───── ❝ Capitulo VI ❞ ─────

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Wangji aproximou-se de Wuxian quando o viu sair da casa. Tinha esperado do lado de fora até que ele terminasse de examinar Sisi novamente, deixando-a descansar ao lado de Ming e do pequeno Wangji com a promessa de voltar novamente no dia seguinte para saber como estavam. Fez Ming prometer que iria atrás dele se Sisi se sentisse mal ou percebesse algo estranho. Wangji viu o rosto de Wuxian, os sulcos sob seus olhos e seus ombros um pouco afundados como se estivesse segurando o peso do mundo sobre eles.

— Não devia ter ficado esperando por mim. Já fez muito. Deve estar cansado. - disse Wuxian enquanto se colocava ao seu lado para caminharem juntos até sua casa. Wangji fez uma careta com o rosto que não passou despercebido por Wuxian e que trouxe um leve sorriso ao seu rosto jovem.

— Me estende a mão para me levantar. Agora se preocupa com o meu cansaço. Está me chamando de velho?

— Não... Não quis insinuar... não é velho, é jovem e é perfeito. Quero dizer, parece forte e tem apenas vinte e nove anos e essa é a idade certa. E é muito bonito... e... - Wuxian arregalou os olhos quando as últimas palavras saíram de sua boca de antes que pudesse detê-las.

Mais tarde, ao pensar nisso, a única resposta que encontraria para aquele deslize enorme e humilhante era o cansaço, a falta de sono dos últimos dias e todo o medo e a tensão que aconteceram durante o parto da amiga. Suas forças estavam enfraquecendo, suas pernas pareciam feitas de mingau e seu corpo não respondia às suas demandas. Precisava se lavar e ir para a cama por algumas horas. Wangji não pôde evitar o brilho divertido que surgiu em seus olhos quando ouviu as palavras de Wuxian e o viu corar. Nunca em sua vida tinha visto suas bochechas tingidas assim, tanto que temeu que suas pintinhas queimassem. Wangji o observou fechar os olhos e apertá-los, mortificado por suas próprias palavras. Wangji acariciou sua bochecha suavemente. Esse gesto era tão viciante quanto o toque de sua pele sob seus dedos.

— Wuxian, abra os olhos.

Wuxian abriu um olho, em forma de piscadela, como se tivesse medo do que ia encontrar ao olhá-lo, e Wangji teve que conter o sorriso que surgiu em sua boca com assombrosa espontaneidade. Wuxian tinha esse efeito sobre ele. Um a mais em sua longa lista de reações que não podia evitar estando perto dele.

— Desculpe...

— Por quê? Por me dizer que me acha bonito? Desculpe, mas não posso aceitar. Depois de me fazer sentir especial aos seus olhos, não pode tirar isso de mim, porque então me deixaria em desvantagem. Porque te acho maravilhoso em todos os aspectos. E o que fez esta noite, o que fez com Sisi e seu filho, foi incrível.

Wuxian o olhou tentando assimilar tudo o que havia lhe dito. Sentiu que o muro que havia construído durante todos esses anos, a distância que guardava zelosamente com seus sentimentos e com todos os demais se desmoronava. E deu um passo atrás.

— Não fiz nada de especial. Só o que devia. - Respondeu Wuxian apertando levemente os lábios.

Wangji franziu a sobrancelha ao observar a mudança ocorrida em Wuxian. Tinha sido como ser testemunha de uma infinidade de emoções numa realização dissonante, demasiado rápida para poder entendê-lo. Wuxian começou a andar e Wangji caminhou ao lado dele, em silêncio, sentindo que era disso que ele precisava. Quando chegaram à porta da casa de Wuxian, ele se virou para olhar para Wangji e se despedir dele.

— Muito obrigado por tudo que fez esta noite. Lembre-se que prometeu me mostrar a ferida amanhã. - Wangji olhou-o fixamente e de repente ele se sentiu muito vulnerável. Era como se ele pudesse ler sua alma, e embora soubesse que isso era impossível, o sentimento estava lá, assombrando seus demônios e empurrando-o na direção oposta. — Até amanhã. - disse Wuxian de forma atropelada. Ele só queria entrar na segurança de sua casa e esquecer os últimos minutos.

Mᥲrᥴᥲdos Pᥱᥣo DᥱstιᥒoOnde histórias criam vida. Descubra agora