Capítulo 3: Mau agouro

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Aquele tormento dura a eternidade de alguns minutos

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Aquele tormento dura a eternidade de alguns minutos. Quando pôr fim a pressão nas costas somem, recupero o folego. Nunca fui tão feliz por respirar. Os pulmões ardem e mesmo com golfadas de ar, não parece o suficiente.

O corpo doí pelo esforço, mas ao menos estou inteira. Diferente da pilastra que teve o cimento arrancado e o aço interno exposto. A única parte ainda em pé é a que está embaixo d'água, onde ainda me agarro.

Me coloco de pé, as pernas trêmulas. Ainda com a visão turva e o mundo girando, procuro pelo homem que salvou minha vida. Nenhum sinal. Limpo o rosto e é aí que meu coração para. Kuro não está nela.

Olho para o mar à minha volta e não o encontro. Foram minutos! Não lembro de tê-lo soltado. Abaixei o braço, mas... meu bolso!

Apalpo a blusa e sinto seu corpo. O puxo e ele está imóvel.

— Kuro!

Passo pelo hall em direção à escada de incêndio. É quase um parto abri-la, mas não desisto. Quando por fim consigo uma brecha, pego um pedaço de madeira boiando e o uso de alavanca para abrir o suficiente e passar. Em um piscar de olhos o que estava intacto inunda. Seguro Kuro contra o peito e subo até um degrau seco. O tiro de dentro da camisa e o deito sobre o cimento gelado.

— Vamos lá rapaz. — Viro sua cabeça para o lado, abro as asas e começo a pressionar meus dedos sobre seu peito.

Abro seu bico e volto a fazer as compressões. Várias vezes, sem parar. A mão doendo, mas sem parar, até que me devolve uma resposta. O corpo se contrai, cuspindo água. Viro-o e passo a dar tapinhas nas costas.

— Vamos.... vamos... por favor... — De repente ele faz um som estranho e eu paro de trabalhar. — Kuro?

Grãa — engasga. Bato mais algumas vezes e ele expele o que falta.

— Bom garoto. Bom garoto. — O deixo descansar no chão, recuperando o fôlego enquanto eu mesma tento me acalmar. — Que loucura foi essa hein? Era pra ser só um passeio.

Minhas mãos tremem feito varas verdes e estão cheias de cortes. Isso e os hematomas escondidos pela roupa que não vejo, mas sinto eles latejando.

Ahh... — meu amigo geme.

— É, eu também acho. Queria ter conseguido salvar aquele homem.

Kuro bate as asas e se coloca sobre as duas patas. Ainda tonto, mas em pé.

— Muito bem! — Comemoro. — Vamos voltar pra casa agora?

— Grah!

Estico o braço e ele sobe até meu ombro. Onde enfia as unhas e se encolhe, como se quisesse garantir que não cairia dali.

Respiro fundo e começo a subir. Por cada andar que passo, escuto alguma coisa. Hora são crianças chorando, hora telefones tocando ou pessoas discutindo. Choro ao ver o número sete, minhas pernas queimam com o esforço. Abro a porta e saio no meu corredor. Tudo aparentemente no lugar, até agora. Puxo a bolsa e pego as chaves. Só então me lembro da nova aquisição. Abro o zíper do compartimento externo da bolsa e o celular está lá, quase inteiro. A tela está trincada, mas ao apertar o botão de ligar ele funciona.

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⏰ Última atualização: Aug 25, 2023 ⏰

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