças. — Você é como… — um raio de sol! A outra metade do meu abacate! As cores que deixam minha vida colorida! . Ele umedeceu os lábios. Segurei o ar. — Como uma priminha querida.

Espera…

O quê?!

Ri. Bem alto. Dei um tapinha em seu ombro. Ele riu também, sem notar meu nervosismo e humilhação. O coro de pássaros no cedro se calou. Eu nunca mais me declararia para alguém na minha vida. O que estava pensando, para começo de conversa?

Yan era o melhor amigo do meu irmão, ele praticamente me viu crescer, me viu quebrar a cara e agora estava me vendo passar a maior vergonha da minha vida!

Que merda.

— A gente se vê na lanchonete? — perguntou, ajeitando a alça da mochila em um ombro só.

— Claro! Eu só… irei à biblioteca primeiro. — Fiquei sorrindo, nem sei como consegui aquele feito. A verdade era que eu sairia correndo para o banheiro para chorar até acabar o horário de aulas.

— Não demora, viu! — Acenou, virando e seguindo em direção a lanchonete/ refeitório do campus. 

Meu sorriso morreu assim que girei nos calcanhares. Eu só queria gritar, mas ia parecer uma maluca para os estudantes que passavam por mim. Esfreguei a mão no peito, onde meu coração era só um amontoado de caquinhos.

— Podia ter sido pior — disse uma voz, me sobressaltando. Encarei o rapaz sentado no banco a apenas dois metros de distância de onde Yan e eu estávamos, com a mochila no chão entre os tornozelos. Ele viu tudo? Oh, Deus! Será que tinha como ficar mais humilhante? — Ele poderia ter dito irmãzinha.

Crispei as sobrancelhas.

Pensando por aquele lado…

Inclinei a cabeça ligeiramente, observando o estranho segurando um geladinho perto da boca, era fevereiro, as noites eram insuportavelmente quentes naquela época do ano. Notei que ele não se assustou quando me estudou de cima abaixo, geralmente as pessoas esboçavam alguma reação, por mais sutil que fosse.

Ele apontou o geladinho na minha direção, perguntando:

— Quer uma chupada?

FICANTE (série Enlaçados, livro 1) DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora