capítulo um

273 55 12
                                    

Ele gostava de dirigir.

Os amigos bruxos dele, inclusive os outros nascidos trouxas, expressavam confusão com o fato dele sequer ter se dado o trabalho de tirar a carteira, quem diga então entendiam porque ele tinha "perdido dinheiro" comprando um carro quando podia só aparatar ou voar para chegar onde quer que precisasse de maneira bem mais rápida e prática. Tessler entendia o ponto deles, mas sempre acabava discutindo e frisando como eles não tinham ideia do quão pacífico era ficar atrás de um volante.

Sempre teve uma paixão por automóveis e locomotivas. A mãe dele gostava de contar como, quando bebê, ele só dormia se eles o levassem para dar uma volta de carro e, em todos seus aniversários quando criança, o único presente que pedia era uma viagem de trem para qualquer destino que os irmãos escolhessem, desde que fosse bem longe e a viagem longa. Todo mês gastava a mesada inteira dele em passagens de ida e volta, indo para a parada mais longe que tinha permissão para ir só para voltar para a estação perto de casa sem nem sair para explorar ou sequer ver o lugar em si.

Os irmãos, já que mais velhos, costumavam ser arrastados quando ele era menor, tendo que o supervisionar, mas quando tinha uns quinze anos a mãe começou a o deixar ir sozinho, marcando uma fase da vida dele em que a família dele mal o via, porque ele ou estava em Hogwarts, ou estava estudando, ou estava em algum trem em alguma parte da Europa, sem destino. Assim que saiu da escola no último ano, pisando no mundo trouxa pela primeira vez tendo dezessete anos, foi aprender a dirigir e nunca mais parou. Aprendeu antes de aprender a aparatar até.

Quando começou o curso para ser auror (o de verdade, não só os preparatórios dos quais vinha participando desde os doze anos), teve um longo ano onde, depois de todas as aulas, ele ia entrar no carro e dirigir sem rumo pela cidade, até o pé na embreagem estar dormente e ele estar longe de todas as casas e prédios e pessoas.

Ia parar em alguma estrada aleatória, em algum canto perdido, e só ia encarar o pôr do sol até ter que voltar para casa, se sentindo um pouco menos vazio, um pouco menos como se o mundo bruxo tivesse o destruído incorrigivelmente através de empurrões nos corredores e o termo "sangue ruim" sendo tacado em sua cara sempre que passava por algum grupo de sonserinos.

Para ele, havia algo poderoso em dirigir, algo quase que como uma cura.

A primeira coisa que ele fez quando saiu do escritório de Baelitz e do Ministério foi entrar no seu Porsche e derrubar os documentos na cadeira do passageiro, as mãos tremendo enquanto apertava o volante e virava a chave. Ele se sentia doente. Achava que ia começar a vomitar e nunca mais parar, um eco de inocente, inocente, inocente que não parava de trombar por todos os lados da cabeça dele.

Tessler sempre dizia e cria que tinha chegado ali por razões honrosas – servir o privado e proteger o público. Muitas pessoas tinham o perguntado porque virar um auror e, até para entrar no curso, ele teve que escrever uma redação sobre seus motivos.

Tinha falado sobre a guerra. Sobre o bullying em Hogwarts, os mais velhos que queriam ser comensais, os mais novos cujos pais tinham sido e, depois de suas prisões, culparam nascidos trouxas; o terror constante de ter entrado no mundo bruxo bem naquele momento de maior instabilidade, quando crimes de ódio contra gente igual a ele eram mais constantes do que comensais sendo punidos. Falou sobre evitar que aquilo acontecesse com qualquer outra criança, sobre proteger os nascidos trouxas e os mestiços, salvar órfãos e dar a vida para evitar outra guerra.

Era verdade, aquilo tudo, mas ele não podia fingir que era uma preocupação que ele tinha tido quando tão menor, ao começar aquela jornada. Até hoje, não era exatamente a sua maior motivação.

Foi Sprout o dando uma lista de outros cargos no Ministério que ela achava que combinavam mais com ele, todos de escritório. O professor de DCAT o olhando de cima a baixo e dizendo, com olhos muito frios, que ele não ia conseguir ser um auror, e as gargalhadas dos grifinórios que lhe seguiram por uns três anos depois deles descobrirem o que Tessler queria. Os empurrões e os chutes e os "sangue ruim" que nunca realmente o deixaram, incontáveis dias escolares passados no chão de algum corredor chorando por causa de uma azaração que o pegou com força ou, na melhor das hipóteses, chorando com Pomfrey na ala hospitalar. Nem os outros lufanos se importavam com ele. Nem eles falavam com Tessler.

serve & protect, HARRY POTTER UAOnde histórias criam vida. Descubra agora