Remus remexeu a comida pelo que parecia ser a décima vez consecutiva. O que era uma panqueca com calda de caramelo e deliciosos morangos a exatos vinte minutos atrás, agora parecia apenas algo que fora pisoteado e jogado no prato. Pisoteado, essa era a sensação em seus próprios ossos. O ar estava gelado, entrando pelas janelas do restaurante do hotel. O voo havia sido turbulento e barulhento o suficiente para fazer sua cabeça doer.
Ele inspirou fundo mais uma vez, remoendo internamente o bolo de sentimentos que não conseguia digerir. Era o aniversário de cinco anos de Harry e ali estava ele, de volta àquela cidade. James e Lily estavam felizes na ligação, uma semana antes, e Remus não podia simplesmente negar aos amigos outra vez. Não quando a voz alegre e esperançosa de James encheu seus ouvidos, infiltrando-se por uma parte antiga e adormecida de si mesmo.
"Sinto sua falta, Moony. Todos sentimos", foi o que ele disse. O uso do apelido antigo trazendo a Remus recordações, que, a algum tempo ele não se permitia lembrar, porque esquecer era menos doloroso e mais fácil de lidar do que com a saudade.
Remus Lupin era um covarde. Ele desejava não ser, mas os fatos estavam ali, dispostos à sua frente como um dossiê criminal.
Fazia quatro anos desde a última vez em que estivera em Godric 's Hollow, mas a cidade pequena e aconchegante continuava a mesma. Tudo ali sempre parecia intocável e calmo, do mesmo modo que estava quando um garoto perdido encarou pela última vez a praça coberta de neve e partiu.
A mesma praça que foi testemunha de um beijo com gosto de lágrimas e despedida. A testemunha de uma fuga. Remus era assim, afinal de contas e Sirius sempre esteve certo: "Você parte quando quer ficar... Sempre prisioneiro do seu próprio medo, Remus!".
Não importa quanto tempo passasse, ele continuava remoendo aquela frase, porque era um tapa constante em seu rosto. Remus fora embora antes com a promessa de retornar em dias. Os dias tornaram-se semanas. E as semanas tornaram-se meses. Quando o primeiro ano se fechou, ele percebeu que era tarde demais para voltar e explicar...
Para se desculpar.
James e Lily o ligavam sempre que possível, fazendo questão de incluir Remus na criação de Harry. E quanto mais ele via o pequeno crescer, maior a saudade se tornava. James fingia não perceber os olhos ansiosos dele ou as respostas evasivas para alguns assuntos. No fim do dia, James Potter continuava sendo o amigo persistente que não desistia de Remus mesmo quando deveria.
Peter o visitou uma vez, para total e completo choque de Remus. Não foi difícil para ele conseguir o endereço do amigo, e menos, ainda inventar uma desculpa qualquer para se esgueirar um voo de oito horas apenas para beber em um bar qualquer na noite de Natal dois anos antes. Talvez tenha sido apenas um pretexto para viajar e fugir das responsabilidades. Ainda sim, ele esteve lá. Nenhum deles tocou em feridas antigas e Peter não comentou sobre o apartamento praticamente vazio de Remus ou de como ele parecia mais magro e apático.
Marlene, Dorcas e Mary constantemente o obrigavam a participar de vídeo chamadas nas quais ele, com muita habilidade, fazia questão de ter em locais que não mostrassem a fragilidade do que havia se tornado.
Todos, sem exceções, o procuravam. Ele deveria sentir-se grato por ter amigos que o amassem tanto. E sentia-se. Ainda sim, era inevitável pensar em Sirius e no som quebrado e magoado da voz dele na última vez em que se falaram.
— Dá para ver a fumaça subindo daqui. — Aquela voz... Remus não imaginava que ouvir aquela voz pessoalmente, depois de tanto tempo fosse fazê-lo sentir como se finalmente estivesse em casa. Ele virou o rosto ligeiro e com um pulo, afobado demais, lançou-se em direção ao amigo abraçando-o com força. James riu alto. — Oi, Moony.
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polisipo | 𝑤𝑜𝑙𝑓𝑠𝑡𝑎𝑟
أدب الهواةDeveria ter sido apenas uma viagem, um pequeno período de tempo onde Remus permeceria longe dos amigos, mas principalmente, longe de si mesmo. E ele deixou Sirius. A ironia da partida se tornou mais clara quando retornou. O sentimento jamais esqueci...