A Outra de Maria

Maria e sua mente

      Outro dia, terça. Maria já está cedo na cozinha, dessa vez, não come com seu marido. Ela o escreveu que não está com fome. A escrita a salva, nunca aprendeu linguagem de sinais. Ela e o homem com quem se deita foram prometidos desde bebês. Maria é órfã, nunca teve ninguém. A família de seu marido esbanja riquezas e pagou professores para ensiná-la a ler e escrever. Um luxo para uma mulher. Eles, quer dizer, seu marido nunca gostou de riquezas então os dois vivem humildemente. A mente da mulher deixou de ser vazia, agora ela pensa o tempo todo em Bela Dama e no bilhete. No que sentiu ao ver aquela mulher, quase ao se ver.

     A tarde, sentada novamente no banco da varanda ela se pergunta se voltará a ver a Bela Dama. Não a vê, as horas passam e tem que voltar para dentro. Sua vida sempre foi quieta, não só por ser surda mas porque nunca teve nada ocupando sua mente, sempre fez o que a mandaram fazer sem questionar, ela nunca descobriu quem é. A noite, não consegue dormir, se vira e vira e vira na cama e seus pensamentos não param. "O que eu quero?", " o que devo mostrar?", pensa. Sua cabeça nunca esteve tão barulhenta. Ela se levanta, pega o candelabro e vai ate a cozinha, pega água, bebe. Quando se vira, ela está lá. Novamente, a mulher se aproxima, cara a cara, a entrega outro bilhete. Dessa vez a Bela Dama não some. Senta-se na mesa de jantar e Maria a acompanha e se senta junto. Ela lê o bilhete "Você sabe o que fazer, nós duas sabemos disso." 

       Maria a olha, confusa. Bela Dama continua a encarando, com seus grandes e brilhantes olhos brancos e seus lábios vermelho sangue. Eles se abrem, mostrando uma língua enorme, de sua boca ela tira uma faca afiada e outro bilhete. Os entrega a outra mulher, se levanta e novamente quando Maria pisca, ela some. Ela está assustada e cada vez mais curiosa. O outro bilhete molda apenas a palavra "tente." Ela sente algo diferente.