Quatro

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E eu tinha esquecido de devolver a maldita caneta.

— Gostaria de comer os resíduos tóxicos do hospital também? Olha, eu não me oponho. — Mike puxou a caneta da minha mão, eu deveria estar mordendo ela a horas já. — Tiraria o peso de me preocupar com o descarte ilegal.

— Não me faça responder da maneira que quero.

Ele sorriu e se sentou ao meu lado.

— E você deveria estar em casa, qual é o seu problema?

Pensei por alguns segundos. Eu tinha uma ligeira atenção especial do Sr. Collerman, pelo que parecia. Também uma jura de morte dos olhos castanhos de Jess e um emprego onde meu supervisor não me deixava trabalhar, qual problema eu diria a ele?

— Nada demais, não vou bater o ponto, apenas me deixe ocupar a mente. — Resmunguei cansada.

Mike era um cara legal, tinha trinta e dois anos se não me engano e um sorriso encantador.

— Vamos, você precisa beber e eu preciso descansar a mente.

Eu não tinha que trabalhar e por causa da minha faculdade, já passava da hora de estar na cama. Mas eu precisava mesmo andar pelo caminho do alcoolismo e ser tão irresponsável quanto uma porta, minha mãe adoraria saber disso.

— Sem boa noite Cinderela. — Caçoei e ele bufou fazendo uma careta inconformada.

— Merda. Rohypnol seria melhor? Eu estava pensando em Frontal, mas eu queria você acordada, mulher inconsciente não é o meu lance. Tenho pavor de bonecas.

— Você precisa se tratar, Mike.

Ele riu e caminhamos até o outro lado da rua, onde haviam alguns bares. Eu não era exigente e podendo esquecer o meu dia conturbado mergulhando minha cabeça num barril de cerveja, já estava de bom tamanho.

O bar era tão simples quanto um boteco, mas a cerveja era boa e Mike não era uma companhia ruim, pelo menos fora do hospital. Já bebi com ele outras vezes e me diverti mais do que eu achei possível acontecer, pelo menos era fácil com ele.

— Ivy estará no seu lugar amanhã, estou te pondo oficialmente de castigo. — Uni as sobrancelhas ouvindo aquela besteira enquanto sentávamos na banqueta do bar. — Podemos ser notificados, Callie, você anda trabalhando demais e já ultrapassou as horas permitidas de trabalho do mês.

O barman encheu minha caneca e eu quase virei de uma vez só.

— Não faria isso comigo. — Suspirei chateada, ficar sem trabalhar seria trágico para a minha mente conturbada.

Mike deu de ombros, não era brincadeira.

— Eu preciso de um emprego de verdade. — Eu disse finalmente e terminei de beber. — As horas extras estão apenas me matando e não pagam tão bem quanto eu preciso.

Mike virou sua dose de uísque e bateu o copo na mesa.

— Não ouse me deixar sozinho naquele hospital, eu não tenho mais cabeça para tolerar toda aquela merda sem sua ajuda.

— Me contratar como efetiva ajudaria minha vida financeira e me privaria de sair daquele hospício. — Se ele pudesse fazer isso, seria a minha salvação.

Meu copo foi preenchido outra vez e Mike pediu uma dose para mim, a noite seria longa pelo jeito.

— Está tentando me embebedar Michael? — Eu ri jogando o uísque para dentro da garganta e sentindo-o queimar a minha alma, ele deu de ombros e riu. — Que bom, porque estou precisando.

O calor do álcool começou a aquecer meu corpo, era bom, conhecido e me senti ainda melhor depois que arranquei a jaqueta das minhas costas. Livre, ajeitei as alças da regata e soltei aquele maldito coque. Minha cabeça latejava pela força que usei para prender, claro, graças a importunação de Jess.

 (DEGUSTAÇÃO) A Obsessão do Sr. Collerman - Fugir Não é uma opçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora