Capítulo 1

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ATENÇÃO - São apenas dois capítulos de apresentação da série Azteca que já está disponível na AMAZON, breve trarei um livro totalmente novo para o Wattpad. 



Miguel

A morte é mesmo democrática, iguala a todos, ricos e pobres, homens e mulheres. Celebra-la parece ser a única maneira de confirmar esse sentimento, apaziguar o coração e conviver com a saudade.

Senti falta de estar em casa no Dia dos Mortos, em nenhum outro lugar do mundo há uma festa tão alegre e bonita para celebrar essa data, mas aqui, no México, esse talvez seja o dia mais importante, onde os mortos vêm nos visitar e são recebidos com riso, doces, cores e festa.

Eu tinha nove anos quando minha mãe morreu e desde a sua morte, festejar essa data era a maneira que eu encontrava de me sentir perto dela. Guadalupe me ajudava a preparar as caveiras de açúcar, colocávamos no altar junto com as flores, as comidas preferidas da mamãe e eu realmente sentia sua presença, parecia que ela realmente vinha passar o dia comigo, não me lembro bem quando deixei de acreditar nisso, mas o tempo e a vida adulta me tirou um pouco dessa fantasia.

Talvez os anos em que passei fora de casa, cinco estudando nos Estados Unidos, mais dois me especializando no Qatar, tudo isso apagou um pouco minhas crenças. Felizmente estou de volta para ficar, não férias como antes.

Deixo meu quarto já sentindo o cheiro das comidas sendo preparadas se espalhar pela casa, passo pelo corredor e paro diante da porta aberta de Gael.

Meu irmão mais novo está deitado no colo de Lupita, sua melhor amiga desde os primeiros meses de vida, Lupita também nasceu aqui, sua mãe trabalha para o meu pai desde muito jovem, foi aqui que conheceu o marido agora falecido e também foi aqui que teve sua filha na mesma época que meu pai teve Gael com a segunda esposa, mas Joana morreu no parto, papai criou sozinho Gael, na verdade com a ajuda de Guadalupe, ela está aqui desde a fundação do Haras, é o mais perto de mãe que eu e Gael temos como referência.

Lupita toda compenetrada desenha a caveira no rosto de Gael, o dela já está todo pintado, fico um instante de pé na porta os assistindo, eles não são mais crianças, mas acho que se esquecem disso, os dois tem dezesseis anos, mas ainda correm pelo haras e brincam e brigam como crianças.

— Miguel! – Lupita ergue o rosto e me sorri. – Quer fazer maquiagem? Olha como estou ficando cada dia melhor nisso?

—Não, Lupita, acho que eu passo!

— Miguel está chato desde que voltou para casa, ele não entra mais nas brincadeiras, Lupi.

—Vou trabalhar, meninos!

—Hoje é feriado! – Gael avisa enquanto Lupita o puxa com força de volta para o seu quarto.

— Fica quieto, vou acabar borrando tudo, não vou começar de novo! – Eu os deixo discutindo e vou para a cozinha.

Guadalupe está em meio a suas panelas e bagunças, caveiras de açúcar enfileiradas no balcão, Tamales embrulhados em palha de milho descansam em uma bandeja, no fogo o cheiro do Pozole sendo cozinho, a comida preferida da minha mãe, Guadalupe nunca esquece de preparar.

— Bom dia! – Digo afastando uma cadeira e me acomodando.

— Bom dia! – Ela responde se virando para me sorrir, os cabelos começando a ficar brincos. – Coma alguma coisa, estou doida aqui com as comidas do altar.

— Por que não pede ajuda, Guadalupe? É muito para fazer sozinha. – Eu me sirvo de uma xícara de café. – Ela coloca uma tortilha na minha frente junto com uma porção de ovos cozidos.

Série Azteca - Miguel (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora