Maria e seu corpo

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    Dia seguinte, quarta. A manhã, passa comum, exceto pelas memórias da última noite e a faca escondida embaixo de seu travesseiro. Ela nem sabe direito o motivo de ter a escondido lá, só sentiu que deveria. Seu marido sai e ela segue com seus afazeres, nunca tira a imagem da Bela Dama da cabeça, aquela mulher sensual, bonita e livre. "Sensual" essa palavra vagueia por sua mente, o que é ser sensual? seria a vulgaridade que a ensinaram? ela não entende como pode estar questionando. 

     Arrumando seu lar e mundo, Maria passa na frente de um espelho grande em seu quarto. Ela para e se observa. Olha dos pés a cabeça, analisando. Solta seu coque e seus lindos cabelos loiros caem sobre seus ombros, chegando a seu cóccix. Ela faz algumas poses e continua se observando. Tira seu simples vestido cinza e continua a posar nua na frente do espelho. Ela roda e roda em seu quarto, dançando sem música. Deita em sua cama e a bagunça toda, depois se senta e pega a faca embaixo do travesseiro. Volta para frente do espelho e novamente, posa, com a faca desta vez. Ela pensa em cortar sua pele, ver uma outra cor a não ser o cinza do mundo e o branco de de seu corpo. Ver o vermelho vibrante de seu sangue jovem.

    Ela corta sua perna, vê o sangue escorrer com satisfação. Passa os dedos pelo corte, espalha o sangue por sua perna e lambe sua mão suja. Anda pela casa com a cabeça na lua, manchada de vermelho e alucinada. "VULGAR SENSUAL SENSUAL SENSUAL VULGAR VULGAR VULGAR" sua cabeça gira. Chega na sala e encontra Bela Dama. As duas dançam a tarde inteira juntas.  

    Sentados a mesa, Maria e seu marido comem juntos no jantar. Ele a escreve que a comida está maravilhosa e a dá um beijo nos lábios. Ela abaixa a cabeça como sinal de agradecimento e volta a comer, incomodada, pois seu corte coça.

A Outra de MariaOnde histórias criam vida. Descubra agora