Parte 1: o começo de tudo

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   Bem, acho que posso começar isso aqui me apresentando antes de qualquer coisa: meu nome é Gabriel Lino, sou um meio demônio que nasceu em uma casa humilde, em um vilarejo fora de toda a riqueza do grande reino, mas ainda sim estava em terras dominadas por eles.

   Meus pais eram meio demônios também, sendo minha mãe uma artesã e meu pai, um fazendeiro, que todo dia me enchiam de amor e carinho. Minha vida sempre foi muito simples: eu ajudava meu pai nas terras que tínhamos, observava minha mãe costurar roupas e, quando eles deixavam, eu os acompanhava no reino para vender as verduras e as roupas.

   Éramos uma família tão simples que não queríamos nada além do que nos fosse merecido, então nenhum de nós jamais pensou em nada criminoso, mesmo passando por dificuldades às vezes e vendo que muitos conhecidos seguiram esse caminho. Desde cedo, fui ensinado a ser honesto, educado e verdadeiro, pois o mundo sorriria para mim de volta quando eu menos esperasse.

   Certa vez, meu pai pegou uma carroça pequena que tínhamos em casa, amarrou nosso burrinho e foi com minha mãe para o reino vender os produtos da nossa horta, pois a cobrança de impostos seria em poucos dias e estávamos sem dinheiro algum.

Nessas viagens, eu sabia que ficaria sozinho por dois ou três dias, então estava acostumado a me virar, mas nesse dia, algo estranho aconteceu. Estava cuidando da horta quando chegaram três cavaleiros do reino procurando pelo meu pai:

- Onde está o dono da casa, garoto? - disse um dos cavaleiros.

- Meu pai foi ontem para o reino vender nossas verduras, senhor - respondi com um sorriso no rosto e uma reverência para eles.

- Então já deve ter o dinheiro para nos pagar os impostos. Obrigado, garoto - disse o cavaleiro, que recuou com os outros rumo ao reino.

   Quando voltei a trabalhar na horta, ouvi algo se aproximando por trás e me acertando com força na cabeça, me deixando inconsciente por algumas horas.

   No momento que acordei, vi meus pais na minha frente, apanhando com clavas e chicotes, enquanto estavam amarrados. Tentei me levantar, mas notei que também estava amarrado. A minha visão estava embaçada, o que deixava muito mais difícil de ver quem estava machucando minha família, mas assim que meus olhos se acostumaram, vi que estávamos em uma caverna escura e que aqueles eram os cavaleiros que tinham falado comigo.

- Pague o que nos deve, seu porco! Ou farei seu filho pagar com a vida! - disse o cavaleiro enquanto batia cada vez mais no meu pai.

   Meu pai estava se afogando em sangue, então não respondia nada e minha mãe também estava muito machucada, mas mesmo assim, um dos cavaleiros acertou ela com força na costela, fazendo com que vomitasse sangue.

   Senti o desespero tomar conta, o meu sangue fervendo e minha visão ficando avermelhada, até que perdi a consciência novamente.

   Quando voltei, senti meus dedos doendo. A minha visão lentamente foi voltando ao normal, até que pude ver minha mãe tentando ao máximo ajudar meu pai a melhorar, mas ele estava muito machucado.

   Não havia sinal dos cavaleiros, apenas suas armaduras e um cheiro de carne queimada no ar. Notei que estava solto das cordas, então corri até meus pais e vi meu pai sorrindo para mim.

- Filho, cuida da sua mãe. Hoje eu vi o que você pode fazer e sei que vai cuidar dela - disse meu pai, enquanto tossia e cuspia sangue.

- Papai, você vai ficar bem! A gente vai te tirar daqui! Eu sei que você é forte e vai conseguir - falei, em meio às lágrimas e soluços.

- Só mais uma coisa - disse ele puxando algo de dentro do manto vermelho que usava - toma esse presente. Amanhã é seu aniversário de doze anos e eu não vou estar aqui para te entregar.

Lino, o herói perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora