Faz uma semana desde que eu acordei no horário certo. Ultimamente, tenho me atrasado para tudo sempre que me deito para dormir. Mesmo sem estar com sono, de repente acordo e me vejo sonolenta. E mesmo não tendo Narcolepsia, eu durmo como se não tivesse dormido a dias. Fico horas e horas deitada, e nem me lembro de sequer sonhar. Sabe o que dizem né? Quando se está exausto, não se sonha. Mas tenho dormido tanto ultimamente, que virou algo tão necessário quanto puxar e soltar o ar. Mesmo o mais alto dos alarmes não é capaz de me acordar. Certo dia, acordei normalmente, mas estava encharcada e com frio, minhas roupas pingavam e minha cama estava pior. Quando me levantei, minha mãe havia me dito que jogou diversos baldes de água fria em cima de mim para que eu acordasse, mas eu estava inerte, então ela desistiu. Olhei para o amuleto que estava em cima do banquinho que eu deixava ao lado da minha cama. O amuleto era de corrente dourada, com um círculo de obsidiana e uma representação do Olho Que Tudo Vê. As vezes, eu achava que ele realmente via, pois quando minha mãe me deu ele, há alguns anos, me falando para cuidar que era de família. Eu podia jurar que ele observava cada movimento meu, mas quando relatei a minha mãe, ela apenas me olhou tão inexpressivamente que eu engoli em seco, então disse que ia dormir. Quando cheguei em meu quarto, a cama estava como sempre, quente. Afinal, por eu passar a maior parte do meu tempo ocupada dormindo, ela sempre estava pronta para me receber outra vez. Sinceramente, a cama tem se tornado meu maior aconchego ultimamente, meu lugar favorito. Eu só ficava nela mesmo; por mais que as risadas infantis que eu escuto todas as noites atrasassem meu sono.
Eu não sei quanto tempo havia se passado, mas era tarde. Tudo estava escuro, e o silêncio recaía no local de modo que eu pudesse ouvir tudo, mas ao mesmo tempo, não ouvia nada. Notei uma luz brilhante vindo do amuleto. Ele parecia sussurrar meu nome. Corri até o banquinho e peguei o amuleto, o colocando no pescoço. Então coloquei a mão no batente da porta, olhando em volta. Nada. Decidi ir até a cozinha, procurar por minha mãe. E quando eu cheguei na cozinha. Ali estava ela, de frente para mim. Me encarando com aqueles olhos vazios e sem emoção alguma. Mas tinha algo a mais e foi oque realmente me assustou. Na testa dela estava escrito: VOLTE. repetidas vezes. E foi quando ela deu um passo lento em minha direção que o amuleto brilhou mais forte. Ela deu outro passo, e o amuleto brilhou mais. E ela deu outro, e outro, e outro. E eu não conseguia me mover, nada me tirava do lugar. E ela parou a poucos centímetros de mim. Me encarando com aquela alma vazia.— Venha. Volte para mim. Volte comigo — Ela falou docemente, conforme colocava a mão em meu ombro. — Venha querida, eu te amo.
Eu estava confusa, mas foi quando eu me lembrei. Eu não sentia fome, não nada, porque estava Morta. Minha mãe havia me matado. Ela me manteve em cárcere privado no porão durante um mês conforme me torturava física e sexualmente. E depois de se cansar de mim, me prendeu em uma banheira com água e jogou uma torradeira ligada nela. E agora meu espírito se recusava a aceitar isso, e criava cenários falsos na minha cabeça para que eu pensasse que estava vivendo uma vida supostamente "normal."
Ouvi novamente a risada infantil de todas as noites, e atrás de minha mãe estava agora, uma criança. Mas não era qualquer criança. Não. Era Eu. E ela fazia constantemente sinais em negativa com a mão para mim. O amuleto brilhou mais forte quando a criança apareceu.— Filha?...
Eu estava travada. Não conseguia me mover. Eu tinha apenas 7 anos, afinal. O pior de tudo, foi que ela me matou no dia de meu aniversário. Olhei para trás de minha mãe novamente, mas a criança já não estava mais ali. Minha mãe olhou com aqueles olhos vazios e arregalados para mim outra vez e eu consegui me mexer, finalmente. Empurrei ela para longe, de modo que eu conseguisse dar alguns passos para trás e me afastar.
— Venha comigo. — Ela falou, irritada, com ódio nas palavras. Minha mãe sempre teve ácido no lugar da língua, então estava acostumada com este tipo de tom de voz, oque me permitiu manter a calma.
— Obedeça a sua mãe — Ela exclamou, e eu dei outro passo para trás, por precaução.
— Você não é minha mãe. Uma mãe não faz oque você fez comigo!! — Gritei, e ela continuou a me olhar com aqueles olhos vazios e sem sentimento algum.
— Você vai se arrepender se não vier comigo. — Ela falou tão baixo que o som foi quase inaudível.
— Eu não vou mais ficar um segundo perto de você!! — Espraguejei, e agarrei o amuleto com força, o puxando e jogando sobre ela. E ela soltou um grito tão estridente que tapei meus ouvidos e fechei os olhos com força.
Acordei em um sobressalto, suando frio e ofegante. Minha cama, encharcada de suor. Toquei meu pescoço, o qual ainda continha o amuleto. Soltei um suspiro pesado de alívio. Era um pesadelo. Ouvi passos leves se aproximando e mamãe apareceu à porta do quarto; sorrindo para mim.— Vá para seu banho para tomar o café da manhã — Ela disse, radiante. — Estou fazendo torradas para nós.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O amuleto de Campshek(Conto curto)
TerrorA mulher ganha um amuleto de sua mãe, um amuleto, segundo ela, passado de geração em geração. mas o amuleto não é normal, ele fala, ele canta para a mulher dormir, ele a faz cair no mais profundo sono, como uma mãe, como um acolhedor. Mas, o que rea...