Mestre dos Mares

Prólogo

Trilha sonora: Hold On - Chord Overstreet

Em uma noite de lua cheia na cidade de Dalyan, Azra dava à luz a bebês gêmeos, filhos de um pirata. Antes de tudo desmoronar, ela era a herdeira do Duque, a filha perfeita que sempre acatou suas ordens sem reclamar. Ela era o troféu que seu pai exibia por toda cidade e um dia negociaria sua mão em troca de mais poder e dinheiro, esse era o plano. Maldita hora que se apaixonou por um trapaceiro. Por um instante achou que ele seria sua salvação, mas agora...

- Tem alguém aí? Me ajuda por favor! Eu não aguento mais. – Suplicou em desespero.

A cabeça pendendo para trás em meio a soluços, as lágrimas escorrendo por seu rosto a cada contração. Era visível que seu corpo estava sucumbindo à dor, seu choro soava por todo o quarto. Tamanha era a dor de ser rejeitada e abandonada à própria sorte, a dor de parir seus filhos sozinha sem saber se poderia sequer mantê-los até o dia seguinte.
Não havia mais ninguém. Ela estava sozinha com as dores do parto, exausta e sem forças. Em meio aos seus grunhidos de dor e suspiros, ela buscava forças. Mesmo sem fé, implorou aos deuses ou quem quer que pudesse ouvir e ajudar.
Mesmo assim, seu corpo estava cada vez mais frio, como se a vida estivesse se esvaindo a cada respiração. Em seu íntimo ela sabia que morreria antes mesmo de conseguir memorizar cada traço, linha e expressão, até os rostos de seus filhos.

- Por favor, me dê forças! Por favor, eu imploro. Só preciso aguentar mais um pouco.

Ela mal conseguia segurar o bebê que estava em seu colo e ainda esperava pelo segundo em sua barriga. Como poderia suportar tudo o que viria a seguir? Por mais que exigisse mais de si, ela já não aguentava o fardo. A culpa era dela, ela tinha certeza. Estavam nessa situação por causa dela. E mesmo que não esperasse a solidão no dia do nascimento de seus amados filhos, foi o que recebeu. A partir dali seria cada vez pior. Era uma escolha permitir que os outros ditassem sua vida ou a de seus filhos. Ela não aceitaria mais que decidissem por ela. Seus bebês eram ansiosamente esperados, eram desejados por ela.
Dentro de si uma pequena parte desejava não estar naquela situação. Ela sempre soube e escolheu se casar com um pirata mesmo assim. É claro que ele não iria se comportar, seu espírito era livre ou só imprudente. Haviam 4 meses que ele não pisava em terra firme, estava sendo caçado pela coroa de novo. Talvez nem imaginasse que havia chegado a hora. As vezes ela se perguntava se ele tinha curiosidade de conhecê-los, ela queria saber se ele ainda a amava ou se voltaria para casa um dia. Tamanho era o sofrimento que a abraçava.
Naquele momento não fazia ideia, mas ele nunca retornaria. Não era a promessa de morte que o impedia de voltar, ele tampouco deixou de amá-la e sim, ele possuía algum sentimento pelos seus filhos. A verdade é que acima de tudo, ele amava mais as aventuras. Ele foi capaz de largar tudo e todos sem pensar duas vezes. Durante anos, preferiu o mar e o mar cobrou seu preço.
Ela, por outro lado, não tinha a opção de fugir. Jamais poderia deixar suas crianças para trás. Como poderia abandoná-los ? Ela já conhecia a dor de ser rejeitada. Além disso, estava mal vista na cidade, todos a rejeitaram e subjugaram. O pouco dinheiro que conseguia era lavando e costurando, isso não era o suficiente. Os três estavam fadados à morte desde o princípio, mas ela não desistiu. Aquela voz dentro de si não iria permitir, era reconfortante, a promessa de que tudo valeria a pena. O destino deles seria diferente, ela faria ser.
Naquele momento, quase morrendo para dar à luz, Lady Azra decidiu que daria tudo por seus filhos, faria tudo para que sua vida fosse diferente. Ela os ensinaria a serem o que quisessem. Mais do que isso, ela mostraria que era uma lady e pirara melhor do que o pai deles.
Envolta em uma oração suplicante e uma mistura de sentimentos tristes, ela sentiu uma força inexplicável crescendo dentro de si, como uma incêndio que inicia com uma fagulha. Era a confirmação de que tudo estava sendo acompanhado, visto e anotado. O destino acertaria as contas no futuro, cobraria da pessoa que os desgraçou e abandonou naquela situação. Então percebeu que algo mudou em si, era muito maior do que poderia esperar, era a certeza de um novo amanhã para eles.