O barulho dos passarinhos acordava Kana, que havia dormido debaixo de uma árvore na floresta. A garota passara a manhã ali, apreciando a natureza e colhendo ervas para sua viagem.
"Mestra, melhor irmos." Uma voz masculina ressoou em sua mente. Era Actoh, seu lobo negro, que atualmente se encontrava na forma de um filhote, deitado em seu colo e apreciando seu carinho.
— Tem razão — a jovem respirou fundo e colocou Actoh no chão, se levantando em seguida. — Mamãe deve estar uma fera comigo por demorar tanto.
"Relaxe, mestra, tudo dará certo".
Espero que sim. Pensou, já se teleportando para perto de casa e caminhando até sua residência. Actoh, é claro, estava com ela, dentro de sua sombra.
— Cheguei — Kana anunciou ao passar pela porta, entrando na sua tão sonhada casa, já vendo seu pai no sofá, terminando de limpar uma de suas espadas.
Ao escutar a voz da filha, Auros tirou sua atenção da lâmina e a encaminhou até a moça, que faria dezessete anos depois da meia noite. Sorriu, contente e triste com o pensamento de que sua pimentinha estava crescendo e que logo os deixaria.
— Que bom que retornou. Sua mãe saiu para buscar alguma coisa que não escutei ela dizer. Se você chegasse depois dela, temo que ficasse de castigo — o tom alegre e risonho na voz do pai era como mel nos ouvidos da filha. Quase dez anos se passaram desde que recebeu aquele brinquedo de seus irmãos. Quase dez anos. Muita coisa mudou e uma delas foi a relação com o pai, que depois de muito esforço por parte da garota, finalmente estava satisfeito com alguns aspectos e habilidades o suficiente para não puxar mais o pé da menina.
Sua mãe, por outro lado...
— Ora, ora, se não é a dama não dama dessa casa! — Danalla entrou em casa com uma sacola grande e uma caixa de presente. Apenas vendo, Kana já suspeitava o que pudesse estar ali dentro.
— Mamãe, eu sou uma dama! — indignou-se a garota com a fala da mais velha, que apontava discretamente o fato da garota de olhos vermelhos preferir calças à vestidos. — Só não sou uma dama convencional.
Danalla ignorou a última sentença da filha e passou direto para a cozinha, guardando a sacola e a caixa. Auros apenas observou a interação das mulheres e sorriu, feliz com sua família.
— Kana, você tem meia hora para colocar um vestido e vir comigo visitar o chefe da vila — Danalla declarou, sua voz abafada pelo que estava fazendo no cômodo vizinho.
A jovem apenas revirou os olhos, caminhando para o andar de cima e entrando em seu recinto. Não estava com raiva da mãe, apenas não queria passar por todo aquele processo burocrático para conseguir a independência com o chefe da vila.
Velho escroto. Kana não gostava daquele homem. Não pela aparência, que não era lá daquelas, mas sua aura era estranha, lhe passando uma sensação de perigo. Sempre que estava perto dele, Actoh e Nora ficavam estranhos, como se seu poder fosse abalado.
Não tendo muita escolha, a garota se esgueirou para o banheiro e se lavou, tirando toda terra e folhas que estavam em sua roupa e corpo. Escolheu um vestido azul claro com detalhes em verde, a menina fez uma tiara de tranças nos cabelos e calçou uma bota branca de cano alto, escondida pelo vestido. Odiava saltos e não as usaria nem no final da vida.
Por fim, pegou Nora e a colocou presa na coroa de tranças. A mesma estava dormindo agora e nesse estado ela servia como qualquer acessório, mais escondida que Actoh.
— Vamos lá, rumo ao castelo do diabo — olhando o espelho, Kana se admirou. Vestidos eram inconvenientes e pesados, sim, mas uma coisa era mais certa ainda: eram lindos.
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Passos de uma Deusa
FantasíaCriada em um pequeno vilarejo na fronteira de seu império, Kana sempre sentia que algo lhe faltava, um desejo de subir os degraus do poder mais e mais forte. Um dia, esse desejo se tornou mais ardente do que nunca, quando os seus irmãos gêmeos troux...