CAPÍTULO 6

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A vida às vezes nos prega peças e somos obrigados a assistir de camarote nosso destino se entrelaçar com o de outras pessoas. Quando discutiu com seu pai, mais de trinta anos atrás, não pretendia reencontrá-lo nunca mais. Acabou reencontrando da pior maneira possível, em sua própria cama com sua esposa. Quando se separou, Simone precisou ir para outro país para ter a certeza que, quando voltasse, se voltasse, não a reencontraria. Agora Simone se encontrava sentada em seu carro, já estacionado na garagem da casa de seus pais, criando coragem e fazendo de tudo para que seu corpo e sua mente lhe obedecessem quando ela resolvesse sair dali. Júlia, sua irmã caçula, lhe esperava ansiosa na sala de seus pais junto com Marcelo. Esse que já havia ligado para saber quanto tempo ela ainda levaria, pois a menina estava ansiosa para aquele encontro e só perguntava da irmã.
Simone podia sentir sua garganta secando a cada passo que dava em direção a porta. Longe dela fazer drama mas, estava aí um situação que ela jamais imaginou: conhecer a filha de sua ex mulher que por obra do destino, também era filha da pessoa que mais lhe machucou no mundo, seu pai.

Desde que soube da deficiência da irmã, ela buscou entender a fundo sobre. No mesmo dia iniciou pesquisas e acabou se atrasando para o aniversário de Vanessa. Na madrugada, quando Isabella saiu de seu apartamento, continuou lendo sobre, tentando entender como lidar. Queria estar preparada para aquele momento. Ela e Marcelo decidiram que não seria preciso outra pessoa para acompanhar a menina nesse encontro e combinaram que a receberiam na casa dos Stein. Não houve qualquer objeção por parte de Roberta e Arthur quanto a isso. No horário combinado a menina havia chegado ao local e fora recebida com grande alegria por Nelson.

Agora, prestes a entrar na sala, Simone pode ouvir a voz delicada e agitada de Júlia, que contava sobre algo que ela não conseguiu compreender de onde estava. Quando abriu a porta sentiu os olhares irem todos para ela, como já era esperado. Mas, de todos aqueles que a olhavam, o único olhar que lhe prendeu foi o dela, da garotinha que estava sentada ao lado de Mônica lhe encarando com os olhos cheios de expectativas. Simone teve certeza que nunca recebera na vida um olhar tão brilhante e cheio de amor. O sorriso da menina se tornou tímido, as bochechas tomando um tom vermelho e o pequeno corpo se aconchegando ainda mais na loira ao seu lado.

"Olha só quem chegou, Juju!" Sentado no chão de frente para a menina, Marcelo tentou iniciar a interação entre as duas.

"Oi Julia, tudo bem?" Simone caminhou incerta de como conduzir. Sentou no mesmo sofá que a irmã tendo a cunhada entre elas. Recebeu um sorriso aberto como resposta de sua pergunta. "Olha, eu amei esse laço no seu cabelo." Tocou com a ponta do dedo o enfeite e, como se adivinhasse, ganhou a menina ainda mais. As mãos pequenas subiram até a própria cabeça e tocaram a de Simone trazendo-a para seu colo.

"Eu escolhi esse que é preto porque eu perguntei pra mamãe qual cor você mais gostava. E meu tênis é branco porque é a cor favorita do Marcelo." A fala doce e inocente da menina arrancou um sorriso sincero de todos ali. Marcelo sorriu trocando um olhar com a irmã mais velha percebendo que os olhos dela brilhavam com algumas lágrimas. Simone nunca escondeu ter esse lado emocional aflorado e nunca teve vergonha de deixar se transbordar em lágrimas. Diante de alguns acontecimentos da vida, ela acabou se fechando, tornando o choro cada vez mais difícil. Monica plantou um beijo carinhoso nas têmporas da cunhada antes de sair para deixar os três irmãos à vontade. Olga e Nelson decidiram ficar na cozinha ajeitando o almoço. Haviam recebido Julia e, como já era de se imaginar, a menina os ganhou logo de início trazendo uma flor que ela pegou no jardim alheio.

Os três irmãos se entenderam bem e conseguiram estabelecer uma sintonia rapidamente. Simone, que sempre amou crianças mas nunca levou muito jeito, agradeceu por Marcelo ser sempre muito brincalhão e conduzir as brincadeiras que inventavam.
O almoço foi servido e a menina logo se adiantou para se sentar ao lado da irmã. Júlia olhava para Simone com admiração, estava se sentindo genuinamente feliz por ter pessoas de fora de seu convívio a acolhendo.
O prato feito especialmente para o dia foi bife a parmegiana, o favorito da caçula. Olga pediu que o filho desse um jeito de descobrir o que a menina gostava para que ela pudesse preparar e deixá-la ainda mais em casa.
Simone percebeu a demora de Júlia para começar a comer, mas preferiu respeitar seu tempo. Acabou se distraindo em uma conversa com sua mãe e, quando voltou sua atenção para a irmã, viu que ela lutava com a faca e o garfo.

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