UNIFICAÇÃO

Capítulo 1

Números, gráficos e tabelas.

Eram as únicas coisas que Seraphine havia visto nas últimas quatro horas. Sua cabeça já havia começado a latejar e seus olhos estavam ardendo como se estivesse na frente de uma fogueira com muita fumaça. Mas mesmo diante disso ela não queria parar até conseguir terminar seu trabalho e poder enviar para seu supervisor.

Era claro para todos que a conheciam que ela era uma funcionária extremamente dedicada e inteligente. Apesar se ser quieta, era muito gentil com todos que tinha a oportunidade de falar, ainda assim, ela não tinha muitos amigos, ninguém sabia exatamente o porquê. A garota bebeu o último gole da sua xícara de café e suspirou aliviada vendo o trabalho enfim concluído. Não via a hora de ir para a casa. Precisava descansar mais do que tudo, isso porque ainda estava no meio da semana. A mesma se certificou de enviar o email com todo o trabalho feito para seu chefe e saiu de seu escritório, caminhando em direção a cafeteria do prédio.

Era rotina, todos os dias antes de sair do trabalho ela passava no local e comprava um bolinho de chocolate com geleia de cereja. Gostava de comer assistindo o jornal. Ao adentrar o elevador de vidros, sorriu simpática para o homem de cabelos grisalhos. Observou que sua camisa social estava abarrotada como todos os dias, talvez devesse oferecer ajuda mas não queria ser indelicada, visto que sabia que ele ainda estava aprendendo a conviver sozinho desde a sua recente viuvez.

—— Boa noite, senhor Hawthorne. Vejo que já está de saida. — Cumprimentou desviando o olhar para a maleta em sua mão — Espero que tenha um bom descanso. 

—— Boa noite, Seraphine. Por favor me chame de Arthur, não precisa me lembrar da minha velhice aparente.

A morena deixou escapar uma risada leve diante de seu comentário. Colocou ambas as mãos para a frente, segurando sua bolsa e ficando em silêncio apenas observando as coisas ao seu redor. Apesar de já fazer três meses que começou a trabalhar na empresa não havia conseguido se acostumar com a tecnologia e modernidade do local, tudo parecia muito novo já que ela morava no interior onde a tecnologia não era muito bem vinda. O elevador em que estava se assemelhava a uma cápsula oval, deslizando suavemente dentro de um amplo tubo vertical. A cápsula permitia uma visão panorâmica do ambiente externo conforme se movia para cima ou para baixo. A sensação que ela tinha era de estar flutuando. A única controvérsia era o leve zumbido mecânico que fazia sem parar durante todo o trajeto. Assim que as portas se abriram a garota acenou com a cabeça se despedindo e voltando a fazer seu trajeto, se despedindo com palavras breves a algumas pessoas que cruzavam seu caminho.

—— Boa noite, Senhorita Althea. Imagino que vai ser o de sempre?

Seraphine sorriu simpática se aproximando do balcão e concordou com a cabeça.

—— Boa noite, Benjamin. Acho que vou precisar começar a experimentar coisas novas. Já estou ficando muito óbvia.

—— Se fizer isso, para quem vou guardar os bolinhos?

O atendente respondeu com um sorriso gentil, estendendo o pacote e recolhendo o dinheiro que lhe foi entregue. Ele foi a primeira pessoa que conversou com ela quando entrou na empresa, e por isso ela sempre foi muito grata. A mesma agradeceu mais uma vez antes de virar as costas com intenção de sair dali e ir finalmente para sua casa mas seus passos são interrompidos pelo toque característico do jornal na transmissão holográfica. O brilho azulado paira no ar, atraindo seu olhar curioso para o grupo de pessoas que já se reuniam em frente ao grande painel. Com passos ágeis a mesma se junta ao grupo, escutando os murmúrios de expectativa e curiosidade ao redor. Transmissões vinda da família real não eram comuns, e era devido a isso que em menos de dois minutos a cafeteria já se assemelhava a um cinema lotado.