Prólogo: Ouro e Fogo

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Melissa desceu do ônibus primeiro, não porque estava ansiosa - eram as últimas duas passageiras -, mas porque era o seu papel como irmã mais nova: Querer agir como se fosse a mais velha, e parecer confiante em tudo.

Amanda já não sentia essa necessidade; a diferença de idade das duas eram meros sete minutos, e, portanto, achava que dividiam as responsabilidades do irmão mais velho e do irmão mais novo.

Só tinham que estar ali, uma para a outra.

E então, ali ela estava. O motor do ônibus morreu aos poucos, e o motorista saiu para comer algo, sem dar muita atenção para as duas mulheres paradas ao lado do ônibus, aparentemente da mesma altura, no ângulo no qual pareciam mais gêmeas - de costas. A rodoviária empoeirada estava cheia naquela hora da noite, com suas luzes incandescentes piscando aqui e ali, onde a energia às vezes faltava.

Era o começo de um recomeço que chegava, doce como o fim do mês de maio, discreto como a brisa que levantava os cabelos soltos das mulheres da multidão.Algumas pessoas as notaram, talvez pela cor azul dos cabelos médios de Amanda, desfiado em ondas bagunçadas, ou talvez pelas mechas vermelhas no cabelo quase preto de Melissa. Mechas que, agora, faziam uma faixa vermelha no topo da sua cabeça, quase como um moicano de cor, pois seu cabelo volumoso estava todo preso.

Talvez não fosse nem pelos cabelos, nem pelas roupas, e muito menos pelas semelhanças e divergências que elas partilhavam. Porque aquela cidade era muito maior do que a anterior, e ali já deviam estar mais acostumados com cores de cabelos e irmãs gêmeas tão diferentes.

Elas, enfim, se entreolharam.

E naquela instante a magia pareceu escapar até pelas rachaduras do asfalto, sólida como todas as lembranças que deixaram para trás, faiscando como ouro líquido na escuridão, apenas para tocar cada célula de pele descoberta em seus braços nus.

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