𝗪𝗲𝗯𝗯𝗲𝗿ˢᶠʷ

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Vira-lata

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Avisos: relacionamento tóxico, dependência emocional por parte sua, manipulação descarada, menção bebida alcoólica e nicotina, uso excessivo de palavrões e Liz sendo uma filha da puta =D

Avisos: relacionamento tóxico, dependência emocional por parte sua, manipulação descarada, menção bebida alcoólica e nicotina, uso excessivo de palavrões e Liz sendo uma filha da puta =D

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Tinha tempos que desejava intensamente que aqueles olhos repugnantemente frios não deslizassem de cima a baixo pela sua presença. Não a culparia, é claro. Afinal, foi você quem fodeu tudo.

Mas, porra! Por que ela era tão ignorante!? Ela ao menos podia ter lhe ajudado durante o processo do término já que, segundo ela mesma, ela era a mais "madura" entre vocês duas. Mas não. Ela não ajudou. Ela nunca ajudava.

Não sentiria-se humilhada se precisasse implorar para que Elizabeth te perdoasse. Já tinha feito isso inúmeras vezes durante os treze meses e vinte e oito dias que namoraram. Porém, toda as vezes que se aproximava um passo a mais dela, ela se afastava e perfurava seu coração com espinhos dolorosamente afiados.

Se lembrava claramente das palavras que a morena disparou com a língua afiada que possuía até você no dia do término. A mesma língua que passeava pelo seu corpo nas noites mais frias do ano e que dançava em contato com a sua tinha a capacidade de ser desprezível.

Ela estava tão bêbada naquele fatídico dia. Tão bêbada que se colocasse três dedos a frente de seus olhos, ela não saberia ao menos dizer se havia dedos a frente dela ou não.

Você brigou com ela. Brigou tão feio por um motivo igualmente bobo. Mas, todas as vezes que ela chegava tarde em casa por passar horas no bar ou no trabalho, sentia vontade de estapear aquele rosto lindo.

Estava sentada no sofá, preocupada com a demora de sua namorada. A televisão não te entretia tanto quanto você desejava. Escutou então o ranger da porta se abrindo, revelando a figura pálida e esguia.

Ela te ignorou e passou direto, dirigindo seus passos até o quarto como se a sua presença fosse insignificante a ela. Sua feição se tornou perplexa. Levantou abruptamente do sofá e seguiu até o quarto, vendo ela começar a tirar o uniforme de cientista e se deparando com as costas seminuas, cobertas apenas pelo feixe do sutiã. Soltou um suspiro perplexo.

"Você chega em casa às duas de uma quarta-feira e não diz nada, Eliza!?" colocou as mãos na cintura.

"Agora não, [Nome]..." Ela comentou por fim, visando dar um basta naquela conversa. Era sempre assim, ela sempre tentava desviar do assunto por seus neurônios estarem fodidos de álcool.

"Agora não?!" Soltou um riso perplexo tentando assimilar a merda que ela soltou "Escuta aqui, Eliza, qual é o seu maldito problema, hein?! Você enche o cu de cachaça, chega em casa tarde para caralho e quer que eu não fale nada?! Não fode!" Era tão exagerada a sua reação. Nem percebeu que já estava gritando com ela enquanto a feição pálida ainda permanecia neutra "Fala alguma coisa, porra!"

Ela não falou nada. Apenas olhava para seu rosto como se você estivesse falando a maior asneira que ela já tinha escutado.

"Porra, Eliza, abre a boca! É sempre assim, sempre assim! Você não muda! Não busca melhorar! Como quer que a gente fique juntas com você sendo um porre, hein?!" Novamente, uma tempestade em um copo d'água. Um motivo tão bobo.

"Para de gritar, caralho. Minha cabeça tá doendo." Ela declarou ignorando tudo que você tinha falado.

"Foda-se sua cabeça, Eliza!"

"Não fode, [Nome], você tá sendo um pé no saco." Ela virou as costas seminuas novamente e começou a dobrar o uniforme "Porra, tá tarde pra caralho, a gente conversa amanhã."

"Não! Você sempre esquece as merdas que você faz no dia seguinte! Tá arranjando desculpa pra não escutar a verdade, não?" Você se aproximou dela e apontou a figura pálida imponente a sua frente "Me diz, Elizabeth: como quer que eu sustente um relacionamento sozinha!?"

Os olhos dela pareciam brilhar. Uma chavezinha foi virada na cabeça de Elizabeth. Porra, você queria uma vilã? Uma vilã você teria, se assim desejasse. Ela poderia ser tão cruel quando queria e, com essa chavezinha, a vontade dela de te ver quebrar aumentou tanto!

"Você tá tão cega pelos seus problemas que não percebe que tá me levando para o abismo junto, [Nome]." As orbes castanhas preenchidas de sadismo entraram em contato com as suas íris "Você sustentar a gente?! Que piada! Não me faça rir!" Ela se aproximava ainda mais como se estivesse prestes a devorar você. A raposa indo atrás do coelho indefeso. "Todo esse tempo, [Nome], todo esse tempo foi eu que precisei segurar isso por nós! Por você! E então, você vêm até mim, gritando como se eu fosse a culpada das suas merdas!? Por Deus, garota, olhe para si mesma! Você é a culpada de nosso relacionamento estar essa bagunça!" Ela esbravejou.

Era verdade? Você quem estava ferrando com tudo? Mas era sempre ela quem se embebedava até os neurônios explodirem. Então por que você era a culpada? Assim como Liz, você tinha seus próprios problemas mas nunca os deixaria interferir no seu relacionamento com a pessoa que amava com cada pedacinho do seu coração.

Por amá-la tanto, doeu muito quando ela jogou na sua cara que você seria o motivo dela passar as noites bebendo.

Mas não era. Você se dedicava ao relacionamento, ao contrário de Liz, que tinha a atenção voltada para o próprio umbigo e fazia pouco caso com os seres pensantes ao redor dela. Se alguém estivesse ferrando as coisas, esse alguém era Liz, não você.

Porém, o amor é cego e burro. Doloroso, inconsolável, e milhares de outros adjetivos negativos. Sua dependência na figura pálida era tão evidente que seu coração fez de acreditar em cada mísera palavrinha proferida pela boca dela. Seu coração fez de acreditar que você era ruim, não a ela.

"Se tá ruim pra você, boa notícia:..." Ela continuou com a voz serena "não precisa mais sustentar essa merda sozinha. Não precisa mais sustentar porra nenhuma. Acabou." Ela declarou como se não fosse nada, como se ela fosse Deus.

No dia seguinte, você acordou na própria cama, mas se lembrava vagamente da mulher esguia saindo pela porta, te deixando.

A junção desses fatores nos leva para o cenário atual: tinha as costas recostadas na parede de tijolos da delegacia, esperando que ela saísse pela porta. O cigarro entre os seus dedos era a única coisa que aquecia o seu corpo na noite fria.

Foi quando a porta de funcionários ao seu lado se abriu que você finalmente desviou o olhar do chão para ela novamente.

Ela parecia cansada. Provavelmente pelo trabalho. A morena te olhou como se não estivesse surpresa pela sua presença.

"Oi..." sussurrou.

"Oi." ela respondeu.

Ela não estava surpresa. Ela já conhecia esse filme. A morena sabia que, no final, você correria de volta para os braços dela procurando abrigo como a porra de um vira-lata de rua.

E ela estava certa, essa era a pior parte.

Não importa quantas vezes Elizabeth arrancasse o seu coração do peito, o jogasse no chão e o pisoteasse, você sempre voltaria. Afinal, no fim da noite, era ao lado dela que seu corpo se deitava...

𝐒𝐔𝐊𝐊𝐀𝐋, aopOnde histórias criam vida. Descubra agora