Eu abri os olhos assim que senti de novo aquela presença estranha, nada havia no quarto a não ser os móveis e as cortinas. Então pela terceira vez eu me levantei e verifiquei a barreira que havia colocado nos limites da propriedade à muitos anos. Na noite anterior eu desci as escadas ainda molhada do banho, com as roupas praticamente grudadas, se a situação não fosse grave, Dionísio acharia que foi uma provocação pessoal. Mas mesmo não encontrando nada ontem. - Assim como não encontrei nada hoje. - Dionísio não duvidou de que alguma coisa poderia de fato estar acontecendo, e essa manhã eu entendi o motivo dele acreditar que algo estava errado.
Eu estava agora olhando o jardim da propriedade enquanto uma garoa fina caía, aos meus pés as flores que Vicente cultivava se espalhavam pelo chão, elas costumavam ser lindas e perfumadas, e pintavam o chão da lateral do terreno e iam até o fundo da casa, perto de uma edícula. Fazia parte do trabalho dele na prefeitura, cuidar e gerir a parte urbana e natural da cidade. Por ter uma grande área natural, ele tinha o dever de, resumidamente, manter a floresta e seus seres sobrenaturais de um lado, os humanos e sua cidade de outro, e ainda deixar a cidade minimamente bonita, tarefa essa, de longe, a mais difícil pois, Farol do Cais é uma cidade de velhos e eles são o pior tipo de humanos pra agradar e Vicente estava ficando chato como muitos deles por causa de seu trabalho.
Voltando meus olhos ao jardim particular da casa presidencial, eu poderia dizer que pela primeira vez a expressão: "Na casa de ferreiro, o espeto é de pau". Dizer que o jardim estava destrído era quase um eufemismo, e era estranho porque conhecendo Vicente eu sei que ele nunca seria tão displicente. Eu me abaixei pra olhar as plantas mortas, era como se a vida fosse sugada delas. Eu ainda estava analisando a flor na minha mão quando ouvi paços atrás de mim.
- Oi. Hum... Desculpe, não queria assustar você. - A voz soou suave, quase um ronronado.
Era um jovem magro, alto e de pele branca, poucos pelos agora em sua forma humana, ele ostentava tristes olhos azuis e um cabelo caramelo ondulado. Lian. Ele estava se escondendo um pouco atrás de uma árvore, estava nu, tremia eventualmente e estava com o rosto vermelho. Claro que ele não estava familiarizado com a nudez de um lupino tanto quanto Aidan, que passeava pelado pela casa sem entender o motivo de todos virarem o rosto, não que ele quisesse que ficassem encarando mas, num geral ele não entendia o incômodo.
- Liam. Espero que esteja bem. - Falei, me virando para a flor em minha mão.
Ele concordou de forma tímida com a cabeça. - Sim, estou. Obrigado. Aliás, me desculpe por ontem a noite eu não... Queria te machucar.
Eu não pude conter o sorriso, não por prepotência mas, pela total falta de conhecimento de Lian, com relação ao próprio poder e do poder que o rodeava, ele era mesmo como um bebê.
- Sei que não. - Falei, me abaixando para analisar a terra que agora tinha um aspecto repugnante e gosmento.
- Hum... Perséfone? Você... É... Hum... Poderia...
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As Sete Adagas de Sangue
AventuraPerséfane é uma jovem bruxa que descobre uma ameaça nas terras de Farol do Cais, junto a alguns seres mágicos ela busca entender qual a origem daquele poder que vem destruindo seu mundo. Enquanto busca respostas ela descobre coisas sobre seu passado...