Cartas Censuradas

Carta 4

Querido Adam,

Jamais confunda prosperidade humana com a prosperidade de Deus. Além de não confundi-las, não caia num erro pior que é compará-las. Os interesses humanos são diferentes dos interesses de Deus e Seu Reino não está limitado ao que acontece aqui na Terra. A oração do pai nosso, logo em seu início, deixa claro que as coisas aqui embaixo acontecem conforme a vontade de Deus que opera primeiramente no céu. O homem é muito limitado, não enxerga um minuto do seu futuro, mas Deus já está lá e sabe exatamente o que vai acontecer. O tempo para Deus não é linear, Ele, também, não se limita ao espaço e muito menos às leis que regem o nosso mundo, Ele é onipresente e onisciente, e sabe das coisas antes que elas aconteçam. É evidente que Sua prosperidade, isto é, a prosperidade com que Ele nos abençoa, está muito além da nossa compreensão humana.

Quando falamos em prosperidade a nossa mente limitadamente humana e egocêntrica associa rapidamente a dinheiro, mas, para Deus, prosperidade não se resume a pedaços de papel com números criptografados, não é o que acontece com o homem apenas no seu exterior, mas, principalmente no seu interior. Ouve-se muito falar em vitória, que os crentes sempre vão vencer. Mas não há como ser vitorioso levando uma vida submersa no pecado. Deus não negocia seus valores e princípios e nos orienta a fazer o mesmo. Toda essa narrativa não passa de mais um dos conceitos errados sobre Deus, e de como Ele age, que nos venderam e, ignorantemente, compramos a preço de sangue.

Jó foi um homem vitorioso não porque conseguiu conquistar o dobro do que tinha antes do seu encontro com Deus, mas sim porque concebeu a dádiva de conhecer a Ele não somente de ouvir falar, pois seus olhos passaram a vê-Lo. À ótica humana a história de Jó nos causa revolta, justamente porque concebemos um conceito errado de prosperidade e vitória. "Como um cristão, fiel e temente a Deus, passa por tanta dor e Deus não faz nada por Ele e ainda permite que tais coisas o aconteçam?", pensamos. Mas para Deus, Jó foi mais que vencedor, pois ao final do seu processo não recebeu apenas bens exteriores, mas interiores, como mudança de caráter, de conceitos sobre quem é Deus, conhecimentos de natureza espiritual (pois Deus o revelou coisas que ao homem não era conhecido – Jó 38), saber quem são seus verdadeiros amigos, bens e família dobrada e, principalmente, conheceu e se aproximou de Deus de forma tal que seus olhos O viu: passou a contemplar Deus no cotidiano de sua vida. Isto é vitória, isto é prosperidade de Deus: Conhecê-Lo verdadeiramente na Sua essência, como de fato Ele é. Este é o conceito de "mais que vencedores" relatado pela Bíblia, pois recebemos a bênção de uma forma tão grandiosa que não é só sobre o nosso exterior, mas, também o que acontece conosco por dentro, de como Deus entra e nos transforma.

"Culto da vitória" não é eficaz se esta vitória não envolver Deus e sua ação em nosso interior. Ao ouvir esta expressão dita comumente em nosso cotidiano, sugiro que coloque um filtro em seu intelecto e analise a natureza desta, pois violaram o conceito de vitória e prosperidade de Deus. Recebi sua última carta e fui envolvido em seu relato sobre sua condição financeira, de como você trabalha incansavelmente métricas do mercado financeiro a fim de ter uma renda digna de viver bem a vida. Entendo que você auto se julgue digno de retorno por ser filho de Deus, mas cuidado com estes pensamentos que te vendem, não os comprem, eles não são verdadeiros. Lembrem do conteúdo desta carta quando você for inserido em conversas que os envolvam e lembre-se que para Deus é mais importante ser do que ter. O poder também pode ser uma ferramenta de satanás para corromper o homem e ainda que você esteja na caminhada com Cristo sem este pensamento e foco, o poder tem esta capacidade desprezível e repugnante. Ele não se importa com o bem estar de ninguém, o sentimos como aroma podre circulando em nossas igrejas a fim de encontrar uma mente vulnerável para tragá-la e assumir o controle.

Além disso, esta é a primeira carta que recebo sua sem a euforia e o desejo pelo Reino que tinha nas outras. Para isto também serve nossa comunicação à distância, por meio destas cartas. Sei o quão tímido você é e que seria incapaz de me contar essas coisas pessoalmente. Mesmo assim, preferi focar no seu testemunho e de como você era avarento e Deus o libertou, da sua garra em ir ao culto mesmo morando há uma hora de distância da igreja. Fiquei fascinado pelo seu gosto por música e de que o reverendo e alguns irmãos viram potencial em você e pessoa de Deus que és. Com certeza, isso é o reflexo de sua atitude de perserverança, pois Deus está ansiosamente procurando corações puros que Ele possa morar e usar para a extensão do Seu Reino aqui na Terra, cujo destino é uma vida eterna com Ele. Não se preocupe com a expressão que andam te dizendo, de que "Deus vai te usar". O usar para o ser humano é usar para fins próprios e depois o que foi usado é descartado. Com Deus não é assim. Usar para Deus é como ser um instrumento tocado por um músico muito famoso, onde o instrumento jamais deixa de receber todo cuidado necessário para que funcione, para que dê vida aos que os ouvem, este jamais é esquecido e se torna o queridinho de tal músico. Mas não se engane, assim com um instrumento tocado, a glória vai para quem o tocou, pois sem o músico famoso, o instrumento não passa de mais um instrumento.

Você é uma pessoa importante para Deus, meu amigo. Tristezas nos acontecem, desânimo também. Se Jesus passou por períodos difíceis no Getsêmani, horas antes da sua crucifcação, quem somos nós para nos abstermos deles. Mas lembre-se que com Deus até a dor tem um propósito e este propósito vai nos fazer bem, ainda que agora não faça sentido.

Quando receber a oportunidade de expressar os dons que Deus está formando em você não a negligencie, pois muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos. E os escolhidos, meu jovem, são aqueles que dizem "sim" para Deus sem se basear nas circunstâncias. Elas não impedem o agir dAquele que criou os céus, a Terra e você. Continue buscando conhecimento acerca de Deus, continue indo aos cultos, persevere em seguir a Deus, lembre-se desta carta e de que você não está sozinho. Você tem seus irmãos, a mim e a Deus. Ele não o desamparará.

Abraço,

Seu amigo, Benjamin.