Perambulava pelos corredores, vestes simples, candelabro em suas mãos, se guiava em direção a casa de banho. Não gostava de andar pela casa tarde da noite, o escuro lhe causava aflição, medo do que poderia se esconder, quando não se escuta e nem se fala. Em sua mente, silêncio, no mundo, silêncio. Depois da casa de banho, Maria vai a cozinha, pega água e bebe devagar, quase como se apreciasse cada gole. Volta ao seu quarto, seu marido dorme tranquilamente. Se deita ao seu lado e após uma oração, dorme.
Se levanta cedo, se arruma e faz o café de seu marido. Enquanto lava a louça, sua mente é vazia. Seu marido toca em seu ombro para não a assustar, Maria se vira e o dá um sorriso doce. O homem beija sua testa e se senta a mesa para comer, a mulher o acompanha. É segunda, um novo dia, uma nova semana. Ela pensa após olhar o calendário da cozinha. O dia segue normal, ela cumpre suas tarefas e a tarde se senta na varanda da casa olhando as crianças do vilarejo brincarem, ela adora as observar no tempo livre, sua pureza e alegria. Seu marido só chega a noite então tem tempo pra as olhar antes de fazer o jantar.
Em meio a perninhas correndo, ela vê uma mulher, alta, branca, muito branca, cabelos loiros bem claros amarrados em um penteado lindo, não consegue ver seu rosto claramente por causa da distância mas reconhece que são bem parecidas. Um vestido longo e branco cobre todo seu corpo e parece que foi feito sob medida pois se assenta perfeitamente em sua silhueta, um chapéu preto grande sob a cabeça. Maria a encara com curiosidade e sabe que a mulher a olha de volta. Então, ela anda, se aproxima mais e mais e quando mais próxima, Maria vê seu rosto. Lábios com tinta vermelha, sardas leves salpicam seu rosto, pó marrom nos olhos que por acaso, são completamente brancos. Em vez de se assustar com a mulher se aproximando e o fato de serem iguais a não ser pelos olhos, ela só consegue ficar parada, contemplando a beleza sobrenatural da mulher.
É como se ninguém visse a Bela Dama além dela. Elas se encaram. Maria com um vestido simples e escuro observa a mulher por baixo, deslumbrada. A Bela Dama a entrega um papel e em um piscar de olhos, some. Maria olha para suas mãos, o bilhete em sua palma, pequeno. Ela abre, a caligrafia é idêntica a sua própria. Letras grandes moldam a frase "EU SEI O QUE VOCÊ QUER, MOSTRE-SE."
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A Outra de Maria
HorrorMaria quer ser livre e experimentar de tudo, mas sempre reprimiu esse desejo. Com a chegada de Bela Dama, as coisas parecem mudar e Maria parece se tornar um pouco mais... sádica.