– E quando tu estiveres alcançado o limite da supremacia que lhe é possível. Estarás tu satisfeito com o resultado dessa sentença? Tu és Problema-homem. Como tal, lançar-te-á noutro desejo. O limite desse problema é faminta pantera. Ao contrário, tendo vós a eternidade, poderia ser bom quando desejasse. Cansado da bondade, lançar-te-ia a malevolência se lhe desse à veneta. Não haveria pena que não pudesse pagar. A eternidade! Imagine agora que tens a eternidade.
– Acaso detém a eternidade quem não a merece? Como posso imaginar tal coisa? – indaguei consultando um ponto no escuro, de onde emanava a voz que agora, parecia-me mais juvenil.
– De uma perspectiva axiológica não. Mas dentre Problema-homem é semeado um conto. Diz-se a respeito de um maestro que propondo temas musicais encontrou em sua orquestra um instrumento que desejava ser independente. Pensava ele, que sozinho poderia produzir todo som, e, portanto, qualquer música. Estava redondamente errado, mas insistia nisso. O conto diz que uma música deveria ser criada, mas pela resistência em assumir o teu lugar, o instrumento foi expulso da orquestra levando com ele alguns outros também. Tais instrumentos detém a eternidade. Na sua percepção, eles a merecem?
A voz se manifestou noutro ponto, um oposto ao que eu havia consultado. Podia estar distante ou perto. Gritar ou sussurrar, tais variações pouco importavam, pois tuas falas reverberavam cheias de emoções. Mas quando, na ausência de claridade para revelar-me as coisas que se acomodavam no espaço, experimentei uma tentativa de identificar emoções sem percebê-las pelos sentidos que dotam o corpo, dei-me conta de que as falas não reverberam cheias de emoções. Eram apenas expressões desprovidas de sentimentos que eu, na qualidade de Problema-homem, busquei significância. Despertada foi em mim a necessidade de tudo significar, classificar, quantificar, qualificar...
Dei-me conta! Em verdade dei-me conta! A vida é tal como o ponto. Não posso defini-la na qualidade de Problema-homem. Do mesmo modo o tempo! Mas permito-me supor que a vida é instante de um tempo que me foi designado. Se por um maestro ou por uma sucessão de eventualidades fractais, estou impossibilitado de responder, pois sou ainda Problema-homem.
– Tem uma camisa sobre o baú. Tua mãe que a fez. Ela lhe pediu tecido de cor, mas que não fosse o cinza... Mesmo assim deste a ela as cinzas de tuas perguntas. Quando deixar de ser Problema-homem, o que haverás tu de ser?
– Não sei. – respondi sem prestar devida atenção à pergunta, pois ainda estava envolto na emaranhada questão do maestro. – Mas, – suspirei posicionando cada palavra em seu devido lugar; – Nesse mesmo conto diz que chegará um tempo em que tais instrumentos serão destruídos.
– Então está a me dizer que o fim sucede o tempo?
Eu podia perceber um quê de perplexidade e exaltação em tal pergunta, mas também não saberia definir se eram meus tais sentimentos, mesmo que... Eventualmente, não fossem.
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ESTERTOR
FantasyÉ pedido ao leitor, que não busque por explicações a respeito de algumas passagens ou abordagens presente nessa obra, pois nela se encontra perspectivavas construídas a partir de metáforas, ou temas dos quais a filosofia buscou, ou ainda busca prest...