Sasuke

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Dois anos antes...

__ RAPAZES! LEVANTEM-SE! AGORA!

Meus olhos se abrem ao som dos gritos do nosso pai.

__ Merda! - Naruto sussurra ao meu lado.

Ele se move para ficar de pé, mas eu me movo mais rápido, prendendo-o no colchão com minhas mãos em cada lado de sua cabeça, meus quadris descansando entre suas coxas abertas.

__ Fique aqui.

__ Mas...

__ Eu disse pra ficar aqui.

Digo entre dentes e lanço um olhar sério pra Naruto que engole em seco.

__ Se você sair da porra desse quarto, eu juro por Deus que nunca vou te perdoar.

Suavizo minhas feições para ele, gentilmente dando um beijo no ponto enrugado entre suas sobrancelhas. Sabendo que nosso pai está prestes a subir as escadas a qualquer momento, saio do meio de suas pernas e coloco um moletom preto, o deixo lá enquanto desço as escadas para encontrar o filho da puta chateado na sala de estar.

__ Onde você estava ontem a noite? - Ele pergunta, recostando-se na lateral do sofá com os braços cruzados sobre o peito, ainda vestindo o uniforme da polícia do turno de doze horas que acabou de terminar.

__ O que você quer dizer?

__ Não se faça de bobo. - Diz endireitando-se em toda a sua altura, apontando para a janela de sacada ao nosso lado.

__ A vizinha da rua acabou de me dizer que viu vocês dois chegando em casa às três horas da porra da manhã. Me diz em que mundo meus filhos adolescentes podem ficar fora a noite toda, Sasuke?

__ Desculpa.

Minto, esperando terminar isso rápido pra que eu possa voltar para Naruto.

__ Estávamos na casa da Sakura assistindo alguns filmes. Perdemos a hora.

__ Oh, sério? - Ele pergunta num falso tom de voz mansa. __ Você deveria convidá-la para jantar conosco em breve. Eu adoraria conhecê-la adequadamente.

__ Aposto que sim. - Uso um tom de deboche.

Antes que eu possa piscar, seu punho enorme atinge minha bochecha e caio sobre a mesa de café atrás de mim. Minhas costas batem no chão e rolo para o lado, abaixo a cabeça para esconder a forma como meu rosto está contorcido em agonia.

Foda-se.

__ O que eu te disse sobre falar de volta? - O desgraçado grita, mas mal posso ouví-lo por causa do zumbido em meus ouvidos.

Tenho certeza que o filho da puta me bate ainda mais forte do que quando eu era menor, como se temesse que começasse a revidá-lo caso não permanecesse na linha. Não vou revidar, não sou estúpido. Sei que Naruto sofreria as consequências disso. Ele teria que me matar primeiro se quisesse tocar no meu irmão, mas não vou deixar esse pedaço de merda psicótico passar.

__ Onde está seu irmão?

__ Dormindo, senhor. - Falei lutando pra manter um tom respeitoso.

Naruto não está dormindo.

Eu posso apenas imaginá-lo andando de um lado para o outro no meu quarto agora, guerreando consigo mesmo se deveria ou não me obedecer. Esse pensamento embrulha meu estômago. Como se ele pudesse ouvir o que estou pensando, papai olha para as escadas e eu me forço a ficar de pé, ignorando a maneira como a sala gira na minha frente enquanto me movo para bloquear seu caminho. Ele levanta uma sobrancelha escura e me olha com a cabeça inclinada, o maldito é muito alto, mas não me deixo intimidar, estamos quase nivelados. Seus olhos são de puro ódio, definitivamente, não vou deixá-lo passar por mim.

Ele acha que Naruto precisa endurecer.

Eu realmente gostaria de fazê-lo engolir a porra de uma chave inglesa.

Um dia.

Um dia, vamos nos vingar do homem que matou nossa mãe e correr para algum lugar longe daqui. Juntos.

Nós apenas temos que manter nossas bocas fechadas e esperar. Sabendo que não estou prestes a me mover ao seu comando, papai me lança um de seus sorrisos cruéis e balança a cabeça em negação, lentamente recuando em direção a porta que leva a cozinha.

__ Vocês dois estão de castigo por uma semana.

Não dou a mínima.

Assim que ele sai, eu me viro e subo as escadas de dois em dois degraus, parando dentro do meu quarto quando percebo que Naruto não está. O procuro em volta e então olho para a entrada do banheiro, empurro a porta sem bater. Preciso saber se meu irmãozinho está bem.

Ele não está.

Naruto está sentado no chão com as costas contra o balcão, seu peito bronzeado arfando, seus olhos cheios de dor enquanto ele olha para os cortes frescos no seu braço esquerdo.

Porra.

Antes que eu possa me mover ou reagir, ele olha para mim e solta um barulho que dói no meu coração, rangendo os dentes enquanto enfia a ponta afiada da navalha em sua carne.

__ Droga, Naruto. Pare com isso! - Rosno indo até ele.

Cuidadosamente arranco a lâmina de seus dedos e a jogo na pia, pego uma das toalhas de mão no balcão, pressionando-a em seu braço cortado para parar o sangramento. Ele
estremece com a pressão e eu estremeço também, forçando-me a me acalmar antes que o machuque ainda mais. O corte não foi profundo, não dessa vez, mas ainda me assusta da mesma forma.

__ Você me prometeu que iria parar.

O lembro, incapaz de esconder a tensão em minha voz.

__ Você prometeu, Naruto.

__ Eu sei...

Ele engasga, usando seu braço limpo para esconder seu rosto de mim.

__ Desculpe, eu só... é minha cabeça, Sasuke.. Minha cabeça só vai lá por vezes e eu não posso pará-la.

Não entendo o que ele quer dizer, mas não digo isso em voz alta, continuo pressionando a toalha em seu braço enquanto corro minha mão livre em sua nuca.

__ Mais dois anos. - Digo, gentilmente puxo seu cabelo para forçá-lo a olhar para mim. __ Mais dois anos e vamos embora, lembra?

Meu irmão acena com a cabeça algumas vezes, de repente esquecendo seus próprios demônios, examina o mais novo hematoma que está se formando no meu rosto.

__ Isso dói?

__ Não. - Minto, mas desconfio que ele sabe disso.

__ Por que você não deixa ele me bater?

__ Naruto...

__ Pare de me olhar assim. - Ele tira minhas mãos de si. __ Eu sei que você acha que eu não posso lidar com isso, mas eu posso. Você acha que eu sou um bichano, mas eu não sou. Eu posso, porrra! Eu posso aguentar, Sasuke.

__ Mas você não vai!

Retruco e me inclinano sobre ele, quero tocar sua testa com a minha.

__ Ele nunca vai tocar em você novamente, não vou deixar! E não é porque eu acho que você não pode lidar com isso. É porque eu não posso lidar com isso. Não suportaria vê-lo te machucar. Isso me mataria, Naruto.

__ Isso me mata também, sabe? - Naruto sussurra, levemente passando seus lábios sobre o ponto dolorido na minha bochecha. __ Essa porra me mata.

__ É por isso que se cortou?

Ele acena com a cabeça, e eu solto um suspiro trêmulo, trazendo-o para o meu colo, envolvo os meus braços ao redor de sua cintura até que não haja um centímetro de espaço entre nós. Seu corpo relaxa em cima do meu e Naruto se agarra a mim enquanto esconde seu rosto na curva do meu pescoço.

__ Esse não é nosso para sempre, me ouviu?

Pergunto baixinho enquanto acaricio seus cabelos loiros.

__ Não é, irmãozinho.

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