Capítulo Três: Olhos de Gato

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A massa mole no asfalto era um homem; muito ensanguentado, por sinal. Melissa quase não reconheceu a cabeleira loira, que agora estava suja de fuligem e sangue, com uma aparência grudenta muito diferente da aveludada que vira de tarde no elevador quando voltara para pegar suas coisas e ir embora da E4U.

Max se mexia minimamente, parecendo fazer muito esforço para respirar, o rosto inteiro inchado e coberto de sangue. Melissa assegurou-se de que estavam sozinhos, vasculhando toda a área com um feitiço antes de correr até ele. Sua mente parecia um turbilhão, trabalhando por ela enquanto ela tentava não surtar.

- Max? - Mel era boa com nomes, e, por mais incrível que pareça, o rosto era a parte menos machucada do homem, com apenas um corte no supercílio, responsável por todo o sangue.

Ele grunhiu baixo em resposta. Ela procurou por poças de sangue ao redor do corpo, e capsulas de balas, mas não encontrou nada. Se aquilo fora feito apenas com as mãos, o homem devia ter brigado com um gigante.
Ou, se dessem azar o suficiente, coisa muito pior.

Melissa fez o que podia para fazer os ferimentos pararem de sangrar, mas para ajudar Max ela precisava de mais do que um simples feitiço. Ela fez o suficiente apenas para conseguir levá-lo para o apartamento e não acabar matando-o no processo, diminuindo o peso sobre seus ombros quando neles o apoiou. Pisou em cada degrau com cuidado absoluto, temendo machucá-lo ainda mais no processo. Havia sangue e sujeira em seu vestido, e provavelmente na jaqueta de Otto, mas ela não se importava tanto com aquilo aquele momento.

Arrastou-o com paciência pelos metros finais, sussurrando com dificuldade as palavras certas para abrir a porta. Conseguia ouvir os resmungos de Amanda na cozinha, em uma conversa completamente sem sentido com suas corujas. Suas costas doíam, mas ela tinha medo de qualquer movimento brusco acabar quebrando outra costela do homem, concentrando todo o poder que ainda tinha para abrir espaço entre as almofadas e cobertores que cobriam o sofá, antes de largá-lo com cuidado ali.
- Amanda... - gritou com o que pareceu um fio de voz, áspero em sua garganta, morrendo ao chegar no final. Precisava de um copo d'água, um banho e descobrir desesperadamente o que o homem estava fazendo semi-morto jogado ao lado de seu prédio. Não houve nenhuma resposta da parte da irmã - Amanda!
Ouviu a irmã arrastando-se até a sala sem qualquer paciência, sendo seguida de perto por um grupo de gatos e corujas. Quando Amanda parou ao seu lado só havia irritação em seu rosto, como se a mais nova tivesse interrompido uma tarefa muitíssimo importante. Sua testa se franziu levemente ao notar o sangue, mas o grito de terror que escapou de seus lábios ao notar o corpo no sofá feriu os ouvidos de Melissa.
- O. Quê. Você. Fez? - perguntou pausadamente, o peito subindo e descendo freneticamente no roupão - Quem. É. Esse? É. Russo? RESPONDE, MELISSA.
- O nome dele é Max... - sentou-se no chão, ignorando a loucura da irmã, deixando que o cansaço tomasse conta de todo o seu corpo. Esfregou as palmas das mãos, deixando com que o ar entrasse devagar em seus pulmões, restaurando aos poucos sua energia - E é só isso que eu sei. Ele estava jogado, inconsciente, no beco aqui ao lado.
- E você simplesmente resolveu trazê-lo para dentro de casa?

- Sim. - Por um instante pareceu que isso seria tudo que Melissa diria, então ela tomou ar e completou: - Eu o conheço. Não podia deixá-lo na rua.
- Mas você não podia também trazê-lo aqui para dentro, poxa! - a irmã começava a andar de um lado para o outro, rangendo os dentes e arranhando as próprias palmas das mãos.

- Não só posso como acabei de fazê-lo. - Melissa arrumou Max no sofá, sem se preocupar com possíveis manchas porque o sofá já tinha sua proteção mágica anti-vinho, o que meio que incluía qualquer tipo de sujeira. Ele era intocável.

Já o rapaz no sofá não tinha a mesma sorte. Ainda não havia esboçado nenhuma reação, apenas alguns gemidos desconexos aqui e ali, seus músculos tremendo levemente. Melissa fez força para se levantar, apoiando-se no tapete.
- Preciso de ajuda para preparar aquele unguento da vovó. - disse para uma

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